RIO ? No reinado de Momo, purpunina e glitter são soberanos em blocos e no Sambódromo. Mas a onipresença destes microplásticos no carnaval preocupa ambientalistas, atentos ao escoamento destas substâncias no mar, e que por isso propõem que elas sejam evitadas pelos foliões.
Um estudo publicado em 2015 na revista ?Nature? afirmou que cerca de 8 milhões de toneladas métricas de plástico chegam anualmente nos oceanos. Outro levantamento, divulgado na ?Environmental Research Letters?, estimou que até 236 mil toneladas métricas seriam de microplásticos ? uma quantidade 37 vezes maior da calculada até então. A diferença equivale ao peso de 1.300 baleias azuis.
Biólogo e especialista em vida marinha do Instituto Oswaldo Cruz, Salvatore Siciliano alerta que o plástico pode demorar centenas de anos até entrar em decomposição. E o mar está cheio de exemplos sobre seus danos.
? Já encontrei um bagre que engoliu uma camisinha, que acabou perfurando seu estômago ? conta. ? Mesmo falando apenas de microplásticos, acho que o carnaval contribui para a degradação do meio ambiente. A purpina e o glitter deveriam ser desestimulados. Por que não usar urucum, como faziam os índios? Seria melhor para todos.
Cláudio Gonçalves Tiago, pesquisador do Centro de Biologia Marinha (Cebimar-USP), reconhece que os microplásticos podem atrapalhar a obtenção de alimentos para os organismos.
? Embora sejam substâncias muito pequenas, devemos considerar que elas aparecem em grande quantidade, especialmente na zona litorânea ? explica. ? Quando temos uma contingente enorme de plásticos, até a fotossíntese das algas pode ser prejudicada. O glitter e a purpuina não têm tamanho para provocar o mesmo efeito, mas chegam com muita facilidade ao mar, até porque muitos banhistas vão para o oceano tomar banho.
O biólogo, então, recomenda distância de glitter e purpurina.
? É uma poluição desnecessária, assim como o rojão é desnecessário, por causa da poluição sonora. Na verdade, acho que nós não fazemos muito bem ao meio ambiente.