Com um iPhone nas mãos, que usa para abastecer o
Instagram com fotos de Miami, unhas coloridas e brincos adornados com os anéis
olímpicos, Yulia Efimova tenta ser uma garota normal de 24 anos residente há
quatros nos Estados Unidos. Mas ela não consegue se enturmar com as americanas.
Banida da Olimpíada por uso de doping no passado, e depois liberada com mais
seis nadadores russos pela Federação Internacional de Natação (Fina) para
competir, a nadadora ganhou a prata nos 100m peito e muitas vaias da torcida na
segunda-feira. Em uma cena de bullying pública, foi alfinetada pela campeã Lilly
King, engoliu o choro, mas rebateu, reacendendo a clássica disputa da Guerra
Fria no quente deck da piscina do Estádio Aquático.
Desidroepiandrosterona, ou DHEA, um esteroide, tirou
Efimova das piscinas por 1 ano e quatro meses. Ela voltou em fevereiro de 2015,
mas continua afastada do convívio nos bastidores. É como se a nadadora não
estivesse lá. Não fossem as vaias que recebia a cada vez que seu nome era citado
ou seu rosto aparecia no telão, ela continuaria ignorada pelo público, como é
pelas atletas. Ao conquistar a prata, não recebeu um cumprimento por parte de
Lilly King e da terceira colocada, a também americana Katie Meili. Para evitar
mais constrangimentos, as câmeras, em certo ponto, pararam de filmá-la.
? Se eu fosse Efimova, eu não ia querer receber os
parabéns de alguém que não tem a intenção de fazê-lo. Me desculpe, ela nadou
bem, mas eu estava concentrada na minha comemoração com a Meili ? disse
Lilly.
A imagem é nítida. Efimova se aproxima, mas Lilly vai até
a raia de Meili e as duas ficam por lá, de costas para a russa. Depois, Lilly
não poupou críticas, e os jornalistas russos relataram que interpretaram a
postura da americana como arrogante. As duas ainda devem se encontrar na
semifinal dos 200m peito, hoje. Em Moscou, ainda segundo os jornalistas, a
população acredita que está em curso uma conspiração política para minar a força
esportiva do país. Roteiro de filme de espionagem.
? Eu tenho que respeitar a decisão do COI (Comitê Olímpico Internacional),
competir e não deixar me afetar. Mesmo que seja algo que eu não concorde. Doping
é uma infelicidade e acredito que as entidades devam tomar uma atitude e jamais
voltar atrás. Eu trabalhei duro e ganhei minha primeira medalha. Estou limpa e
certa. As pessoas flagradas deveriam participar de competições? Eu acho que não
? disse Lilly, de 19 anos.
Em quatro anos de EUA, 30 dias de Rússia
Yulia futucava o telefone, mas ouvia com atenção. Rebateu em inglês. No meio
da declaração, pediu para falar em russo. Há quatro anos nos EUA, garante que
voltou ao país natal por apenas 30 dias. Não respondeu com precisão se sabia
como funcionava o programa de doping estatal apontado em investigação da Agência
Mundial Antidoping (Wada), que causou o banimento de 30% da delegação russa
geral, incluindo 33 nadadores.
? Uma vez, eu cometi um erro e fui punida. Depois, não
foi erro meu. Eu não tenho tempo para saber o que ocorre com os outros atletas
russos. Eu me preocupo comigo e faço o que posso fazer. É triste quando a
política interfere no esporte. Eu acreditava que a Guerra Fria havia ficado no
passado. Eu entendo as pessoas que não me cumprimentam, porque os jornais estão
repletos de histórias falsas sobre mim ? disse Efimova, ainda emocionada após
chorar muito no pódio, no início da madrugada, quando o público já se retirava
do Estádio Aquático.
Michael Phelps, maior vencedor da história olímpica, com 23 medalhas, 19 de
ouro, confessou estar decepcionado por não ter a certeza de competir em um
esporte limpo.
? É triste que haja pessoas testando positivo e sendo liberadas de volta ?
declarou Phelps