DACA ? Um era atleta universitário. Outro, filho de um ex-líder de um grande partido político bengalês. Assim como os dois primeiros, os demais também eram filhos de famílias abastadas e frequentavam escolas de elite e universidades. Mas na última sexta-feira, entraram em um restaurante em Daca e mataram 20 pessoas. Longe da imagem estereotipada de jovens pobres radicalizados nas escolas corânicas, o ataque em Daca revela a estratégia do Estado Islâmico (EI) de recrutar também jovens da classe média.
Os cinco jovens eram bengaleses e tinham por volta dos 20 anos. Alguns haviam sido dado como desaparecidos nos últimos meses. As famílias só tiveram notícias deles após a polícia invadir o restaurante e matar os terroristas que por 11 horas mantiveram dezenas de reféns.
? Não é o meu filho, não é o meu filho ? repetia Mir Hayat Kabir, ao saber que Mir Saameh Mubasheer estava entre os terroristas.
Mubasheer, que tinha 18 anos e estudava na Scholastica de Daca, uma escola inglesa de elite, estava desaparecido desde fevereiro. Para o pai, ele pode ter passado por uma lavagem cerebral.
? Notava que estava sob a influência de alguém. Fomos bons pais, mas o roubaram de nós ? lamentou.
Até o momento, as autoridades de Bangladesh não deram o nome completo dos criminosos, mas publicaram fotos de seus cadáveres. Amigos e a imprensa local começaram, então, a divulgar suas histórias.
Um deles foi identificado por amigos como Nibras Islam, de 22 anos, que estudava no campus malaio da universidade australiana Monash e de quem não tinham notícias desde janeiro.
? Era um bom atleta que todos admiravam ? disse à AFP um amigo que o conheceu na escola.
Nibras também estudou em uma universidade privada de Bangladesh, a North South University (NSU), conhecida depois que um de seus alunos tentou em 2012 detonar uma bomba na sede do Fed em Nova York. No início de 2013, sete estudantes da NSU mataram um blogueiro ateu, Ahmed Rajib Haider, o primeiro de uma longa série de assassinatos similares. Segundo a acusação, os estudantes se radicalizaram pela internet.
Rohan Imtiaz foi mais um dos jovens que participou da tomada de reféns e também teria estudado na universidade Monash na Malásia depois de ter passado pela Scholastica, onde sua mãe leciona. Seu pai, Imtiaz Khan Babul, é um ex-líder do partido no poder em Daca, a Liga Awami, que em janeiro alertou para seu desaparecimento.
? São jovens muito instruídos de famílias abastadas ? disse à AFP o ministro do Interior, Asaduzzaman Khan, que ao ser perguntado por que se tornaram terroristas, respondeu: ? Está na moda.
Apenas um dos cinco criminosos estudou em uma escola madrassa: Khairul Islam Payel, filho de um operário.
? É intrigante o background desses terroristas ? disse Faiz Sobhan, do centro de estudos Bangladesh Enterprise Institute, em Daca. ? Eram jovens normais, que iam a cafés, praticavam esportes, tinham página no Facebook.
Taj Hashmi, um bengalês especialista em questões de segurança na universidade americana Austin Peay State, lembra que os sauditas que lançaram os atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos também eram provenientes de famílias abastadas.
Alguns analistas explicam a ascensão do extremismo no Sul da Ásia pelos discursos de pessoas formadas nas madrassas da Arábia Saudita, a única possibilidade de educação para as crianças de famílias pobres. Mas, segundo Mubashar Hassan, especialista de Islã político da Liberal Arts University de Daca, é um raciocínio equivocado.
? Muitos governos e agências estrangeiras gastaram milhões para modernizar o ensino nas madrassas. O que vão reformar agora? As universidades liberais cujo programa é idêntico ao das ocidentais? ? se pergunta.
Shahidul Hoque, chefe da polícia nacional, disse que os cinco já haviam listados como militantes.
? As forças de segurança fizeram várias tentativas de prendê-los ? disse, descartando conexão com o EI.