Cotidiano

Nicolas Grau, economista: 'As cotas mudam as pessoas'

201604182134208510.jpg“Tenho 33 anos e moro em Santiago, onde sou professor do Departamento de Economia da Universidade do Chile. Tenho PhD em Economia pela Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos. Já publiquei artigos e teses sobre a qualidade da educação, em particular, a educação pública.”

Conte algo que não sei.

As pessoas que investigam como eu sofrem com a pressão do que é publicado em revistas da Academia. E essas revistas, em geral, publicam quando o resultado aparece e não quando ele não aparece. Então isso produz um tremendo cerco para que a gente busque a verdade e, quando as pessoas lerem, acreditem que realmente é a verdade.

Você pesquisa o impacto da repetência escolar na violência. Já repetiu de ano?

Não. Estudei Economia e sempre me interessei pela Educação, fui de uma federação de estudantes. A relação com o crime chegou com um pouco de sorte. Conversei com um professor que virou meu colega e ele trabalhava na área. Surgiu a possibilidade de juntarmos as duas coisas.

O que quer investigar?

A forma como o sistema educacional se relaciona com a delinquência infantil. O crime se produz por falta de oportunidades. No Chile, há três tipos de colégios: os públicos municipais, os particulares que recebem dinheiro do Estado e os privados que não recebem dinheiro do Estado. Cerca de 92% da população frequentam o ensino privado, regido pela lei do mercado.

O que leva à repetência?

Falta de disciplina e desempenho acadêmico. As taxas são muito altas: 15% dos alunos de 7 e 8 anos já repetiram de ano. Se saem do colégio neste momento, é o pior cenário, estas crianças estão vulneráveis. Deveria haver uma política para acompanhar melhor os alunos e buscar uma forma de reverter a falta de conhecimento.

Há semelhança entre o sistema educacional chileno e o brasileiro?

Tendo a pensar que são parecidos. Os dois países têm muita desigualdade. E isto causa a segregação e a queda da qualidade do ensino.

O que pensa do sistema de cotas nas universidades? Há política similar no Chile?

As cotas mudam as pessoas que entram nas universidades e também os interesses e as perspectivas de quem sai do colégio. Essa medida pode modificar a forma como os jovens se comportam. É polêmico, porque as cotas são muito explícitas, mas estar numa universidade diversa nos dá uma visão mais integradora do mundo. Em algum momento não vai ser mais necessário, a diversidade será natural.

No Brasil, ainda há escolas só para meninos. É retrocesso?

No Chile, há os dois tipos, só para homens e só para mulheres. Creio que isso é uma coisa de outra época, do século XX, que vai deixar de existir. Educação é muito mais complexo do que estudar matemática, é aprender a conviver. Homens e mulheres são igualmente inteligentes. Mas tendo a crer que os homens saem perdendo, pois são mais dispersos e desorganizados. As mulheres são o equilíbrio.

Onde há um modelo ideal de educação?

Suécia e Finlândia têm muita integração e alto nível de qualidade. São países com condições sociais mais homogêneas. Na América Latina, os que têm mais igualdade são Uruguai, Cuba e Costa Rica.

Há escolas que usam a expressão ?convidado a se retirar? para estudantes que repetem mais de uma vez o mesmo ano. É correto?

Colégios mais exigentes expulsam alunos para manter seu desempenho. Não poderiam fazer isso. É muito desalentador. O colégio está só transferindo a responsabilidade para outra escola.