Cotidiano

Daniel Chamovitz, geneticista: 'As plantas podem ver e cheirar'

“Nasci nos EUA, mas vivo em Israel há 32 anos. Sou reitor da Faculdade de Ciências da Natureza da Tel Aviv University, onde fundei o Manna Center Program, uma iniciativa para inovações em pesquisas de segurança alimentar. Escrevi um livro, ‘What a plant knows’ (‘O que uma planta sabe’), publicado em 14 idiomas.”

Conte algo que não sei.

As plantas podem ver e cheirar. Percebem quando são tocadas, podem sentir gostos. São capazes de manter o equilíbrio. Não escutam, mas podem se comunicar.

Como?

Elas cheiram uma a outra. Se uma árvore está sob ameaça, sendo atacada por besouros, por exemplo, ela libera substâncias químicas no ar. A árvore vizinha vai sentir e, assim, pode preparar seus componentes químicos para lutar contra os invasores. Há um problema: não sabemos se é um aviso para outra planta. É bem possível que um galho da árvore atacada esteja falando com outro, e essa planta vizinha esteja só pegando a conversa. O fato é que ela está captando essa informação. Uma planta pode diferenciar luzes azuis e vermelhas, e assim saber quando florescer, por exemplo, já que é através da quantidade de luz vermelha que recebem que podem medir a duração do dia. Então, as plantas têm muitos sentidos. A grande diferença entre nós e elas é que, se estamos em perigo, podemos correr, ou se estamos com fome comemos, no frio nos agasalhamos etc. A planta está presa às raízes, e deve sobreviver às adversidades, não pode escapar. Precisa estar muito consciente do que está ao redor para sobreviver.

Há a crença popular de que se você conversar com a planta ela cresce mais saudável. Isso faz sentido?

Também dizem que você deveria conversar com Deus. E tudo bem, porque faz você se sentir melhor. Se conversar com as plantas faz de você um jardineiro melhor, ótimo. Mas, se começar a ouvir respostas, é melhor ir a um psiquiatra.

Sua especialização pode ajudar a resolver o problema da fome?

Vivemos num ambiente que está mudando rapidamente, e dependemos totalmente das plantas. Respiramos um produto delas, o oxigênio. Vestimos algodão, abastecemos nossos carros com plantas mortas. Comemos, bebemos e fumamos plantas. Tomamos remédios feitos delas, construímos nossas casas com elas. Se não entendermos como elas sentem o seu ambiente e se adaptam a ele estaremos em apuros e talvez não tenhamos comida no futuro. Israel é, provavelmente, o líder mundial em tecnologias de inovação nessa área. Lá, 80% do país são deserto, mas, ainda assim, 70% dos vegetais que exportamos são produzidos no deserto. Imagine o que um país como o Brasil, que tem água em toda parte, poderia fazer? Vamos ter que produzir mais comida, de um jeito sustentável ecologicamente e com menos dinheiro, um desafio.

Há países em que falta comida. Em outros, há desperdício. Como resolver isso?

Há dois tipos de desperdício: o do país em desenvolvimento e o do país desenvolvido. Na Índia, há muita comida desperdiçada no caminho entre os campos e o mercado, porque não há a infraestrutura. Em cidades como o Rio, muita comida vai do refrigerador para o lixo. Podemos reduzir isso. Acreditamos em prazos de validade, mas esquecemos que nossos avós sabiam se a comida estava boa cheirando-a.

Como a genética das plantas o levou a entender o câncer?

Há 25 anos, estudava como as plantas reagem à luz e a usam para mudar suas formas, e descobri um grupo de genes. Em 2000, quando o genoma humano foi decodificado, descobriram que os genes que eu encontrara nas plantas existiam em pessoas. Nós, plantas e animais, temos de 40% a 60% da mesma composição genética. Está tudo conectado, de alguma forma.