COTIDIANO

Aumento de impostos e de preço do cigarro podem incentivar o contrabando

Aumento de impostos e de preço do cigarro podem incentivar o contrabando

Ao mesmo tempo em que o aumento de tributos e do preço mínimo do cigarro contribuem para desestimular o uso do tabaco no país, especialistas apontam que a medida pode incentivar o contrabando, uma vez que a diferença de valor no mercado legal e no mercado paralelo tende a aumentar. 

O tema voltou à tona após um decreto do governo determinar que, a partir de 1º de setembro, o preço mínimo da vintena (20 unidades) seja de R$ 6,50. Desde 2016, o valor era de R$ 5. 

Já o valor, em reais, da alíquota do IPI cobrado sobre o maço e o box de cigarro passará de R$ 1,50 para R$ 2,25, a partir de 1º de novembro. 

Advogado especialista em direito tributário, Ranieri Genari diz que a, princípio, a majoração de impostos sobre o cigarro parece mirar o aumento da arrecadação do Executivo, uma vez que o número de fumantes no Brasil não tem crescido a ponto de justificar que a tributação suba para desestimular o consumo.   

“Isso tem cunho arrecadatório, porque não há pesquisas que indiquem aumento de fumantes; pelo contrário. Se a gente for olhar o timing, o governo anunciou corte [de recursos] no Ministério da Saúde. Extrapolando a visão tributária, isso é uma forma de tentar compensar esse problema arrecadatório, para tentar trazer um valor para suprir o SUS.”

Saúde

De acordo com o Instituto Nacional de Câncer, entre 80% e 90% das mortes por câncer de pulmão no Brasil têm relação direta com o uso de cigarro. O advogado tributarista Leonardo Roesler diz que a medida adotada pelo governo tem viés arrecadatório, mas é positiva do ponto de vista social.  

“A política de preços mínimos tem o objetivo de evitar que os cigarros sejam vendidos a preços excessivamente baixos, o que poderia incentivar o consumo. Se olharmos para o argumento da saúde pública, o aumento dos impostos e do preço mínimo do cigarro é coerente com as diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS), a fim de controlar o tabagismo”, avalia. 

Ele alerta que, no entanto, a diferença entre o preço do cigarro vendido de forma legal e aquele de forma ilegal vai subir, aumentando o contrabando. “Esse diferencial cria um forte incentivo econômico para que os consumidores optem pelos produtos contrabandeados, que não estão sujeitos à mesma tributação. Após o aumento de IPI em 2016, houve crescimento substancial no mercado ilegal de cigarros”, lembra. 

Imposto Seletivo

No novo sistema tributário — aprovado pelo Congresso Nacional no fim do ano passado — o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) será extinto, com exceção daquele que vai incidir sobre os itens produzidos na Zona Franca de Manaus. 

No entanto, passará a existir o Imposto Seletivo (IS), cuja finalidade é desestimular o consumo de produtos e serviços considerados prejudiciais à saúde e ao meio ambiente. 

Os cigarros, assim como as bebidas alcoólicas, estão entre os itens cujo novo sistema pretende aplicar o chamado “imposto do pecado”, tornando-os mais caros. 

Isso significa que, ao comprar cigarro, o consumidor irá pagar a CBS (que substituiu PIS e Cofins), o IBS (que substitui ICMS e ISS) e, também, o Imposto Seletivo. 

Enquanto a soma das alíquotas da CBS e do IBS é estimada em 26,5%, ainda não se sabe qual será o percentual do IS que vai incidir sobre o cigarro.  

Por outro lado, o uso de cigarros eletrônicos, como o vape e o pod, cresceu 600% nos últimos seis anos, no Brasil, de acordo com o instituto Ipec. 

Tabaco no Brasil

De acordo com a Abifumo, o Brasil é o líder mundial de exportação de tabaco, posto que ocupa há mais de 20 anos. A cadeia produtiva do setor emprega direta e indiretamente 2,1 milhões de pessoas. Segundo a OMS, o consumo de tabaco no Brasil caiu 35% desde 2010.

Contrabando no Paraná

Fruto do contrabando e muitas vezes ligados a crimes mais sérios, como o próprio tráfico de drogas, os cigarros importados ilegalmente para o Brasil, via rodovias federais do Paraná, bateram a marca de 16 milhões de maços apreendidos, contra 14,8 milhões do primeiro semestre passado. Quase metade dos cigarros apreendidos nas rodovias federais brasileiras, é apreendida pela PRF no Paraná.

O contrabando de cigarros se relaciona com crimes mais graves como o narcotráfico e o roubo de veículos. Ele é utilizado pelo crime organizado para diversificar sua carteira de negócios ilícitos, pela sua grande margem de lucro.

Como consequência de todo o trabalho de localização de ilícitos, 403 pessoas foram detidas pela PRF por tráfico de drogas no primeiro semestre de 2024. No ano passado, no mesmo período, 304 pessoas foram detidas. Esse salto significativo nos números de apreensão de drogas da PRF no Paraná é fruto de um conjunto de medidas estratégicas adotadas pela corporação, que incluem a capacitação dos policiais, o uso de inteligência policial e a cooperação entre órgãos de segurança.