Cotidiano

Trump e Hillary lutam contra desaprovação do eleitorado

2016_892809130-201603011519299860_RTS.jpg_20160301.jpgWASHINGTON ? Uma frase que ficou famosa no fim das primárias republicanas, quando restavam na disputa o populista Donald Trump e o ultra-direitista Ted Cruz, parece servir para definir o pensamento de grande parte dos americanos para as eleições presidenciais dos EUA, entre o bilionário e Hillary Clinton: ?Teremos que escolher entre levar um tiro ou sermos envenenados?, disse o senador Lindsey Graham. A alta rejeição ao republicano e à democrata, acima de 50% segundo as pesquisas, muda a lógica da campanha, que poderá ser decidida pela participação ? ou abstenção recorde ? dos eleitores em novembro. Mais que conquistar apoiadores, evitar o ?mal maior? pode ser a chave para definir o novo inquilino da Casa Branca. Hillary X Trump

? A vantagem que cada partido tem sobre o entusiasmo dos eleitores e a participação nas eleições (em um país no qual o voto não é obrigatório) variam e não sabemos como será em 2016. Pode haver um grande grupo de eleitores de ambos os partidos com má vontade com Trump e com Hillary, que podem não sair para votar ? disse Nate Silver, em um debate em seu site sobre projeções políticas, ?FiveThirtyEight?.

Trump é rejeitado por suas propostas ? como construir um muro na fronteira com o México, deportar 11 milhões de imigrantes ilegais ? e por suas frases contra mulheres, muçulmanos e pessoas com deficiência, além de visões polêmicas na política externa, como dotar o Japão e a Coreia do Sul com armas nucleares para fazer frente à Coreia do Norte, e subverter as relações comerciais dos EUA, taxando em 45% os produtos chineses.

?A trapaceira? e ?o enganador?

Já Hillary tem contra ela a rejeição que assola todos os políticos tradicionais, a visão de que ?não é confiável? e que muda de opinião ao sabor das pesquisas ? já foi contrária ao casamento gay e hoje se apresenta como uma das maiores defensoras dos direitos LGBT ?, além do escândalo do uso de servidor particular para e-mails na época em que era secretária de Estado, o que pode ter comprometido a segurança de informações. Alguns a criticam por ter votado a favor da guerra do Iraque e ter sido uma das responsáveis pela desastrada intervenção na Líbia. E há acusações de que foi cruel com mulheres que teriam tido caso com Bill Clinton.

Assim, começam ?a pegar? os apelidos que um candidato está dando ao outro nesta campanha: ?Hillary trapaceira? e ?Trump, o enganador?. Mostra de como a disputa será neste ano.

? Hillary Clinton é a pessoa com o segundo maior nível de rejeição a ganhar uma nomeação de um grande partido para as eleições americanas. A sorte dela é que o primeiro é Donald Trump. As pessoas podem ir às urnas votar para evitar que o candidato mais odiado vença ? disse o cientista político Michael Crovetto, da Cornell University. ? Isso pode, por outro lado, abrir espaço para um candidato de terceiro partido. Gary Johnson (do Partido Libertário) está começando a chamar atenção.

De fato, uma pesquisa da Fox News, divulgada na quinta-feira, que indicava Hillary com 42% das intenções de voto contra 39% de Trump, indica que ambos os postulantes dos dois grandes partidos perdem votos quando o libertário entra na sondagem. A diferença a favor de Hillary se mantém, mas a democrata aparece com 39% das intenções de votos, Trump com 36% e Johnson, 12%. Entretanto, ainda é cedo para saber se estes valores continuam, o levantamento ainda não absorveu totalmente a vitória de Hillary nas primárias, o endosso do presidente Barack Obama e o provável embarque de Bernie Sanders na campanha, previsto para os próximos dias.

? Por causa de Trump, de sua rejeição, acredito que a participação das mulheres nas eleições será muito elevada. Elas sentirão necessidade de votar. Latinos e negros também têm sido alvo de Trump e podem ter participação maior nas urnas. Por outro lado, muita gente não gosta de Hillary. Então, pode haver uma participação eleitoral menor que em 2008 (eleição de Barack Obama) e talvez mais baixa ainda que em 2012.

A mesma pesquisa, da Fox, mostrava que 31% dos americanos não estão interessados nas eleições, contra 27% no mesmo momento da campanha de 2012 e 26% na disputa de 2008.

Obama, se por um lado pode ser um grande cabo eleitoral com 52% de aprovação, pode gerar cansaço para a campanha de Hillary: 63% dos entrevistados, segundo a pesquisa Ipsos/Reuters, indicam que o país está na ?direção errada?.

? Hillary pode ser vista como um terceiro mandato de Obama, e há os desiludidos com o presidente. Muitos pensaram que ele faria uma revolução política, e foi um político relativamente bem tradicional. Estas pessoas podem estar avaliando os riscos de votar em Trump, que promete esta revolução ? afirmou Lara Brown, da George Washington University.

Indira Lakshmanan, colunista e editora de política do ?Boston Globe?, afirmou que, se Hillary tem muitos pontos para criticar Trump, também poderá sofrer com os ataques pessoais e, principalmente, com o questionamento sobre seu ponto forte: sua competência.

? Sua força está na imagem de boa gestora. A decisão dela de apoiar a guerra do Iraque quando era senadora, e depois os problemas da intervenção na Líbia poderão ser armas de Trump.