Cotidiano

Mobi Way, uma segunda chance na vida

RIO – “Se arrependimento matasse…” é algo que dizemos muitas vezes na vida. E, na apresentação do Mobi Way, realizada na semana passada, foi possível perceber que bateu um certo arrependimento na Fiat. Dois meses após o lançamento oficial, a marca resolveu “relançar” o carro com esta versão pseudo-aventureira, agora enfatizando as diferenças do modelo em relação ao Uno.

No evento de abril, alguém soltou que o Mobi é o “mini-Uno” — e isso foi replicado por toda parte. Para complicar, o carrinho ainda não disse a que veio, tendo pouco mais de 2.407 exemplares vendidos em maio. A estratégia é tentar reverter tudo e começar do zero justamente com o apelo aventureiro do Mobi Way. O objetivo é chegar a 6 mil unidades por mês.

Nos 70km desse primeiro contato com a nova versão do Mobi — quase todos rodados por estradas não pavimentadas da região de Itupeva (SP) — o que impressionou positivamente foi o acerto da suspensão.

No meio da nuvem de poeira da estradinha de terra batida, o Mobi Way lidou com costelas de vaca, buracos, valas, irregularidades (nada hardcore, ok?) com a maior naturalidade. Esqueça solavancos na cabine ou a sensação de que o carro está quicando numa cama elástica. Até mirei alguns buracos propositalmente (foi mal, Fiat!), segurando o volante à espera da pancada seca. Nada. A suspensão filtra muito bem as imperfeições.

FIRME E ESTÁVEL

Os méritos vão para a turma da engenharia. A Way tem 1,5cm a mais de vão livre do solo (17,1cm no total) que os Mobi “civis” e ganha nova calibragem de molas e amortecedores. A suspensão dianteira tem curso elevado em 1cm e barra estabilizadora. Os pneus, porém, são os mesmos 175/65 R14 da maioria dos Mobi.

A velha receita dos aventureiros urbanos é apresentada nas molduras de plástico preto nas caixas de rodas, nos para-choques diferentes, no rack do teto e no vistoso adesivo na tampa traseira de vidro. As rodas de liga-leve são da versão Way On, a topo de linha, que custa R$ 43.800 (contra R$ 39.300 do Mobi Way mais simples).

Eis aí a questão: impossível não compará-lo com o Uno Way, que é maior, bem mais confortável, tem porta-malas mais amplo e parte de R$ 40.690 (uma diferença de módicos R$ 1.390).

E cá entre nós: o Mobi não é tão diferente assim do Uno. A arquitetura dianteira, até a coluna central, é herdada do irmão maior. Por isso, o Mobi oferece praticamente o mesmo espaço nos bancos da frente. Os joelhos roçam os painéis das portas e o console central. Motoristas “corpulentos” (como o que vos escreve) esbarram a coxa direita na alavanca de câmbio. A direção poderia ser mais direta e os engates da caixa de cinco marchas são pouco precisos.

O espaço atrás é mínimo. Apesar de a porta traseira se abrir num ângulo de 80 graus, passar por ela exige contorcionismo para não bater a cabeça. Mesmo sem o banco da frente estar totalmente recuado, os joelhos raspam no encosto dianteiro. Quem tem mais de 1,80m vai sofrer. O porta-malas de 215 litros é cenográfico: bote uma mala média ali e dê-se por satisfeito.

O foco da Fiat é vender esse carro para jovens urbanos e solteiros (ou casados sem filhos). Seu argumento maior vem nos equipamentos. O Mobi Way é vendido com ar-condicionado, vidros elétricos na frente, chave tipo canivete com telecomando, travas elétricas, computador de bordo (mas o Uno Way também vem com tudo isso de série).

Já o Mobi Way On recebe retrovisores com ajuste elétrico, regulagem de altura do volante e do banco, sensor de ré, faróis de neblina, entre outros.

O motor é o manjado 1.0 8v Fire de 75cv, sem muito vigor em baixos giros e é preciso ter paciência com isso, especialmente em subidas. Numa ladeira, reduzimos para segunda marcha tentando manter o ponteiro do conta-giros em 3.000rpm, mas enquanto o aclive continua, o ponteiro desce na mesma proporção que nosso ânimo. Apelar para a primeira quase no fim da subida foi frustrante.

Aguarda-se para breve o motor de três cilindros que, em um mundo ideal, deveria ter estreado juntamente com o Mobi. Sua apresentação, porém, só se dará por volta de agosto e no… Uno! Depois, não adianta se arrepender.