PARATY – Bem que a jornalista Patrícia Campos Mello e o mediador Daniel Benevides tentaram, mas a mesa ?Síria Mon Amour?, na 14ª edição da Flip, não engrenou. Convocado para falar da guerra e da vida em seu país sob o jugo do Estado Islâmico, como uma espécie de cota, Abud Said desviou do tema de forma por vezes grosseira, disse não querer falar de política e criticou os jornalistas que narram o conflito e a ?turma dos direitos humanos? que, na sua visão, ?fazem jogo sujo?. Foi um pouco aplaudido, mas muito vaiado.
Links Flip mesas sábadoNo maior erro de escalação do evento, o autor de ?O cara mais esperto do Facebook? (editora 34) não pareceu estar mentindo quando disse, em tom orgulhoso, ser egoísta. Ele, que alternou sua fala entre o inglês e o árabe (a pedido da mediação, que queria ouvi-lo falar em sua lingua materna), não se importou em soar insensível ao explicar (repetidamente) os motivos que o levavam a não querer falar sobre a guerra.
? A vida é simples, é bonita, por que valorizar coisas que não têm que ser valorizadas? Ok, está acontecendo uma guerra, mas é algo do dia a dia, acontece. Não falo sobre assuntos sérios, comecei a escrever para me divertir. Eu não tenho nada a ver com a guerra, sou feliz — diz ele, que hoje mora em Berlim e escreve um livro sobre um dos oito irmãos, preso por tráfico de drogas e morto quando tentava salvar os filhos dos vizinhos de um bombardeio. ? Não quero falar sobre a Síria, estou vivendo normalmente. Os refugiados e a guerra não me interessam, estou aqui sendo muito bem tratado, um serviço cinco estrelas.
Patrícia ainda tentou contemporizar.
? A guerra não define aquelas pessoas. Eu, como jornalista, entro e saio das áreas de conflito. Minha experiência é muito diferente da dos sírios. Mas fiquei encantada com o senso de humor deles apesar de tudo, como o do Said ? explicou a repórter, que está para lançar ?Lua de mel em Kobani?, pela Companhia das Letras.
Links Flip ServiçoDe tanto Abud bater nessa tecla, sobrou pouco espaço para Patrícia, constrangida ao ser criticada em pleno palco (?concordo com o Abud no sentido de que fazemos apenas um recorte do que acontece na Síria, mas espero estar fazendo um bom trabalho?), falar sobre suas reportagens em países como Afeganistão, Iraque, Síria e Turquia. Questionada sobre as dificuldades de ser uma mulher no front, Patrícia surpreendeu:
? Na verdade, eu tenho uma vantagem enorme por ser mulher. Tenho acesso a 50% da população que um homem não teria. As escravas sexuais que eu entrevistei não falariam com um homem. Nesse sentido, achei mais complicado lidar com os ocidentais do que com os locais ? diz ela, que disse não temer trabalhar em regiões de conflito ? Eu não tenho direito de ter medo. Eu vou lá, passo um tempinho com aquelas pessoas e volto. Pessoas como o Abud vivem lá tomando bomba na cabeça todo dia. Seria absurdo ter medo.