Fillon PARIS – Pressionado por todos os lados, o candidato da direita à eleição presidencial francesa, François Fillon, pediu a seus partidários neste sábado que não se deixem “intimidar”, depois da sangria de apoio na última semana e dos apelos crescentes por sua retirada da disputa.
– Esta campanha é um combate estranho – reconheceu Fillon, em um comício perto de Paris. – Querem intimidar vocês. Não desistam, não renunciem nunca.
Ele fez o apelo em uma reunião na qual também lembrou das linhas gerais de seu programa – redução de impostos e fim da semana de 35 horas de trabalho.
Correndo contra o relógio, Fillon tenta virar a página depois de ter anunciado na última quarta (1º) que poderia ser acusado na Justiça pelo escândalo dos cargos fantasmas de sua mulher, Penelope, e de seus dois filhos.
Segundo um jornal local, Penelope disse ter cumprido “tarefas muito variadas” quando esteve no cargo. Ela também aconselhou o marido a “continuar até o fim”.
Desde então, 194 colaboradores abandonaram o barco, entre eles seu porta-voz e chefe de campanha, Thierry Solère, a apenas sete semanas do primeiro turno eleitoral, em 23 de abril.
Ontem, o partido de centro direita UDI também retirou seu apoio e pediu, “solenemente”, uma mudança de candidato para evitar um “fracasso certo”.
“Não são mais os ratos que abandonam o barco. É o barco que abandona o rato”, ironizou o jornal “Libération”, de esquerda, em editorial deste sábado.
Fillon é suspeito de ter colocado a mulher e dois de seus filhos como funcionários fantasmas quando era parlamentar. Ele admite um “erro”, mas garante que tudo era “legal”.
Na sexta-feira, a polícia fez uma batida em sua mansão na Sarthe (no oeste da França), um dia depois de entrar em sua residência em Paris, informou à “AFP” uma fonte ligada ao caso.
Quem aparece como substituto é o ex-primeiro-ministro Alain Juppé, de 71 anos. Juppé, que perdeu no segundo turno das primárias da direita e de centro, “não fugirá” desde que se respeitem as seguintes condições: que François Fillon se retire por iniciativa própria e que seu partido político, Les Républicains, “o apoie de forma unânime”, afirmou uma pessoa de seu círculo pessoal.
Apesar do ambiente hostil, o ex-primeiro-ministro (2007-2012) se mantém firme e não parece disposto a jogar a toalha. Em um vídeo divulgado ontem, convocou seus correligionários a aderirem em massa a uma manifestação de apoio à sua campanha, neste domingo, no centro de Paris.
Dividido entre partidários e críticos de Fillon, seu partido antecipou em 24 horas a realização de seu comitê político, que acontece nesta segunda-feira à tarde para “avaliar a situação”.
Socialmente conservador e católico fervoroso, Fillon tem o apoio do movimento Manif Pour Tous, que foi várias vezes às ruas contra a legalização do casamento homossexual na França, medida impulsionada pelo atual governo socialista.
Fiel à sua linha combativa – “suicida” para a direita, segundo seus adversários -, Fillon continuou sua campanha neste sábado, mas esse “capitão do Titanic”, como também vem sendo chamado, enfrenta ventos cada vez mais desfavoráveis.
O tempo se esgota para encontrar uma solução alternativa para Fillon. Os candidatos têm até 17 de março para conseguir o apoio de 500 representantes locais necessários para participar das eleições.