O médico-veterinário Wanderlei de Moraes transformou o trabalho de conservação da fauna do Refúgio Biológico Bela Vista (RBV), de Itaipu Binacional, em referência no mundo inteiro. Sua dedicação profissional é reconhecida por técnicos e especialistas do setor e também pelos amigos que conquistou numa jornada de mais de 30 anos de muito respeito e credibilidade. O desligamento da empresa ocorreu na segunda-feira (3).
Wanderlei deixa um grande legado. Ele foi um dos principais protagonistas da revitalização do refúgio – cuidou pessoalmente de cada detalhe, das instalações hidráulicas até intervenções nas vias. Viu nascer o primeiro hospital veterinário sustentável do mundo e o RBV se tornar o primeiro modelo de arquitetura sustentável do Brasil e da América Latina.
Mestre e doutor pela Universidade Federal do Paraná na área em que atua, a importância de Wanderlei no contexto ambiental pode ser medida pela sua participação em diversas entidades de conservação. Ele fez parte, por exemplo, do Comitê da Ararinha Azul, espécie de ave extinta na natureza. Assinou, com outros autores, o livro Plano de Ação Nacional para a Conservação das Aves de rapina do ICMBio. Integrou comissões do Instituto Ambiental do Paraná e do Ibama. Faz parte da Comissão Nacional do Meio Ambiente do Conselho Federal de Medicina Veterinária.
Trabalhos na Itaipu
Entre os principais trabalhos em Itaipu, foi um dos responsáveis pela primeira inseminação artificial do mundo de uma espécie do gato-do-mato-pequeno, que nasceu no hospital veterinário do refúgio.
Montou e participou de vários grupos de estudo e pesquisa em todo o Brasil. Seu trabalho em parceria com o biólogo Marcos de Oliveira é reconhecido na obra "Projeto Harpias – 20 anos. Uma Jornada de Conservação", lançada em outubro.
Juntamente com Oliveira, montou o projeto de reprodução de harpias na Itaipu, buscando inspiração nas melhores iniciativas existentes na época sobre o tema. Com base nessas pesquisas, criou um sistema de manejo que resultou no maior criadouro na atualidade de harpias do mundo. Essas aves carregam em seu DNA a esperança de um plantel maior e mais seguro para o futuro da espécie.
O próprio Wanderlei participou do batismo da neta da primeira fêmea doada pelo zoológico de Brasília e do neto do primeiro macho apreendido pela Polícia Ambiental. E sua “filha” mais rara nasceu há dois anos: a onça-pintada melânica Cacau. Fruto de mais de 14 anos de tentativas de reprodução de onças no Refúgio, Cacau será integrada ao zoo de Itaipu em Hernandárias, como símbolo da binacionalidade.
Para o biólogo Marcos José Oliveira, mais do que a convivência, trabalhar com Wanderlei foi uma cumplicidade, uma grande aprendizagem. Oliveira entrou no refúgio como auxiliar do mestre e aos poucos se tornaram grandes amigos. “Vou sentir falta de Wanderlei como profissional e amigo”, diz.
Depois de tantos anos de dedicação, o médico-veterinário diz que vai se dedicar a sua espiritualidade e conduzir seu tempo a sua própria maneira. Desapegado, Wanderlei diz que seu legado maior “é entregar sua vaga e deixar com que o destino coloque nela uma pessoa que venha a fazer algo importante para a conservação da fauna, como eu fiz”.