RIO – O mercado financeiro global está em forte queda após o resultado da vitória da saída do Reino Unido da União Europeia. A libra se desvaloriza e ações recuam. Ao mesmo tempo, há aumento da procura por ouro e por títulos do Tesouro dos Estados Unidos. Mas o que explica essa reação do mercado? Quais os temores que estão por trás desse movimento?
O primeiro fator que explica o choque no mercado é a incerteza. Esta é a primeira vez que um país deixará a União Europeia e ainda não está claro como ficará a situação do Reino Unido e do bloco europeu. E o mercado financeiro não gosta de incerteza.
Uma das dúvidas é sobre o que acontecerá com a economia britânica. As relações comerciais entre o Reino Unido e a União Europeia terão que ser revistas. Assim, novas condições podem prejudicar a corrente comercial entre os países. Com menos comércio, o desempenho das empresas é afetado e seus ganhos recuam. As ações das empresas na Bolsa de Londres recuam diante dessa perspectiva.
Há dúvidas também sobre a capacidade de o Reino Unido atrair investimentos ou se financiar. Muitas empresas usam o Reino Unido como base de suas operações na Europa. Com a mudança, podem transferir suas atividades para outros países, esvaziando a economia do Reino Unido. Isso afeta as perspetivas de investimentos estrangeiros na ilha. Ao mesmo tempo, o país tem um déficit em conta corrente que correspondia a 5,1% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2014, em alta desde a crise de 2008. Esse dado serve como um indicador do grau de vulnerabilidade da economia de um país em relação ao mundo.
LIBRA REFLETE DÚVIDAS COM ECONOMIA
Essas dúvidas sobre o crescimento atingem em cheio a libra. A moeda britânica caiu mais de 10% e chegou ao nível mais baixo frente ao dólar desde 1985. Economias robustas tendem a ter moedas mais fortes e o oposto também é verdadeiro.
Com a libra mais fraca, o poder de compra dos britânicos recua. No período após a crise internacional, a inflação aumentou no país. No momento, a inflação está próxima de zero e não se teme uma disparada. Mas a tendência será de alta.
Ao mesmo tempo, o Banco Central Europeu e o Banco da Inglaterra (banco central britânico) foram rápidos em fazer declarações para acalmar o mercado. O BCE afirmou que está pronto para fornecer liquidez em euro e outras moedas se necessário. O presidente do Banco da Inglaterra, Mark Carney, afirmou em comunicado que a autoridade monetária ?não vai hesitar em tomar medidas adicionais enquanto os mercados se ajustam e a economia britânica avança?. Destacou, ainda, que o mercado financeiro é resiliente e se fortaleceu nos últimos sete anos. Os BCs querer assegurar, então, que haverá recursos necessários no caso de uma fuga de capitais que comprometa a segurança de instituições financeiras e do mercado como um todo.
FUGA PARA ATIVOS SEGUROS
Em momentos de incerteza, a tendência do mercado é buscar ativos considerados seguros, como os títulos do Tesouro dos Estados Unidos e o ouro. A remuneração desses ativos é menor, mas eles ganham em segurança. Ao mesmo tempo, há uma fuga de capitais de mercados emergentes, que são considerados de maior risco. Isso significa uma realocação dos capitais no mundo.