LUTO

Voo 2283: primeiros corpos chegam à cidade para a dolorosa despedida

Ao todo, 62 pessoas estavam no avião que saiu de Cascavel um pouco antes do meio-dia rumo ao Aeroporto de Guarulhos, mas que não chegou ao seu destino. Foto: Katúscia Silva/O Paraná
Ao todo, 62 pessoas estavam no avião que saiu de Cascavel um pouco antes do meio-dia rumo ao Aeroporto de Guarulhos, mas que não chegou ao seu destino. Foto: Katúscia Silva/O Paraná

Cada um com sua crença, religião, convicções e dogmas, mas todos unidos pela dor da partida de pessoas amadas de uma forma tão violenta e trágica. Familiares de algumas das vítimas da queda do Voo 2283 da VoePass, ocorrida na última sexta-feira (9), em Vinhedo (SP) começaram a receber os corpos dos seus entes queridos nesta terça-feira (13). Ao todo, 62 pessoas estavam no avião que saiu de Cascavel um pouco antes do meio-dia rumo ao Aeroporto de Guarulhos, mas que não chegou ao seu destino.

Primeiro velório

O primeiro velório realizado em Cascavel, que tem 25 vítimas que moravam na cidade, foi do casal Antonio Deuclides Zini Júnior e da esposa Kharine Gavlik Pessoa Zini. O velório iniciou por volta das 15h, com a chegada dos corpos que foram trazidos por veículos funerários de São Paulo e velados no salão social da Associação Atlética Comercial. O casal será enterrado na manhã desta quarta-feira (14), às 9h no cemitério Central, no túmulo da família Zini.

Outros corpos como o da professora de Palotina, Silvia Cristina Osaki e da nutricionista Ana Carolina Redivo chegaram à tarde em aviões da FAB (Força Aérea Brasileira) disponibilizado para fazer o transporte e um terceiro seguiu para Pelota (RS). O corpo de Silvia será cremado nesta quarta-feira, no Crematório Pietá, a partir das 10h, após uma cerimônia de homenagem e o de Ana Carolina será velado no Salão Paroquial da Igreja Matriz de Santa Tereza do Oeste e enterrado na tarde de hoje (14), às 16h, no cemitério municipal.

O translado foi a bordo da aeronave KC-390 Millennium, operada pelo Primeiro Esquadrão do Primeiro Grupo de Transporte (1º/1º GT) – Esquadrão Gordo, que decolou da Base Aérea de São Paulo (BASP). Além deste, também aterrissou com outros dois corpos um voo comercial da empresa Latam, que seguiram para outras cidades da região. Como os caixões são todos lacrados, eles seguem direto para os atos fúnebres.

Os veículos funerários foram escoltados pela Polícia Militar e Polícia Rodoviária Federal, visando garantir a segurança do espaço aéreo, já que as operações do aeroporto continuarão ocorrendo normalmente e ainda assegurar a maior privacidade possível para os familiares das vítimas.

Centro de Eventos

Ainda ontem (13) pela manhã, o Centro de Eventos da cidade, que foi disponibilizado pelo Município para que ocorresse um possível velório coletivo das vítimas estava sendo preparado. Toda uma estrutura com poltronas, flores e paisagismo – que foi doada por empresas da cidade – foi montada e, além disso, também foi preparada a estrutura de um ambulatório onde ficará uma equipe da Secretaria Municipal de Saúde, para o amparo necessário de familiares e amigos.

Por meio de nota, a Secretaria Municipal de Assistência Social, informou que manteve contato com as famílias das vítimas e que, das 27 vítimas da região, 18 informaram que não farão velório no Centro de Eventos, sendo que as outras indicaram que pretendem realizar velório privado, enquanto dois serão serão velados em Guaíra e outros dois em Toledo. As demais cerimônias fúnebres ocorrerão nas cidades de Três Barras do Paraná, Fernandópolis e São Paulo. Outros familiares ainda não decidiram o local do velório, mas o espaço continua disponível.

Reconhecimento dos corpos

De acordo com o último boletim, a unidade central do IML (Instituto Médico Legal) de São Paulo segue trabalhando exclusivamente na identificação dos corpos das vítimas do acidente aéreo. Até o momento, 52 corpos foram identificados. Desses, 27 foram liberados aos familiares, que são os primeiros a serem comunicados sobre o andamento do trabalho de reconhecimento.

As equipes do Governo de São Paulo seguem atendendo as famílias de vítimas no Instituto Oscar Freire, espaço localizado próximo ao IML. Nestes atendimentos, os familiares fornecem informações que subsidiam o trabalho dos peritos, além de material biológico. Mais de 40 médicos, equipes de odontologia legal, antropologia e radiologia trabalham na identificação dos corpos das vítimas do acidente aéreo, com apoio de equipes do Instituto de Identificação Ricardo Gumbleton Daunt – IIRGD. 

A retirada de corpos foi realizada por peritos do IC e IML, com apoio do Corpo de Bombeiros, seguindo protocolos internacionais com a finalidade de preservar ao máximo as vítimas, visando uma identificação mais ágil. Mesmo assim, cada caso possui sua complexidade e cada vítima necessita de exames específicos para viabilizar a total identificação, não sendo possível estimar prazos para que isso ocorra.

Um dos corpos que ainda não foi identificado foi o da pequena Liz Ibba dos Santos, de apenas três anos, filha da jornalista cascavelense Adriana Ibba que será feito por meio de exame de DNA.

Inquérito policial

A Policia Civil de São Paulo, por meio da Delegacia de Vinhedo, instaurou inquérito policial para investigar o acidente aéreo, em paralelo às investigações do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos). As diligências estão em andamento com o objetivo de esclarecer os fatos.

Três hipóteses estão sendo consideradas para explicar o acidente. A primeira é a possibilidade de formação de gelo nas asas, apoiada pelos boletins meteorológicos do dia e por um acidente similar registrado nos Estados Unidos há 30 anos. A segunda hipótese é que o acidente tenha sido causado por danos antigos provenientes de um “tailstrike”, quando a cauda do avião toca a pista, ocorrido em março deste ano. A terceira possibilidade é que problemas no sistema de ar-condicionado da aeronave, relatados por pilotos anteriores, tenham comprometido a refrigeração da cabine.