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Rio-2016 fez manobra para encobrir rombo de R$ 129 milhões, diz jornal

nuzman_reuters.jpgO Comitê Rio-2016, responsável pela organização dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio, usou de uma manobra contábil para fechar o ano de 2015 com as contas no azul, segundo reportagem da “Folha de S.Paulo”. Um repasse que deveria ter sido feito para o Comitê Olímpico do Brasil (COB) no ano passado foi adiado, o que serviu para encobrir um rombo de R$ 129 milhões. Com a manobra, o Rio-2016 apresentou no balanço de 2015 um superávit de R$ 17 milhões. O presidente do comitê organizador e do COB é o mesmo, Carlos Arthur Nuzmann, o que é inédito em Olimpíadas.

Ainda de acordo com a reportagem, não há ilegalidade no processo. Isso porque trata-se de iniciativa privada. Se fosse com dinheiro público haveria problema, segundo economista ouvido pelo jornal. A reportagem faz uma comparação com as pedaladas fiscais que justificaram o processo de impeachment contra a presidente afastada Dilma Rousseff.

Por força de contrato, o comitê organizador tem que repassar ao COB e ao Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) 12% do faturamento com marketing, como forma de compensação pelo fato de COB e CPB abrirem mão de buscar contratos com marcas que possam ser concorrentes aos patrocinadores e apoiadores dos Jogos. O percentual da compensação é de 12% até que seja atingida a marca de US$ 60 milhões em captação de patrocínios. A partir desse valor o repasse, feito semestralmente, reduz para 8%.

No balanço do Rio-2016 do ano passado o valor da remessa ao COB – que não foi feita -, de R$ 146,3 milhões, entra como receita. Como ela não deu saída, ou seja, não foi paga como deveria, acabou gerando o saldo positivo nas contas de R$ 17 milhões, explica a reportagem da Folha. A manobra ocorreu apenas com o repasse devido ao COB, de Nuzman. Ao CPB e ao Comitê Olímpico Internacional (COI), que também tem direito, foi feito.

A reportagem informa ainda que houve um acordo entre Rio-2016 e COI para alterar o cálculo do quanto deve ser pago especificamente ao Comitê Olímpico do Brasil. Diferente de CPB e COI, o pagamento ao COB passou, segundo a renegociação datada de 31 de dezembro de 2015, a ter como base um valor fixo a ser atualizado a cada 12 meses pelo IPCA, índice oficial de correção da inflação no país. O acordo já incidiu sobre a dívida de R$ 146,3 milhões do Rio-2016 com o COB. Ela caiu para R$ 56 milhões. Diz a matéria da Folha: “não há nota explicativa de evento posterior que explique a contabilidade realizada”. O jornal também relata que “o COB não apontou o não pagamento como perda, como deveria ter sido feito”.

Segundo om consultor de gestão esportiva ouvido pela reportagem, não há irregularidade do ponto de vista técnico na operação. Mas ela fez com que o esporte brasileiro deixasse de ter mais investimento e recebesse maior aporte financeiro em ano olímpico.

O comitê Rio-2016 explica na reportagem que “está cumprindo com o aporte ao Comitê Olímpico do Brasil previsto no dossiê de candidatura” e que “o Rio-2016 segue com o objetivo de garantir que os Jogos sejam realizados sem o aporte de recursos públicos e, portanto, sem onerar a sociedade”. Em relação especificamente às movimentações financeiras do comitê, o Rio-2016 argumenta que elas “são diariamente monitoradas por uma equipe de compliance e submetidas a auditoria externa”.