Cotidiano

Pós-escândalo: Volks anuncia plano para investir em elétricos e serviços

WOLFSBURG, Alemanha – A Volkswagen vai investir bilhões de euros em veículos elétricos, caronas compartilhadas e direção autônoma para se tornar uma líder de transporte “verde” até 2025, informou a empresa nesta quinta-feira, dentro do programa chamado de “TOGETHER – Strategy 2025”. Mas a falta de detalhes do plano que seria “o maior processo de mudança na história da empresa”, segundo a própria montadora, deixou alguns analistas com o pé atrás, e as ações da montadora caíram 4,3%. Uma das interrogações é qual será a demanda pelos elétricos.

O anúncio do novo plano, que também inclui a integração de negócios que atualmente empregam 67 mil pessoas em 26 localidades pelo mundo, busca repaginar a imagem da companhia, fortemente afetada pela revelação, em setembro último, das fraudes de emissões de poluentes em veículos movidos a diesel. O escândalo chegou a atingir 11 milhões de veículos mundialmente.

— Os anúncios da VW parecem ótimos no papel, mas ninguém pode dizer com certeza como se desenvolverá a demanda por transporte elétrico — afirmou o analista do Commerzbank, Sascha Gommel, cuja recomendação do analista para as ações da montadora alemã é de “espera”. — Há elementos conceituados nos planos, mas também é provavelmente um exercício de marketing da VW para dizer ao público que eles entenderam o recado — acrescentou, em referência ao escândalo das emissões.

A companhia já resguardou US$ 18 bilhões para cobrir custos com reparos dos veículos afetados e acordo com autoridades americanas. Analistas esperam mais multas e despesas para solucionar o caso.

O escândalo levantou dúvidas para todo o mercado de veículos a diesel, que responde por cerca de metade das vendas de novos veículos na Europa, e aumentou a pressão sobre cortes de custos na Volkswagen, que fica para trás em rentabilidade diante de concorrentes.

A multinacional pretende “transformar sua atividade principal no setor automobilístico ou, para dizer de outro modo, fazer um realinhamento fundamental para se preparar a uma nova era de mobilidade”, afirmou o CEO da empresa, Matthias Müller, ao apresentar a nova estratégia do grupo. A montadora quer se concentrar nos “segmentos mais atrativos e de crescimento mais rápido do mercado”, completou o executivo.

— Daremos ênfase especial à mobilidade elétrica. O grupo prepara uma iniciativa muito ampla nessa área: nos próximos dez anos, lançará mais de 30 tipos de veículos impulsionados exclusivamente por baterias elétricas — anunciou.

A VW, que até agora nunca se destacou no setor de veículos elétricos, estima agora que em 2015 eles poderão representar “de 20% a 25% de suas vendas mundiais de carros de passageiros”, segundo Müller. Serão fabricados neste período “de dois a três milhões” de unidades, informou o grupo.

Sem destaque no segmento, entre os quase 10 milhões de veículos vendidos em 2015 – entre carros de luxo das marcas Audi e Porsche e mais populares Skoda e Seat –, foram produzidos apenas 67 mil carros totalmente ou parcialmente elétricos.

SERVIÇOS E DIREÇÃO AUTÔNOMA

A companhia também disse que investirá em negócios de serviços que englobam áreas como pedidos de corrida e compartilhamento de caronas, na expectativa de gerar bilhões de euros em vendas até 2025. O grupo já havia dado um passo nessa direção, com o recente investimento de US$ 300 milhões na empresa israelense Gett da Uber. O setor dos serviços de mobilidade representa um mercado “de € 35 bilhões, e queremos aproveitá-lo”, declarou Müller.

A VW também pretende contratar mais 1 mil engenheiros de software para ajudar no desenvolvimento de direção autônoma e tecnologias de bateria. Müller afirmou que a transformação exigiria um investimento “bilionário de dois dígitos”, financiado por uma unidade de eficiência destinada a entregar cerca de € 8 bilhões em economias anuais.

VENDA DE ATIVOS

VW disse que abordaria a complexidade dos planos em partes, o que inclui uma revisão da carteira de ativos e marcas que os observadores da indústria disseram que poderia levar à venda de empresas “não centrais”, como as motos Ducati ou os negócios de motores a diesel para máquinas.

No entanto, o diretor executivo deu poucos detalhes, afirmando que essas passos seriam anunciados no momento devido.

Müller reafirmou as intenções de investimento e expansão na América do Norte e na China, acrescentando que o mercado chinês será o principal para os novos carros elétricos. Ele disse que a empresa está em negociações com possíveis parceiros para fomentar sua posição no mercado automobilístico da China.