Cotidiano

Restaurante Antiquarius tem futuro incerto

RIO – A receita de sucesso salgou. E muito. Dívidas trabalhistas, são mais de 90, que se acumulam desde que a filial do Antiquarius em São Paulo fechou, em 2010; investida fracassada do restaurante em Brasília, que nem o maître Manoelzinho salvou (contam que, na verdade, ele atrapalhou, já que abriu na capital duas casas concorrentes); tentativa da versão grill, que fechou mal no Barrashopping; queda de 25% no movimento de clientes na casa do Leblon. A conta anda difícil de fechar.

Mas os herdeiros de Carolos Perico, que morreu semana passada, a princípio não pretendem vender o tradicional restaurante fundado em 1977.

— Queremos um parceiro financeiro, que divida as dívidas de hoje e os lucros de amanhã — diz Carlos Manuel Perico, o Carlito, de 56 anos, agora à frente dos negócios.

Nada é novo. O patriarca já andava arquitetando saídas para essa equação indigesta, que surgiu com a morte de sua filha Maria Eduarda, que tocava o Antiquarius de São Paulo com o marido, Thales Martins Filho. Com a prematura morte de Eduarda, a gestão do negócio passou para as mãos do genro. Fracassou e azedou feio. Hoje, as duas famílias só se falam na Justiça.

— Toda semana temos audiência em São Paulo. Um pesadelo — diz Carlito, que quitou os débitos da filial de Brasília e está negociando com a da Barra.

Especula-se que o débito de aluguel acumulado do Antiquarius Grill gire em torno de R$ 700 mil. Logo, o projeto de abrir uma loja no CasaShopping, programado para os Jogos Olímpicos, foi suspenso há seis meses:

— Chegamos a fazer a impermeabilização do chão, mas vimos que seria inviável. No quadro em que nos encontrávamos, e nos encontramos, não dava para nos aventurarmos — conta Tó, o Antônio, outro filho de Carlos Perico, de 49 anos, que administra as quatro filiais do Da Silva, quilo de pratos portugueses. — É uma operação independente, que felizmente vai bem.

Números, os dois herdeiros dividem, mas não compartilham. Só alguns. Na matriz do Leblon, são 70 funcionários, todos até agora com os salários em dia. O aluguel? Quitado até segundo ordem: os proprietários querem passar de R$ 50 mil para R$ 130 mil. O imóvel, enquanto Antiquarius, continua tombado como patrimônio da cidade. Até quando seguram o tranco? Não sabem. Ou não contam.

Enquanto o martelo não é batido — para partilhar com um sócio ou vender o bolo todo (“Fazer o quê?”, lamentam) —, pensam em lançar uma linha de produtos Antiquarius, que vai do azeite ao vinho, passando pela queijaria.

As obras de arte expostas nos salões do restaurante há tempos não são patrimônio da família. Pertencem ao colecionador e comerciante de arte Miguel Salles. Ou seja, nenhum dos potes chineses ou telas centenárias quitam um centavo sequer.

— E pensar que meu pai abriu o Antiquarius com a venda de 12 cadeiras antigas… — lembra Carlito.

Animador é lembrar que não se trata da primeira crise desse português que fez histórias (boas e más) no Rio, que já esteve em vias de ser despejado quando se ventilou a venda do imóvel. Resistiu firme e forte.

Resta torcer para que a conta feche. E que os Lagareiras, açordas, Bulhões Pato e pastéis de bacalhau continuem honrando a boa fama da cozinha luso-carioca.