Cotidiano

Vice-presidente dos EUA escreve carta aberta a vítima de estupro

biden2.jpg

RIO – Joe Biden, o vice-presidente dos EUA, escreveu uma carta aberta à mulher não identificada que foi vítima de um estupro em Stanford, uma das universidades mais prestigiadas do país, em janeiro de 2015. O caso dela se tornou notícia em todo mundo nesta semana após o estuprador ser condenado a apenas seis meses de prisão, e o pai dele dizer que seu filho não merecia ser punido por um “ato de 20 minutos”.

—-

estupro

“Uma carta aberta para uma mulher corajosa

Eu não sei seu nome, mas suas palavras estão marcadas para sempre na minha alma. Palavras que deveriam ser leitura obrigatória para homens e mulheres de todas as idades.

Palavras que eu gostaria, com todo o coração, que você nunca tivesse que ter escrito.

Eu estou tomado pelo respeito a sua coragem por falar, por tão claramente dar nome aos erros que foram cometidos a você e lutar tão apaixonadamente por seu direito igualitário à dignidade humana.

E estou tomado de uma uma raiva furioso, tanto por isso ter acontecido com você e por nossa cultura ainda ser tão quebrada que você teve que ser colocada numa posição de defender seu próprio valor.

Deve ter sido devastador ter que reviver mais uma vez o que ele fez com você. Mas você fez mesmo assim, na esperança que a sua força pudesse evitar que esse crime acontecesse com outra pessoa. A sua coragem é de tirar o fôlego.

Você é uma guerreira, com uma espinha de aço sólido.

Eu não sei seu nome, mas sei que muitas pessoas falharam com você naquela noite terrível em janeiro e nos meses que seguiram.

Todos os que viram naquela festa que você estava incapacitada, mas olharam para o outro lado e não ajudaram. Todos os que desprezaram o que aconteceu com você como “só mais uma noite louca”. Todos os que perguntaram “o que você achou que ia acontecer quando bebesse tanto?” ou que pensaram que você causou isso.

Uma cultura falhou com você, uma cultura em nossos campi em que uma mulher em cada cinco é atacada sexualmente, ano atrás de ano atrás de ano. Uma cultura que promove a passividade. Que encoraja jovens homens e mulheres a simplesmente olharem para o outro lado.

As estatísticas de ataques sexuais em universidades não caíram nas últimas duas décadas. É obsceno, e é uma falha que está nas nossas costas.

E falharam com você todos os que ousaram questionar o essa verdade clara e simples: sexo sem consentimento é estupro. Ponto final. É um crime.

Eu não sei seu nome, mas graças a você, eu sei que heróis andam de bicicleta.

Aqueles dois homens que viram o que estava acontecendo com você, que trouxeram para si a necessidade de agir, eles fizeram o que sabiam instintivamente ser certo.

Eles não disseram “não é problema nosso”.

Eles não se preocuparam com as implicações sociais ou de segurança de intervir ou o que seus pares iriam pensar.

Aqueles dois homens personificaram o que significa ser um espectador responsável.
Agir de outra maneira, ver um ataque prestes a acontecer e não fazer nada para intervir, te torna parte do problema.

Como digo a alunos de universidades por todo esse país, é nossa responsabilidade. De todos nós.

Todos nós temos a responsabilidade de parar o flagelo que é a violência contra as mulheres de uma vez por todas.

Eu não sei seu nome, mas vi seu espírito inconquistável.

Eu vejo o potencial ilimitado de uma mulher incrivelmente talentosa, cheia de possibilidades.Eu vejo os ombros sobre os quais os nossos sonhos para o futuro se apoiam.

Eu vejo você.

Você nunca será definida pelo que o pai do acusado chamou insensivelmente de “20 minutos de ação”.

O filho dele será.

Eu me junto ao seu coro mundial de apoiadores porque nunca podemos repetir o bastante aos sobreviventes: eu acredito em você. Não é culpa sua.

O que você aguentou nunca, nunca, nunca, NUNCA é culpa de uma mulher.

E embora o sistema judicial tenham falado no seu caso específico, a nação não está satisfeita.

E é por isso que iremos continuar a falar.

Falaremos para mudar a cultura nos nossos campi universitários, uma cultura que continua a perguntar as perguntas erradas: O que você estava vestindo?

Por que você estava lá? O que você disse? Quanto você bebeu?

Em vez de perguntar: por que ele achou que podia te estuprar?

Iremos falar contra aqueles que querem fazer uma negação plausível. Aqueles que sabem que isso está acontecendo, mas não querem se envolver. Que acham que esse crime feio é “complicado”.

Nós falaremos de você, você que permanece anônima não só para proteger sua identidade, mas porque você eloquentemente representa “toda mulher”.

Nós seremos faróis, como você foi, e brilharemos.

A sua história já mudou vidas.

Você ajudou a mudar a cultura.

Você sacudiu incontáveis milhares de seu torpor e indiferença com a violência sexual que permitem que esse problema continue.

Suas palavras vão ajudar pessoas que você nunca conheceu e nunca conhecerá.
Você as deu a força que elas precisam para lutar.

Então, acredito eu, você salvará vidas.

Eu não sei seu nome, mas nunca esquecerei de você.

Os milhões que você tocou com sua história jamais esquecerão de você.

E se todos que compartilharam sua carta nas redes sociais, ou falaram privadamente em suas casas com suas filhas e filhos, usarem a paixão, a raiva e o compromisso que sentem neste momento na próxima vez que houve uma escolha entre intervir e ir embora, então eu acredito que você terá mudado o mundo para melhor”.