LONDRES ? As muitas conquistas de Tony Blair
como primeiro-ministro do Reino Unido ficaram, de certa forma, manchadas por sua
entrada na Guerra do Iraque. Vencedor de três eleições legislativas e chefe de
governo durante um período de prosperidade, o símbolo do ?Novo Trabalhismo? teve
seu legado marcado pela disposição irrestrita para tomar parte num conflito que
muitos de seus compatriotas ? inclusive vários de seus colegas de partido ? veem
como um equívoco, e que seus desafetos mais ferrenhos afirmam ser um crime de
guerra.
Eleito para o Parlamento britânico pela primeira vez em
1983, Blair chegou à liderança do Partido Trabalhista em 1994 e, três anos mais
tarde, levou a legenda de volta ao governo, após 18 anos de domínio dos
conservadores. Já em seu primeiro ano como premier, obteve uma importante
vitória com a assinatura do Acordo de Belfast, que redefiniu a relação da
Irlanda do Norte com o Reino Unido e pôs fim ao conflito entre católicos e
protestantes que há décadas assolava a região.
Ao lado de Gordon Brown, que viria a suceder-lhe em
2007, Blair deixou de lado o compromisso do partido com a nacionalização da
indústria e aproveitou o bom momento econômico, ampliando gastos em saúde e
educação ? o que lhe rendeu duas reeleições. No entanto, os ataques terroristas
de julho de 2005 em Londres e as críticas cada vez mais severas à Guerra do
Iraque acabaram por minar sua popularidade.
Nos últimos anos, o ex-premier atuou como emissário no
Oriente Médio do Quarteto Diplomático (ONU, EUA, União Europeia e Rússia), mas
deixou o cargo no ano passado sem obter resultados expressivos. Na campanha do
referendo britânico, Blair teve rápida participação, alertando para os perigos
de uma saída do bloco europeu, mas não teve impacto junto ao eleitorado.