Cascavel e Paraná - Elas nascem pequenas, quase invisíveis. Carregam o sonho nas costas e o colocam em marcha, grão por grão. São as formiguinhas da economia — os micro e pequenos empreendedores — que, mesmo sem alarde, sustentam a engrenagem do desenvolvimento local. Em Cascavel, no Paraná e em todo o Brasil, são elas que constroem, com persistência e suor, o alicerce de uma economia viva, pulsante e, sobretudo, humana.
A força do trabalho formiguinha
Até agosto de 2025, 67,8% dos postos de trabalho criados no Paraná nasceram dentro de pequenos negócios. Foram 108.778 vagas abertas — um número que confirma o papel dessas empresas como motor de inclusão social e geração de renda.
“Os pequenos negócios são, de fato, um motor de transformação social e econômica: geram renda local, impulsionam o consumo e fortalecem o tecido produtivo regional”, explica Rubens Palma Filho, coordenador de políticas públicas do Sebrae/PR.
No Estado, o setor de Serviços lidera essa movimentação, com mais de 37 mil contratações só nos primeiros oito meses do ano. Na sequência vêm a Indústria de Transformação, o Comércio e a Construção Civil — setores que, juntos, moldam o crescimento e a diversificação econômica paranaense.
O formigueiro de Cascavel
Em Cascavel, o formigueiro é intenso. Segundo levantamento da Receita Federal atualizado em outubro de 2025, o município tem 66.823 empresas ativas — o que equivale a uma empresa para cada cinco habitantes. Desse total, 89% são micro e pequenos negócios, com destaque para os 28.265 MEIs (microempreendedores individuais) e 25.758 microempresas (ME).
A maioria dessas empresas — 53,2% — já ultrapassou os três anos e meio de vida, uma marca que revela maturidade e resiliência. Mesmo assim, o caminho é desafiador: 41,8% das empresas fecham antes de completar cinco anos, vítimas de um ambiente competitivo e de dificuldades em gestão, crédito e inovação.
Ainda assim, o saldo é positivo. Somente em 2025, 11.536 novas empresas foram abertas em Cascavel, contra 5.853 encerramentos, resultando em 5.683 novos CNPJs no mapa da cidade. É o retrato de uma economia que, mesmo diante dos desafios, segue marchando — como um exército de formigas determinado a reconstruir o futuro todos os dias.
Um trabalho coletivo e silencioso
A metáfora das formigas se encaixa perfeitamente no cotidiano dos micro e pequenos empreendedores. Cada uma carrega sua parte — uma ideia, uma loja, uma cozinha, um aplicativo — e, juntas, constroem algo maior que a soma de seus esforços individuais.
“Temos em Cascavel um ecossistema cada vez mais estruturado para apoiar esses negócios. Atuamos com projetos voltados à indústria, ao comércio, ao agronegócio, à inovação e também à educação empreendedora. Nosso foco é ajudar o empreendedor a transformar a ideia em resultado, com planejamento e viabilidade”, destaca Danieli Doneda, consultora do Sebrae/PR.
Segundo ela, o Sebrae atua desde a base da formação empreendedora até a consolidação das empresas, com cursos, consultorias e programas de liderança empresarial. “O objetivo é fortalecer a gestão e aumentar as chances de sucesso. Afinal, ninguém cresce sozinho — e o empreendedorismo é, acima de tudo, um movimento coletivo”, completa.
O impacto que reverbera no Brasil
O movimento das pequenas empresas não se limita ao Paraná. No cenário nacional, 84,5% das contratações registradas em agosto de 2025 foram feitas por micro e pequenas empresas — 147,3 mil empregos em um único mês.
De janeiro a agosto, o saldo já chega a 982,9 mil vagas abertas pelas MPEs. O setor de Serviços responde por mais da metade dessas oportunidades, seguido pelo Comércio e pela Construção Civil, áreas que fazem girar o consumo e a infraestrutura do país.
Para o presidente do Sebrae, Décio Lima, a força desse segmento está na criatividade e na persistência dos empreendedores brasileiros. “Os pequenos negócios são o grande motor propulsor do desenvolvimento do nosso país, que gera emprego e renda para que a população tenha mais dignidade. Viva os pequenos negócios!”, disse em recente pronunciamento.
Novas trilhas e novos limites
O formigueiro também está se expandindo no papel — com novas regras para o enquadramento de MEIs e empresas do Simples Nacional. A proposta, já debatida no Congresso e aprovada pela Câmara, aumenta o teto anual do MEI para R$ 144 mil e o das microempresas para R$ 869 mil. No caso das empresas de pequeno porte, o limite sobe para R$ 8,69 milhões.
A mudança pretende atualizar parâmetros defasados há quase uma década, permitindo que os pequenos cresçam sem precisar migrar prematuramente para regimes tributários mais complexos. É como se as formigas ganhassem espaço para carregar mais, sem perder sua essência coletiva.
Quando o pequeno é imenso
As micro e pequenas empresas não apenas movimentam números — elas movem histórias. São os salões de beleza que ensinam uma profissão, as marcenarias que passam o ofício de pai para filho, os cafés que reúnem a comunidade, os desenvolvedores que criam soluções locais com impacto global.
Cascavel é hoje um mosaico dessas pequenas epopeias. A cidade cresce, mas quem constrói cada metro desse crescimento é o pequeno empresário que abre a porta cedo, atende o cliente pelo nome e fecha o caixa com a sensação de dever cumprido.
O Paraná, por sua vez, mostra que prosperidade não é obra do acaso, mas da soma de milhares de vontades. E o Brasil, quando olha para as suas formiguinhas empreendedoras, reconhece nelas o verdadeiro milagre econômico do cotidiano.
Porque são elas — discretas, determinadas e incansáveis — que continuam carregando o peso do futuro nas costas.