BRASÍLIA – Num dos mais fortes discursos desde o início de sua gestão, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, acusou o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, de sofrer de decreptude moral e desinteira verbal. O procurador fez as críticas numa resposta a acusação do ministro de que procuradores teriam convocado uma entrevista coletiva em off na semana passada para vazar os nomes dos políticos suspeitos de receber propina da Odebrecht.
? Não vi uma só palavra de quem teve uma disenteria verbal a se pronunciar sobre essa imputação o Palácio do Planalto, Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal. Só posso atribuir tal ideia a mentes ociosas e dadas a devaneios. Mas infelizmente com meios para distorcer fatos e instrumentos legítimos de comunicação institucional ? disse Janot em discurso de encerramento de encontro de procuradores regionais eleitorais na Escola Superior do Ministério Público.
Janot não mencionou o nome de Mendes, mas fez uma série de referências que não deixam dúvidas sobre o alvo de suas criticas. As informações sobre o a suposta coletiva foram divulgadas pela Folha de S. Paulo no domingo e replicadas por Mendes ontem à tarde no STF. Ao falar sobre o suposto vazamento dos nomes de políticos da lista de Janot, o jornal fez referências a prática do off no Palácio do Planalto, no Congresso Nacional e no STF.
Para Janot, o ministro preferiu direcionar os ataques ao Ministério Público e omitiu, de forma deliberada, as menções ao uso do off no Palácio, do Congresso e no STF.
Para o procurador-geral, a seletividade da crítica teria como propósito da deslegitimação das investigações sobre a corrupção no meio político. O procurador-geral disse ainda que a informação de que houve uma coletiva para a divulgação de uma lista de políticos investigados é mentirosa. Janot insinuou ainda que Mendes estaria tentando nivelar todas as autoridades, atribuindo aos procuradores conduta que, na pratica seria dele : chamar jornalistas para conversas reservadas e, com isso, divulgar informações sigilosas. Para o procurador-geral, o ministro estaria sofrendo de decreptude.
? Ainda assim meus amigos, em projeção mental, alguns tentam nivelar a todos a sua decreptude moral e para isso acusam nos de condutas que lhes são próprias socorrendo-se, não raras vezes, da aparente intangibilidade proporcionada pela posição que ocupam no Estado ? afirmou.
O procurador reprovou ainda suposta conduta promíscua de Mendes, que estaria participando com frequência de jantares no Palácio do Planalto. O ministro é presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), onde tramita processo sobre supostas irregularidades na prestação de contas da chama Dilma-Temer na campanha eleitoral de 2014.
? Procuramos nos distanciar dos banquetes palacianos. Fugimos dos círculos de comensais que cortejam desavergonhadamente o poder público e repudiamos a relação promíscua com a imprensa ? disse Janot.