Alugueis RIO – Houve uma época em que alugar apartamento no Rio era um verdadeiro teste de paciência. Os preços estavam nas alturas, e os futuros inquilinos se acotovelam para selar um contrato. Houve. Esta realidade está cada dia mais distante. No mês passado, o valor médio do metro quadrado para locação na cidade chegou ao nível mais baixo dos últimos quatro anos, fechando junho em R$ 33,99, segundo levantamento da plataforma digital imobiliária VivaReal. Enquanto isso, pelo Índice FipeZAP, os valores se equipararam ao patamar de setembro de 2011, que era o menor até então: R$ 36,19, levando-se em conta a inflação.
? Além do aumento da disponibilidade de imóveis para locação, também podemos notar um aumento da oferta do aluguel mais barato ? analisa o CEO do VivaReal, Lucas Vargas. ? Este cenário, somado à maior flexibilidade de negociação proporcionada pela instabilidade da economia, é o que ajuda a diminuir o valor médio.
A última pesquisa do VivaReal também identificou que o aluguel apresentou desvalorização nominal de 17,1% no final do segundo trimestre de 2016, quando comparado com o mesmo período no ano passado. E, considerando a inflação, os preços tiveram queda real de 26,1%
Como lembra o professor de Economia da Faculdade Mackenzie, Marcelo Anache, nos últimos quatro anos, os preços tiveram um aumento de grande proporção, alimentados pela euforia em torno dos grandes eventos que tiveram a cidade como destino, como Copa e Olimpíadas.
FESTA DOS INQUILINOS
? O país estava em evidência, com destaque para o Rio, e um ciclo de investimentos começou fervilhar. Agora, isso chega ao fim, com a crise de setores diretamente relacionados à economia da cidade, como a Petrobrás, além do encolhimento dos principais indicadores de de atividade, como emprego e consumo ? comenta ele sobre os aspectos por trás das mudanças no mercado. ? Além disso, houve a redução no crédito para a compra de imóveis. Os proprietários, então, desistiram da venda e passaram a preferir o aluguel, aumentando a oferta.
Para os inquilinos que vivenciaram o auge da coqueluche imobiliária carioca, o cenário proporcionou um alívio nas finanças. Além dos preços naturalmente mais baixos, eles ganharam um alto poder de negociação com os proprietários. É o caso do médico Eduardo Falcão, que acabou de assinar um contrato de 30 meses por um apartamento de dois quartos na Tijuca.
? Foram três meses de pesquisa e, no fim do processo, percebi que os preços estavam mais baixos e os proprietários mais abertos à negociação do que no começo do processo. Fechei um aluguel de R$ 1.900, R$ 300 a menos do que a oferta inicial. Foi exatamente o que pedi ? comemora.
O momento também é bom para quem está prestes a renovar o contrato. Com jeitinho, dá até para conseguir uma redução no valor do aluguel. É o que diz a diretora-executiva da Nova Aliança, Tassiana Cardoso Guimarães.
? É interessante que os proprietários cedam um pouco, para não correr o risco de perder aquele cliente. Muitos já têm a consciência de que não conseguirão alugar novamente pelo mesmo valor ? diz ela. ? Quem não se adequar aos novos preços periga ficar muito tempo com o imóvel parado. Aí o prejuízo pode ser alto. Tenho uma cliente que alugava um apartamento de 90m² em Botafogo por R$ 4 mil e, após a entrega pelo inquilino, baixou para R$ 3 mil. Com isso, conseguiu alugar em apenas duas semanas.
Mesmo com a queda nos valores, tem imobiliária comemorando os contratos fechados. A Renascença contabilizou um aumento de 18% nos negócios neste segundo trimestre, em comparação com o mesmo período no ano passado.
? O mercado está aquecido. Estamos fazendo mais negócios, mas com valores menores. Se antes a gente alugava cem imóveis por R$ 1.500, hoje alugamos 120 por R$ 1.380 ? exemplifica o vice-presidente da administradora, Alexandre Parente.
ESTRATÉGIAS DE VENDA
Para dar mais gás ainda aos negócios, a empresa também tem lançado mão de estratégias para atrair os clientes, como feirões e diminuição da burocracia na hora de fechar negócio.
? Instruímos nossos locatários a darem brindes, como abonar um mês de aluguel, e levamos isso para um feirão. Foi um sucesso ? conta ele.
Já para os proprietários, que só vêm os preços caírem nos últimos anos, parece que finalmente chegou a luz no fim do túnel. Segundo os especialistas, a tendência, agora, é estabilizar.
? Percebemos um aumento em investimentos internacionais e até um cenário em que as incorporadoras já acham que vão poder voltar a lançar no fim do ano ? comenta o CEO do VivaReal, Lucas Vargas. ? Além disso, a tendência no último trimestre no Rio foi de estabilização dos indicadores.
O economista da Fipe, Eduardo Zylberstjan, também vislumbra certa estabilidade.
? A gente consegue ver alguns poucos sinais de interrupção na piora, embora ainda não perceba sinal de uma recuperação mais firme ? avalia.
Segundo ele, entretanto, nada disso significa que os preços vão chegar aos mesmos valores registrados antes da alta.
? Não acho que a gente vai ter uma redução como aconteceu em outros países, que sofreram com graves crises imobiliárias. Apostar que vamos ter uma volta a preços de 2007 e 2008 é arriscado. Não vejo justificativa para isso, pelo menos, por enquanto ? finaliza.