Dois anos depois de ser descoberto, o suposto esquema de venda ilegal de ingressos revelado durante a Copa do Mundo de 2014, está perto de ser julgado.
A Operação Jules Rimet, deflagrada pela Polícia Civil do Rio em julho de 2014, resultou na prisão de 12 pessoas, das quais 11 viraram rés. Entre elas, o argelino Mohamadou Lamine Fofana, apontado como chefe da quadrilha.
De acordo com o promotor responsável , Marcos Kac, da 9ª Promotoria de Investigação Penal, o julgamento deve ocorrer nas próximas semanas. O Ministério Público já apresentou as alegações finais, e falta o posicionamento da defesa.
? Para mim, é o trabalho de uma máfia. Está mais do que provado ? argumenta Kac.
A acusação envolve cinco crimes: cambismo, desvio de ingresso para câmbio, lavagem de dinheiro, corrupção ativa e organização criminosa.
Além de Fofana, os outros dez réus são: Alexandre da Silva Borges, Alexandre Marino Vieira, Antonio Henrique de Paula Jorge, Ernani Alves da Rocha Junior, Fernanda Carrione Paulucci, José Massih, Julio Soares da Costa Filho, Marcelo Pavão da Costa Carvalho, Ozeas do Nascimento e Sérgio Antonio de Lima.
Fofana seria o responsável por repassar os ingressos ao resto do grupo, que venderia as entradas com um preço superfaturado. A estimativa é que o esquema rendesse R$ 1 milhão por jogo.
A advogada do argelino, Lilian Rosemary Weeks, afirma, no entanto, que seu cliente não vendeu nenhum ingresso, apenas presenteou eles a amigos.
Fofana, ex-jogador, é empresário e tem relações com personalidades do mundo do futebol. Durante a Copa, organizou diversas festas no Brasil.
? Ele é um homem da alta sociedade. Tem escritório em Dubai, os amigos dele são milionários. Ele iria vir aqui vender ingresso para ganhar o que? ? questiona Lilian.
A advogada garante que o empresário não tinha conta bancária, e que, por isso, não teria como remeter dinheiro para o exterior. Fofana recebeu permissão para viajar durante o julgamento, e hoje está na França, onde viva a sua mão.
BRITÂNICO FORA DO CASO
Da operação original, apenas um dos presos não se tornou réu. E foi logo aquele que se tornou o rosto mais conhecido do processo: o britânico Raymond Whelan.
Whelan era diretor-executivo da Match Services, empresa que vendida pacotes de ingressos e hospedagens do torneio, e foi acusado de repassar entradas vips para Fofana.
Em fevereiro de 2015, no entanto, o britânico foi excluído do processo pelo Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ).
Na época de sua prisão, foi divulgada a informação de que Whelan e Fofana trocaram em torno de 900 ligações. Mais tarde, descobriu-se que esse número foi exagerado. Mas defesa e acusação divergem sobre as razões.
Kac afirma que o número representa as tentativas de contato, incluindo, por exemplo, chamadas não atendidas. E minimiza a polêmica, dizendo que foi uma ?cortina de fumaça?.
Para embasar seu argumento, cita uma das conversas, que foi gravada, em que os dois negociam 24 ingressos por um total de US$ 600 mil (cerca de R$ 2 milhões), que seriam pagos em dinheiro
? Se o cara está vendendo ingresso a sobrepreço, qual a diferença de quantas ligações ele recebeu do Fofana? Para mim, quem pede 600 mil dólares em cash não vai jogar no sistema convenciona ? reclama.
Para Fernandes, no entanto, o que aconteceu foi um erro na contagem de ligações, que teriam sido multiplicadas. Ele garante ainda que, independente da duração, não há crime nas conversas, já que Whelan era autorizado a vender os ingressos.
? Os 17 minutos que foram gravados foram transcritos pela defesa, com a comprovação de que não houve crime de cambismo ? ressalta.
O advogado considera que a exclusão de Whelan foi uma maneira do TJ corrigir um erro cometido contra ele.
? Se, por um lado, o mundo viu a injustiça que foi cometida contra ele, o Judiciário soube corrigir ? elogia.
Kac afirma que haviam outras ramificações do suposto esquema para serem investigadas, mas conta que isso não foi possível devido à curta duração da Copa do Mundo. O promotor adota uma narrativa ambiciosa para o caso, posicionado a operação como o começo da queda da cúpula da Fifa, intensificada em 2015.
? O secretário-geral caiu, o presidente caiu. Derrubamos toda a hierarquia da Fifa. Se existia alguma operação no FBI antes da Jules Rimet, ela certamente foi impulsionada ? exalta.
Em breve, o TJ decide se o caso entrará para a história como um enorme esquema de corrupção ou um grande injustiça.