Cotidiano

Voo 2283: Um ano da tragédia que mudou a história da aviação e a vida de muitas famílias

Reviva a tragédia do Voo 2283, onde a queda do ATR72-500 deixou 62 mortos e impactou famílias em Vinhedo - Foto: Reprodução/Alisson Sales/Getty Imagens
Reviva a tragédia do Voo 2283, onde a queda do ATR72-500 deixou 62 mortos e impactou famílias em Vinhedo - Foto: Reprodução/Alisson Sales/Getty Imagens

São Paulo - Sexta-feira, dia 9 de agosto de 2024, 13h22. Há um ano, os 81 segundos em que o ATR72-500 da Voepass teve em queda ao perder o controle e cair em um condomínio de chácaras na cidade de Vinhedo, em São Paulo, mudou a história da aviação civil e de dezenas de famílias com a morte das 62 pessoas que estavam a bordo, sendo 58 passageiros e quatro tripulantes. O voo saiu às 11h58 do Aeroporto Regional de Cascavel com destino a Guarulhos, mas por problemas que ainda não foram identificados acabou caindo e deixando marcas que jamais serão esquecidas.

A notícia caiu como uma verdadeira bomba nas redações de jornalismo de todo o país e o que todos se perguntavam: quem eram as pessoas que estavam a bordo? A dúvida surgiu, já que muitos passageiros tinham comprado a sua passagem pela Latam Linhas Aéreas, mas ela tinha o chamado “codeshare” – que é quando tem parceria com outra empresa para fazer o voo – o que ocorreu naquele dia. Pelo menos dez pessoas com passagem não conseguiram embarcar no voo porque estavam esperando no portão errado.

Relembre

Logo na primeira hora após a notícia se espalhar, familiares lotaram o saguão do Aeroporto Regional em busca de informações, mas a lista oficial saiu apenas no fim da tarde. A partir de então, um trabalho minucioso iniciou na área da queda para a retirada dos corpos, que foram levados ao Instituto Médico Legal Central, em São Paulo, para os devidos procedimentos.

No dia 11 de agosto, foi informado que todos os corpos haviam sido removidos do local do acidente e que os destroços foram entregues ao CENIPA para investigação. Pessoas que viajavam a trabalho, lazer, encontrar outros familiares naquela antevéspera do dia dos pais.

Dos 62 passageiros mortos, 27 deles eram moradores de Cascavel.

Em 12 de agosto, a Polícia Técnico-Científica de São Paulo afirmou que as vítimas da queda do avião em Vinhedo morreram de politraumatismo e a eventual carbonização de alguns corpos em decorrência do incêndio se deu após suas mortes. Em 20 de agosto, a Câmara dos Deputados criou uma comissão externa para acompanhar as investigações sobre o acidente.

Um ano

Neste sábado (9), um ano após a tragédia, a Associação dos Familiares das Vítimas do Voo 2283 realizará um “Ato Ecumênico em Homenagem às Vítimas do Voo 2283”, marcando o primeiro ano desde a tragédia que mudou tantas vidas. Ao todo, serão mais de 400 familiares, amigos e moradores de Vinhedo. O evento contará com a participação de autoridades envolvidas nas investigações e apoio às vítimas, além de lideranças religiosas, representantes da sociedade civil e convidados especiais.

A homenagem será realizada na sede da Ibaviva, das 8h30 às 13h com uma programação extensa, com as homenagens às famílias e autoridades, plantio de árvores. A ação será finalizada com o círculo na árvore em que o grupo de mãos dadas fará uma roda final em forma de força para relembrar a tragédia e seguir em frente. Aliás, um grupo unido que passou a trabalhar desde o dia do acidente, buscando pela Justiça e cobrando pelos culpados da queda do avião – que ainda continua em investigação.

Cassada

A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) cassou em junho deste ano, 10 meses após o acidente, o Certificado de Operador Aéreo da Voepass Linhas Aéreas – após uma investigação que apontou falhas graves no cumprimento de normas de segurança operacional. Ela realizou, entre agosto do ano passado e março deste ano, 2.687 voos com aeronaves fora das condições mínimas exigidas de manutenção, com falhas em protocolos internos, incluindo planejamento e execução de inspeções obrigatórias em pelo menos sete aeronaves da frota.

Segundo a Anac, durante este período a Voepass deixou de realizar pelo menos 20 procedimentos obrigatórios de manutenção, comprometendo a segurança dos voos e a integridade dos passageiros.

Investigação

A Força Aérea Brasileira informou que o relatório final da investigação ainda não tem data para ser divulgado pelo CENIPA (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos).

No documento preliminar consta que o botão de sistema de degelo do ATR 72-500 foi acionado três vezes durante o voo de Cascavel até a queda em Vinhedo, e não funcionou. A formação de gelo nas asas é uma das principais hipóteses para o acidente – um dos piores da aviação brasileira. As investigações do Cenipa ainda não foram concluídas.

Câmara

Nesta semana a comissão externa da Câmara dos Deputados marcou reunião para a próxima quarta-feira (13) para analisar e votar o parecer final do relator, deputado Nelsinho Padovani (União Brasil). Em suas conclusões, o relatório de Padovani avalia que as gravações dos pilotos na cabine podem ser fundamentais para esclarecer o episódio.

Além disso, ele alerta para outros fatores, como: o clima adverso, especialmente com a formação severa de gelo, deve ter sido um fator determinante para o acidente; os pilotos parecem não ter seguido procedimentos recomendados diante da situação meteorológica; e limitações técnicas impediram o voo de ultrapassar a altitude onde o gelo se forma, restando apenas a opção de descida. No parecer, o parlamentar também questiona por que a aeronave foi autorizada a decolar, mesmo diante dos riscos conhecidos para operação daquele modelo diante de situações meteorológicas desfavoráveis.

O relatório termina com o Projeto de Lei 5033/24, apresentado pelo deputado Padovani e outros integrantes da comissão externa. A proposta determina a criação de um comitê de cooperação entre instituições públicas e privadas, a ser coordenado pela Anac, para atendimento humanizado e eficiente às vítimas de acidentes aéreos e familiares.

Entre outros pontos, o projeto de lei sistematiza boas práticas e sugere melhorias regulatórias no setor aéreo. Segundo os autores, a ideia é evitar que tragédias como a do avião da Voepass sejam tratadas de forma desarticulada e burocrática.

Investigação federal

Nesta semana, o advogado e assistente de acusação da Associação dos Familiares das Vítimas do Voo 2283, Luciano Katarinhuk participou de uma reunião com o delegado-chefe da Polícia Federal de Campinas para tratar das investigações. A reunião contou também com a presença de familiares e de representantes da associação, no qual eles reforçaram seus pedidos pelo indiciamento dos envolvidos, bem como pela localização e identificação dos responsáveis pelo desastre.

Segundo Katarinhuk, a Polícia Federal reafirmou que está comprometida em apurar de forma rigorosa os fatos. As investigações estão em andamento e, segundo informado, há esforços contínuos para esclarecer todas as circunstâncias da tragédia. “Os familiares das vítimas esperam que os responsáveis sejam devidamente denunciados e punidos, conforme a lei. Eles buscam por justiça e vão estar sempre unidos nessa missão”, disse.