BRASÍLIA ? Falando como presidente de honra do PSDB, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso saiu em defesa do partido e reclamou da cobertura dada pela imprensa sobre as denúncias de que o presidente nacional da legenda, senador Aécio Neves (PSDB-MG), teria pedido doações via caixa dois para executivos da Odebrecht, durante a campanha de 2014. Em nota, Fernando Henrique classificou de ?mau serviço? parte do noticiário divulgado na quinta-feira e disse que adversários do PSDB difundem ?noticias alternativas? para confundir a opinião pública.
Na opinião do ex-presidente da República, o mais importante foi desconsiderado: o depoimento de Marcelo Odebrecht, dado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em que ele teria relatado que as doações para o PSDB se deram dentro das normas legais. Já o ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura Benedicto Júnior disse, em depoimento ao TSE, que cerca de R$40 milhões dessas doações tiveram como origem o departamento de propinas da Odebrecht.
Veja a íntegra da nota de FH:
?A imprensa é instrumento fundamental da democracia. Usada por quem não é criterioso presta um mau serviço ao país.
Parte do noticiário de hoje sobre os depoimentos da Odebrecht serve de sinal de alerta. Ao invés de dar ênfase à afirmação feita por Marcelo Odebrecht, de que as doações à campanha presidencial de Aécio Neves, em 2014, foram feitas oficialmente, publicou-se a partir de outro depoimento que o senador teria pedido doações de caixa dois para aliados.
O senador não fez tal pedido. O depoente não fez tal declaração em seu depoimento ao TSE.
É preciso serenidade e respeito à verdade nessa hora difícil que o país atravessa.
Ademais, independentemente do noticiário de hoje tratar como iguais situações diferentes, não é o caminho para se conhecer a realidade e poder mudá-la.
Visto de longe tem-se a impressão de que todos são iguais no universo da política e praticaram os mesmos atos.
No importante debate travado pelo país distinções precisam ser feitas. Há uma diferença entre quem recebeu recursos de caixa dois para financiamento de atividades político-eleitorais, erro que precisa ser reconhecido, reparado ou punido, daquele que obteve recursos para enriquecimento pessoal, crime puro e simples de corrupção.
Divulgações apressadas e equivocadas agridem a verdade, e confundem os dois atos, cuja natureza penal há de ser distinguida pelos tribunais.
A palavra de um delator não é prova em si, apenas um indício que requer comprovação. É preciso que a Justiça continue a fazer seu trabalho, que o país possa crer na eficácia da lei e que continue funcionando.
A desmoralização de pessoas a partir de “verdades alternativas” é injusta e não serve ao país. Confunde tudo e todos.
É hora de continuar a dar apoio ao esforço moralizador das instituições de Estado e deixar que elas, criteriosamente, façam Justiça.?