Depois de toda a discussão sobre a construção do campo olímpico de golfe em uma área de reserva ambiental, a volta do esporte ao megaevento após 112 anos está sofrendo um novo duro golpe. Nas últimas duas semanas, após o anúncio de desistência do norte-irlandês Rory Mcllory, terceiro do ranking mundial, por medo de ser contagiado pelo vírus zika, sete golfistas de ponta abriram mão de vir aos Jogos do Rio alegando o mesmo motivo. Entre eles, o australiano Jason Day, atual número 1.
Nos corredores da organização do torneio olímpico e da Federação Internacional de Golfe (IGF), a torcida é para que esse efeito cascata de desistência se encerre o mais rápido possível. Caso contrário, o esporte corre sérios riscos de ficar de fora da agenda dos Jogos.
A cada anúncio de desistência, tanto a IGF quanto os comitês olímpicos nacionais lamentam profundamente a perda, mas ? normalmente, na última linha do anúncio oficial ? dizem respeitar a decisão dos atletas. Para a mídia especializada, o zika tem sido uma ?desculpa fácil? para justificar a ausência. No caso de Mcllory, causa estranheza o fato de ele desistir da Rio-2016 semanas após passar férias em Barbados com a mulher, onde há surto.
O jornalista Alan Shipnuck, da americana ?Sports Illustrated”, contou em sua coluna na Golf.com? que ouviu um exasperado diretor da IGF fazer a seguinte reclamação: ?Há mosquitos carregando zika na Flórida e no Texas, mas não vejo nenhum jogador boicotando os torneios por lá?. Em junho, até o dia 18, o Rio registrou 186 casos de zika enquanto a Flórida, 162. Para Paulo Pacheco, presidente da Confederação Brasileira de Golfe, há outros fatores.
? Os jogadores tops estão acostumados a jogar torneios que pagam até US$ 2 milhões para o vencedor fora os acordos que eles fazem com os patrocinadores do evento após a vitória. Não estão acostumados a jogar por uma medalha. Eles também jogam por si, nunca tiveram a experiência de representar um país. Essa dimensão da importância do torneio olímpico só virá com o tempo. Acredito que em Tóquio-2020, após ver a repercussão do torneio do Rio, ninguém vai querer ficar de fora ? disse o presidente.
‘CÍRCULO VICIOSO’
Logo após anunciar a desistência da Rio-2016 alegando agenda pessoal, o australiano Adam Scott, sétimo do mundo, questionou a participação dos craques:
? Se a ideia (de voltar a ser olímpico) é para crescer o jogo, então eu argumento que seria melhor ter amadores ou aspirantes jogando. A ideia de vencer um torneio olímpico é mais animadora para um amador do que para um profissional.
O golfe está garantido em Tóquio-2020. Mas sua permanência na edição de 2024, que ainda não tem palco definido, será votada pelo COI em 2017. E o risco é real.
? O problema é que o torneio olímpico jamais será prioridade se os principais jogadores não participarem ativamente dele ? afirma Martin Toms, doutor especialista em alta performance, com ênfase em golfe, da Universidade de Birmingham, no Reino Unido. ? É um círculo vicioso, e precisamos da ajuda deles para mudar. O golfe deve ser uma modalidade olímpica, mas jamais terá credibilidade se jogadores, organizadores e patrocinadores não lhe derem prioridade.
Toms e Pacheco concordam que o zika e seus efeitos em possível gravidez têm seu peso ? a sul-africana Lee-Anne Pace se juntou aos ?fujões? Branden Grace e Marc Leishman (Austrália), Vijay Singh (Fiji), Shane Lowry e Graeme McDowell (Irlanda). Mas a dúvida permanece.
? Mas só saberemos se o zika foi agora uma desculpa conveniente quando Tóquio-2020 chegar ? afirma Toms.