Cotidiano

Debate defende ouvidos abertos para o que os alunos têm a dizer

201609231737201852.jpgRIO ? Ouvir o aluno muda a escola. O Educação 360 reuniu nesta sexta-feira três casos, na mesa ?Educação e Comunidade?, em que a participação de pais, alunos e professores atentos foi fundamental para projetos de sucesso. O encontro internacional é realizado pelos jornais O GLOBO e “Extra” na Escola Sesc de Ensino Médio em parceria com o Sesc e apoio da Coca-Cola Brasil, da TV Globo e do Canal Futura.

O Projeto Territoriar, por exemplo, mostrou um modelo de debate com estudantes de 15 escolas em quatro estados (Paraná, Santa Catarina, São Paulo e Minas Gerais) que decidiram quais espaços físicos dos colégios seriam resignificados. Essa é a proposta do Territoriar para transformar escolas.

? O diálogo inicia falando dos ambientes educativos como forma de inspirar o aprendizagem das crianças, o quanto a qualidade dos espaços pode contribuir com a qualidade da educação. Percebemos que a maior demanda é por colocar cor nas escolas ? contou Scheila Pomilho, coordenadora do projeto.

Com ela, estava o diretor da Escola Municipal de Ensino Fundamental Dama Entre Rios Verdes, de São Paulo, que foi uma das escolas que teve um ambiente transformado pelo territoriar a partir dos debates dos alunos. Marco Antônio Mattos de Abreu contou que o colégio, assim como, na avaliação dele, todos os outros da rede, é construído no mesmo formato de uma prisão, o que deixa o ambiente árido, violento.

? O Territoriar abre os nossos olhos para além do espaço de sala de aula, um espaço que se abre para a formação. Depois do projeto, chamamos a criança para debater. E a primeira coisa que acontece é a violência cair.

A educadora Maria do Pilar afirmou que chama atenção a maneira como o projeto transforma salas de aula do modelo tradicional, com cadeiras em fileira, para desenhos mais ?democráticos?, em círculos e diferentes composições.

? Isso tem tudo a ver com a educação integral como concepção. Ele não está pensando só na parte estética, que é super importante, mas também em acolhimento e nisso impactando o projeto político pedagógico da escola ? defende.

JOGO EDUCATIVO

Outro estudo de caso apresentado foi o Instituto Alana, que realiza o prêmio Criativos da Escola, que reconhece projetos que valorizam a empatia, o protagonismo, a criatividade e o trabalho em equipe. Carolina Pasquali, diretora de comunicação do instituto, levou o projeto de uma escola em Sobradinho, no Distrito Federal, como um bom exemplo. Uma turma de história do Centro de Educação Nery Lacerda passou a estudar com a ajuda de um jogo.

? Eles tinham que prestar atenção na aula para poder construir os cenários daquela época no jogo. Foi a ideia de um aluno. Quando eu deixei eles falarem e passei a ouvi-los,diminui o número de alunos em recuperação. Eles sabiam como resolver esse problema ? conta o professor Jefferson.

Para o educador César Calegari, também presente no encontro, o trabalho de autoria deve ser um tema central no processo de aprendizagem. De acordo com ele, é preciso abandonar a ideia clássica de que o aluno não é autor de conhecimento e deve apenas receber informações.

? A autoria de natureza criativa é fundamental para integrar. É errado a proposta do governo para o ensino médio que pretende combater o número excessivo disciplinas diminuindo o currículo. Tem que haver processos integradores, que tenham significados aos alunos ? defendeu.

O encontro também teve a presença do historiador Sidney Aguilar Filho, autor da tese de doutorado em História da Educação na qual foi inspirado o documentário Menino 23. O pesquisador dava uma aula em 1998 sobre a Segunda Guerra Mundial quando uma aluna disse que conhecia uma fazenda feita de tijolos com o símbolo do nazismo. A investigação de Sidney levou à história dos 50 meninos que foram escravizados pela família Rocha Miranda, influente na região e no Rio, a então capital do Brasil. O historiador, então, conseguiu encontrar duas vítimas ainda vivas: Aloísio Silva e Argemino Santos. E a história virou filme.

? Uma das coisas mais encantadores que ouvi aqui foi a defesa da necessidade de ouvir os nossos alunos. Foi numa aula de história que uma aluna me reportou a existência de tijolos com a suástica nas terras da família. Ainda é muito comum que a nós, professores, não levarmos a sério quando um aluno fala. Isso é um erro.

* Do “Extra”.