Cotidiano

APS adverte para risco de ?quebradeira? na suinocultura

Preços elevados contribuem para tornar mais difícil a manutenção do setor

Curitiba – Uma conjugação de fatores associada à falta de habilidade de sucessivos governos coloca, mais uma vez, a suinocultura em estado de alerta. Por um lado, o câmbio que valoriza as commodities e de outro preços elevados que contribuem para tornar mais difícil a manutenção do setor, já que a ração proveniente do milho é vital para os planteis.

Diante dos riscos, a APS (Associação Paranaense de Suinocultores) emitiu nota e tenta, por meio de articulações, sensibilizar autoridades e governo quanto a uma política efetiva de abastecimento que deixe setores mais protegidos contra a forte valorização da moeda norte-americana e de seus impactos.

O elevado preço da saca, no entanto, não é o único desafio. A APS informa que o alto valor coincide com a baixa oferta e, consequentemente, com outra etapa de gradual redução dos preços do suíno vivo. Poucos ramos têm sido, nos últimos anos, tão suscetíveis à variação cambial e à inexistência de uma política consistente e de longo prazo de abastecimento como a suinocultura.

Em contato com o secretário de Estado da Agricultura, Norberto Ortigara, diretores da APS pediram para que ele reforce solicitação já encaminhada ao órgão de garantir a disponibilização de pelo menos 600 mil toneladas de milho para a suinocultura, emergencialmente.

Regularização

A Associação Paranaense de Suinocultores informa que o governo federal deve lançar mão de parte de seu estoque para que preço e abastecimento sejam regularizados. O temor de suinocultores e de todos que de uma forma ou outra estão ligados à cadeia da suinocultura é de a área ter de enfrentar novamente o grave cenário de 2012.

A valorização do dólar é benéfica às commodoties é à balança comercial brasileira, mas apresenta desafios enormes a outros, a exemplo do que ocorre com os produtores de proteínas que estão no fim da cadeia produtiva.

“Já passou da hora dos setores de carnes exigirem do governo federal uma política séria e eficiente de mitigação dos riscos do mercado de grãos”, diz um dos maiores especialistas em cadeia de proteína animal do Brasil, Fabiano Coser.

A APS também reclama da pouca efetividade das investidas do governo na tentativa de equilibrar o cenário de atividades econômicas importantes ao País. Além do apelo, a nota da Associação tem tom de alerta:

“A persistir esse quadro, com grandes chances de se agravar, e caso nada seja feito, além dos pequenos e médios produtores, também os pequenos e médios frigoríficos abandonarão a atividade e fecharão seus negócios, causando grande desemprego na área rural e nas cidades onde estão instalados”.

Em uma época de crise, de demissão de 1,5 milhão de brasileiras que tinham carteira assinada em 2015, o cenário informado exige cautela, discernimento e coerência por parte da União.

Ruim também à avicultura

A inexistência de uma política cuidadosa para evitar o repentino fortalecimento de um e o enfraquecimento de outro setor econômico traz consequências a toda a economia.

A Associação Paranaense de Suinocultura enxerga riscos muito além da área que representa. A forte valorização do dólar, que estimula a exportação de grãos, deixa outra área igualmente importante na mesma situação de fragilidade, é a da avicultura.

Na semana passada, conforme a APS, houve valorização do milho em praças de peso do Paraná, de mais de 3%. Em contrapartida, há recuo do preço do quilo do suíno vivo, na casa dos R$ 3.

Ao mesmo tempo em que testa os nervos de quem investe nos ramos da proteína, a atualidade de preços diante do dólar forte gera expectativa de desemprego na cidade e a descapitalização de famílias de pequenos agricultores que dependem da atividade em suas propriedades.

Setor precisa mais do que um leilão

Na tentativa de apaziguar ânimos no setor, o governo federal agendou para segunda-feira, 1º, leilão de 150 mil toneladas de milho. No entanto, especialistas dizem que medidas tão pífias não terão qualquer impacto na formação, contenção ou eventual redução de preços do milho.

O ex-diretor técnico e executivo da ABCS, Associação Brasileira de Criadores de Suínos, Fabiano Coser, informa que a quantia anunciada é pouco superior à média diária apenas para a alimentação animal, hoje na casa das 120 mil toneladas. A previsão apenas para 2016, conforme estimativas do Sindirações, o Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal, é que serão necessárias 43 milhões de toneladas do grão.

(Com informações de Jean Paterno)