Cotidiano

Escassez na oferta de leite abre espaço para alta nos preços

Tendência é de que valores equilibrem somente no segundo semestre do ano

Toledo – A ida ao supermercado está cada vez mais programada. Por conta dos altíssimos preços aplicados em produtos básicos da mesa do brasileiro, o carrinho de compras anda cada vez mais vazio. Além da inflação, que é responsável por boa parte dos reajustes nos mais variados setores, existem fatores externos que podem comprometer o bolso do consumidor. É o caso do agronegócio, que tem o clima como aliado e, no caso mais recente, com a presença do El Niño, como vilão.

O relatório do Deral (Departamento de Economia Rural) da Seab (Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento) apontou queda na captação de leite paranaense de 7,65% no último quadrimestre. Conforme o responsável técnico Fabio Mezzadri, o excesso de chuva afetou a produção de pastagem nos mais de cinco milhões de hectares no Paraná, e elevou os custos da base alimentícia do rebanho, com necessidade de suplementação.

Não bastasse isso, as estradas rurais danificadas por conta das intempéries atrapalharam a coleta do leite nas propriedades rurais, já que em alguns pontos, inclusive no Oeste, o transporte nem chegava. “O atual cenário nacional do leite é de redução na captação do produto em relação ao ano anterior. No Paraná, que está entre os três maiores produtores brasileiros, a situação é semelhante ao restante do País”, relata. A produção de leite na região Oeste chegou a 1.091.138 litros em 2014, dado mais recente da Seab. No Paraná foram 4,53 bilhões de litros produzidos neste período.

Variações

A oferta menor do que a demanda melhorou, segundo Mezzadri, a remuneração dos produtores devido a essa restrição. O litro do leite pago ao pecuarista subiu 7,5% em um ano, e 20% de comparado janeiro e fevereiro deste ano. O preço médio recebido no primeiro bimestre foi de R$ 1 o litro ante os R$ 0,93 de 2015. No varejo, os preços pagos pelo consumidor explodiram, passando dos R$ 1,90 praticados até metade do ano passado para até R$ 3,99.  No entanto, de acordo com o especialista, mesmo recebendo mais, o pecuarista trabalha atualmente para manter a atividade e tem o lucro como segunda opção.

Isso é reflexo dos custos cada vez mais elevados de produção, que têm feito até quem há anos produz, desistir da atividade. Conforme explica Mezzadri, o que prejudica ainda mais o pecuarista são os valores dos insumos, que dolarizados, principalmente o milho, componente essencial à dieta e que é responsável por cerca de 40% de tudo que é gasto para a produção animal. O produto, em 12 meses, registrou aumento de 56% no preço da saca de 60 quilos. Além disso, produtos importados como sal mineral e fertilizantes também ajudaram a acrescer os custos de produção na pecuária leiteira. 

“No Paraná, onde a atividade leiteira é composta por uma grande parcela de médios e pequenos produtores, esta atual situação causa impacto significativo, deixando as margens de lucro apertadas, situação que forçou muitos produtores reduzirem investimentos, cortarem custos e muitos até a abandonarem a atividade. Mesmo os grandes produtores têm passado dificuldades. No Estado, alguns têm relatado altas de até 50% nos custos de produção, depois da alta do dólar e disparada do milho. Portanto, a melhora dos preços pagos aos produtores neste momento, tem apenas servido para amenizar a alta destes custos”, analisa Mezzadri.

Preparando o bolso

O técnico do Deral, Fabio Mezzadri, traça uma perspectiva à pecuária de leite. Segundo ele, a chegada da entressafra deve reduzir ainda mais a oferta de pastagem e, consequentemente, a produção. Neste caso, há quem diminua temporariamente o ritmo dos trabalhos, pensando em economizar. “A sazonalidade da atividade leiteira aponta para o risco de mais aumento nos preços para o consumidor, já que o fornecimento do alimento às vacas cai na entressafra e os produtores precisam complementar com ração”, diz. A tendência é de que os valores nas prateleiras só se estabilizem na metade do segundo semestre do ano.