BRASÍLIA E SÃO PAULO ? Executivos da Odebrecht relataram na negociação de suas delações premiadas que a empreiteira pagou despesas pessoais da presidente afastada, Dilma Rousseff, que permitiram a ela cuidar da própria imagem. Entre as despesas está o cachê do cabeleireiro Celso Kamura, conforme revelado na sexta-feira pelo colunista do GLOBO Merval Pereira. Investigadores da Lava-Jato tratam com cautela a informação, porque não há certeza de que a construtora vai incluir ou detalhar a informação nas próximas fases do processo de colaboração.
Na negociação, os diretores da Odebrecht afirmaram que valores relacionados à imagem da presidente foram repassados ao marqueteiro João Santana, que se responsabilizou pelo pagamento dos profissionais e serviços contratados. Mônica Moura, mulher de João Santana, já afirmou nas negociações de sua delação premiada que o casal recebeu pagamentos da Odebrecht por caixa dois (recursos não contabilizados pela campanha).
Para integrantes da força-tarefa da Lava-Jato, no entanto, mesmo que a Odebrecht inclua a informação nas próximas fases da delação, serão necessários mais elementos para que seja possível abrir inquérito para investigar o favorecimento pessoal de Dilma.
Uma das possibilidades cogitadas é a delação de João Santana e de Mônica Moura. Caso os dois confirmem o caso ou surjam novos documentos que comprovem o que foi dito pela Odebrecht, a investigação poderá avançar.
? Criminalmente, é necessário que haja mais elementos para que seja aberto um inquérito ? explicou um investigador com acesso à negociação com a Odebrecht.
Atualmente, os cerca de 50 executivos da Odebrecht que se propuseram a fazer a delação estão na fase de negociação. A próxima etapa será a entrega dos anexos da colaboração, quando é feita uma síntese de cada um dos pontos prometidos na negociação. Só depois disso são colhidos os depoimentos, para que a delação seja homologada pelo Supremo Tribunal Federal.
KAMURA DIVULGA NOTA
Em São Paulo, o cabeleireiro Celso Kamura informou, por nota, que os serviços prestados a Dilma Rousseff eram pagos pela própria presidente e pela agência Pólis, de propriedade de João Santana, responsável pelas campanhas de Dilma em 2010 e 2014 e preso pela Lava-Jato. O marqueteiro e a mulher dele, Mônica Moura, respondem a processo por corrupção e lavagem de dinheiro por terem recebido dinheiro da Odebrecht dentro e fora do país.
Segundo a nota de Kamura, os ?deslocamentos e atendimentos de corte e coloração prestados à presidente afastada Dilma Rousseff, mensalmente ou bimestralmente, foram contratados e pagos pessoalmente por ela?. Quando os serviços tinham o objetivo de preparar Dilma para pronunciamentos oficiais e campanhas eleitorais, cabia à empresa de Santana pagar pelo serviço e por passagens e hospedagem, de acordo com o cabeleireiro.
Na sexta-feira, o colunista Merval Pereira informou que cada ida do cabeleireiro ao Planalto custava R$ 5 mil. ?O valor cobrado para cada trabalho realizado foi muito inferior ao citado nas referidas notícias?, afirmou Kamura, em nota.
Pessoas próximas ao cabeleireiro contam que ele cobrava R$ 1 mil da presidente pelo corte e pelo tingimento do cabelo quando a atendia em caráter pessoal. Dilma pagava em dinheiro ou cheque pessoal. Os valores cobrados eram maiores quando Kamura viajava para atendê-la em campanhas ou pronunciamentos.
Na nota, o cabeleireiro acrescentou que ?foram emitidas notas fiscais para todos esses trabalhos (prestados para empresas de Santana), devidamente declaradas ao Fisco, estando totalmente de acordo com a legislação brasileira?. ?Celso Kamura sempre se pautou pela transparência e clareza em toda a sua trajetória profissional?, concluiu a nota.
? É uma vinculação direta. Não tem nada mais direto do que gasto de ordem pessoal. Não é possível que ela vá alegar que não sabe quem pagou o cabeleireiro ? afirmou o líder do DEM, Ronaldo Caiado (GO).
A senadora Ana Amélia (PP-RS) avalia que a informação poderá influenciar votos na Casa pelo afastamento definitivo de Dilma. Ela acredita que novos dados poderão surgir.
? Isso revela que vamos certamente chegar cada vez mais perto. Espero que a Lava-Jato mostre tudo que ocorreu, e claro que isso terá influência sobre o julgamento aqui no Senado ? afirmou Ana Amélia.
O senador petista Lindbergh Farias (RJ), por sua vez, disse acreditar que a informação é falsa, e que será preciso apresentar provas da informação.
? Tenho certeza de que isso é mentira. Quero ver se tem alguma prova. A presidente Dilma é uma pessoa honrada que foi afastada por uma quadrilha parlamentar ? afirmou.