Hoje Express traz relatos de moradores sobre a situação crítica do Cemitério São Luiz e a falta de manutenção - Foto: Foto: Paulo Alexandre/O Paraná
Hoje Express traz relatos de moradores sobre a situação crítica do Cemitério São Luiz e a falta de manutenção - Foto: Foto: Paulo Alexandre/O Paraná

Cascavel e Paraná - Há alguns dias, a redação do Hoje Express recebeu pelo menos quatro ligações de leitores indignados com o estado do Cemitério São Luiz, no Bairro São Cristóvão. Entre as queixas, o roubo de placas de bronze, a consequente depredação das lápides e a sujeira generalizada.

“É um desrespeito com os nossos entes queridos e também com a gente. Já temos a dor da perda e ainda temos que ver o túmulo vandalizado, tudo sujo. A gente faz a nossa parte, e a Prefeitura?”, desabafou uma leitora.

Outro morador lembrou que o zelo não deveria ter data marcada. “A gente paga imposto o ano inteiro, não só no Dia de Finados. E também não foi de graça para ter o nosso espaço lá”, completou, resumindo o sentimento coletivo: limpeza e cuidado não deveriam apenas antes de 2 de novembro, na visão do contribuinte.

Foto: Paulo Alexandre/O Paraná

Cemitérios cheios, paciência curta

Entre cruzes, flores e histórias, os cemitérios de Cascavel estão cada vez mais lotados — restam pouco mais de 6 mil sepultamentos possíveis antes que a cidade atinja a ocupação total dos campos santos urbanos. À frente da Acesc há menos de um mês, o superintendente Rômulo Quintino e o diretor Odejalma Cordeiro detalharam ao Hoje Express os principais desafios da gestão: falta de segurança, jazigos abandonados, cemitérios saturados e a urgente necessidade de novas áreas.

Ex-secretário do Meio Ambiente e ex-vereador (e “quase deputado estadual”), Quintino reconhece que a nova função é de natureza distinta. “A Acesc tem uma gestão mais humana, no momento mais difícil das pessoas. Escolhi vir para cá porque entendo que é um perfil mais sensível, de poder ajudar nesse momento de maior dor.”

Quase lotados: A matemática da eternidade

Cascavel possui quatro cemitérios urbanos e 28 no interior — além de um quinto particular na cidade. Segundo a Acesc, dois deles, o Central e o São Luiz, já estão completamente ocupados. “No Central não há mais espaço. Às vezes há devoluções pontuais, mas são raras. O São Luiz também está lotado”, afirma Quintino.

A alternativa tem sido o Cemitério Cristo Redentor, onde há espaço para cerca de mil novos jazigos, podendo chegar a 1.800 após adequações ambientais. Outro projeto prevê ampliação do Jardim da Saudade, no Guarujá, com mais 600 túmulos.

Enquanto isso, no Cemitério Central estão sendo construídos 63 novos jazigos com espaço para seis sepultamentos cada — boa parte já vendida. A entrega deve ocorrer logo após o feriado de Finados. Além disso, estuda-se um novo cemitério urbano na região norte. “Esse é um dos principais desafios. Estamos analisando áreas para futura desapropriação e ampliação”, revela o superintendente.

Na zona rural, a Câmara aprovou a criação de um cemitério no distrito de São Francisco, em terreno doado por moradores do assentamento local. “O terreno já foi doado e o projeto prevê muros, capela e urbanização básica. A parte legal está sendo finalizada”, detalha.

Segurança: Descanso eterno inseguro

Enquanto falta espaço, sobra preocupação. O furto de placas de bronze e alumínio virou rotina — e não só nos cemitérios. “É um problema generalizado nas repartições públicas, agravado pelo efetivo reduzido da Guarda Municipal e da Guarda Patrimonial”, reconhece Quintino.

Para conter o vandalismo, a administração planeja instalar câmeras de monitoramento e cercas perimetrais (elétricas). “Vamos buscar apoio dos vereadores por meio de emendas impositivas”, explica o superintendente, otimista como quem tenta manter a fé em meio ao problema crescente.

O diretor Odejalma Cordeiro reforça que a conscientização dos familiares também ajuda. “Temos orientado as famílias a evitar o uso de bronze. Existem alternativas como aço escovado, louça ou material plástico — ficam bonitos e não chamam tanto a atenção dos ‘colecionadores’ de metal.”

Jazigos abandonados: Quando os vivos não lembram dos mortos

A Acesc também enfrenta um problema crescente: túmulos em completo abandono. “No Cemitério Central identificamos cerca de 540 nessa situação. Em toda a cidade, são quase 2 mil jazigos deteriorados”, informa Cordeiro.

Um chamamento público tenta localizar as famílias para regularização. “Muitos dizem que está tudo em ordem, mas quando visitamos o local, o túmulo está sem revestimento, quebrado, tomado pelo mato”, lamenta.

Quintino lembra que, pela legislação, o terreno é uma concessão e deve ser recadastrado a cada cinco anos. “Se a família não faz a manutenção e o pagamento, o município pode retomar. Além de legal, há a necessidade de espaço”, esclarece, com a frieza burocrática de quem sabe que até a eternidade tem prazo de validade.

Foto: Paulo Alexandre/O Paraná

Memória e desativação: Onde o tempo parou

Outra frente de trabalho é a desativação do Cemitério da Linha Castelo, no interior, sem sepultamentos há mais de 20 anos. “O local está abandonado, mas descobrimos pioneiros de Cascavel e Três Barras sepultados ali, e até expedicionários. Estamos catalogando famílias e estudando um memorial”, conta Quintino.

Mais de 20 famílias já procuraram a Acesc em busca de informações. “Há famílias com oito a dez pessoas sepultadas lá — praticamente uma geração inteira”, observa Cordeiro, lembrando que até a história, quando esquecida, precisa de um túmulo digno.

Dignidade sem custo

Nem só de reclamações vive a Acesc. Todos os meses, cerca de 40 sepultamentos gratuitos são realizados para pessoas em vulnerabilidade social. “O serviço é custeado pela Prefeitura e garante um funeral digno, com capela e todo o atendimento necessário”, explica Cordeiro. Cada serviço custa em média R$ 3 mil — algo entre R$ 100 mil e R$ 120 mil mensais, o que totaliza cerca de R$ 1,8 milhão por ano.

Após três anos, os restos mortais são transferidos para o ossário municipal, no Jardim da Saudade. “Hoje temos cerca de 2 mil conjuntos armazenados, com capacidade para até 4 mil”, detalha.

Olhar para o futuro (e para o além)

Com orçamento anual em torno de R$ 7 milhões, a Acesc busca equilibrar arrecadação e investimento em infraestrutura, tecnologia e preservação da memória. “Estamos construindo um modelo de gestão que combine respeito, modernização e cuidado permanente com os espaços”, garante Quintino. “Nosso desafio é que os cemitérios sejam locais de paz e dignidade — não apenas no Dia de Finados, mas durante todo o ano.”

Além disso, ainda sem nada concreto em mãos, a Acesc prevê a necessidade de um Crematório Municipal. “Claro que é uma questão de futuro, uma necessidade de futuro e no momento oportuno a gente vai se debruçar sobre o tema”, disse o superintendente.

E vale lembrar, o “futuro” chega para todos e haverá necessidade de um lugarzinho no campo santo ou um agendamento no crematório.