É contumaz o uso que se faz da liberação do jogo como moeda de troca em diversas demandas do país. Já foi oferecida como antídoto contra o desemprego, estímulo para desenvolver o turismo e até mesmo como ação para reduzir a criminalidade (neste caso, pela visão reducionista de que, ao se tirar uma atividade da clandestinidade, seus aspectos deletérios desapareceriam).
Num momento como este de descontrole orçamentário (regado pelos equívocos do lulopetismo), que arrasta o Brasil para a mais grave crise econômica de sua história, era previsível que também neste campo a jogatina chegasse ao balcão de propostas salvacionistas. Não deu outra.
O tema, com maior ou menor insistência, é recorrente no Congresso, espaço de pressões. O lobby do jogo é conhecidamente um dos mais atuantes no Legislativo. De tal modo que, ao longo dos anos, não se atravessou uma única legislatura sem que estivesse (como agora) em tramitação ao menos um projeto em favor da legalização de apostas e semelhantes. Agora, a cantilena voltou a soar mais forte, cevada pelo argumento de que, liberada, a atividade carrearia para o caixa do Estado quebrado um reforço substancial de arrecadação.
No auge do colapso econômico da gestão Dilma, ano passado, o canto da sereia chegou a embalar ouvidos no Planalto. Pelo menos um ministro, na época, aproximou-se de apadrinhar a ideia. Obstinado no ideário de enfrentar a crise fiscal sem recorrer a remédios amargos, duros mas necessários, o lulopetismo segurou-se na possibilidade de combater a crise com mágicas, um terreno fértil para propostas mirabolantes. E mesmo nos primeiros dias do governo do presidente interino Michel Temer houve vozes do primeiro escalão defendendo o indefensável, sempre ao som do mesmo mantra dos supostos benefícios, para os cofres públicos, da legalização dos jogos de azar.
À parte a realidade de que cassinos e roletas alimentam redes de lavagem de dinheiro ? o que, neste aspecto, faria a legalização, em lugar de abastecer os cofres do Estado, azeitar ainda mais a já eficiente engrenagem clandestina montada pelos chefes da contravenção ?, o jogo não pode ser analisado sem se levar em conta seus outros elementos deletérios.
Em si, eles são fonte de desequilíbrio para famílias, uma vez que dívidas de jogos são uma das mais nocivas causas de endividamento. Há ainda o grave aspecto criminal que o cerca: da clandestinidade, os chefões que controlam as apostas no país recorrem a práticas violentas, à maneira das máfias internacionais (e, de resto, com elas mantêm ligações), para impor seu poder. A legalização do jogo é danosa em todos os aspectos, pois dela só se beneficiam os que o controlam e seus prepostos, em especial os que atuam junto às instituições para mudar as leis do país em favor dessa condenável atividade.