RIO – A reportagem de capa para o Rio de Janeiro da revista “Veja” mostra que o senador e candidato à Prefeitura pelo PRB, Marcelo Crivella, foi fichado e preso em 18 de janeiro de 1990, ao tentar resolver a força um problema de invasão de terreno da Igreja Universal. O inquérito sobre o caso desapareceu e nenhuma fonte soube explicar à publicação a razão de o registro ter desaparecido. À época, Crivella era engenheiro responsável pela construção de uma Igreja Universal em Laranjeiras. Conforme O GLOBO apurou, ele também trabalhava na Empresa de Obras Públicas do Estado, de onde foi dispensado, a pedido, no dia 27 de março de 1990. Ele tomara posse na Emop no dia 18 de maio de 1987.
Crivella era pastor iniciante num templo em São Paulo e estava de passagem pelo Rio quando houve foi à propriedade e acabou na delegacia. Crivella passou o dia preso na 9ª DP, no Catete. Segundo a revista, a ficha só teria voltado aos arquivos oficiais há seis meses, na forma de uma discreta anotação em um cadastro estadual de acesso restrito.
As informações sobre o inquérito foram passadas pelo próprio Crivella à “Veja”, após a revista ter pego a imagem com uma pessoa que a guardou por décadas. O senador conta que o inquérito havia sido arquivado um ano após o fato e o delegado da época, João Kepler Fontenelle, lhe entregou o documento e os negativos das fotos. Ele afirma à revista que a IURD ameaçava processar o delegado pela forma como conduzira o caso. Fontenelle, segundo Crivella, queria constrangê-lo, e a entrega dos negativos seria a garantia de que as fotos comprometedoras e o próprio inquérito nunca mais veriam a luz do dia.
Em 1986, a Universal comprou um punhado de imóveis no bairro das Laranjeiras, na Zona Sul do Rio, e pôs tudo abaixo. Parte do espaço de 840 metros quadrados foi alugada para a instalação de um estacionamento. Outra parte, na Rua Senador Vergueiro, foi reservada para a construção de um templo da IURD. Enquanto a obra não começava, Nilton Linhares, de 29 anos, largou a função de motorista e viveu de vigia no local, onde ergueu um casebre com o material cedido pela própria igreja e se instalou com a família.
Quando a igreja quis o terreno de volta, ele reivindicou o direito de posse e se recusou a sair. Crivella disse que o fato o deixou “revoltado”.
“Acordei de manhã, peguei os caminhões que a gente tinha e fui para lá. Arrebentei aquela cerca. Entrei lá dentro. Comecei a tirar as coisas dos caras e botei em cima do caminhão. Mas não toquei nas pessoas”, disse. “Tinha uns dez homens comigo”, acrescentou.
A versão dos advogados de Linhares é diferente. Crivella teria ido ao terreno duas vezes. Numa terça, 16, cortou o acesso ao terreno colocando obstáculos, que foram retirados. Na quarta, chegou violento. Arrombou o portão com um pé de cabra e, acompanhado de seguranças armados de revólver, ameaçou a esposa e as duas filhas de Linhares, morto há 15 anos.
Crivella nega. Acionada, a polícia levou o pastor à delegacia, onde passou o dia preso. À noite, saiu com a condição de voltar no dia seguinte. Voltou, foi fotografado e passou mais quatro horas detido. No inquérito, a advogada afirma que ele teria sido “humilhado e taxado (sic) de pastor ladrão”.
UM ANO DEPOIS, ÁFRICA
Meses depois de assumir o cargo na Emop, em outubro de 1987, Crivella passou a constar como responsável técnico da empresa Unitemple Universal Engenharia, segundo registro existente no site do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio (Crea-RJ). A firma foi criada basicamente para cuidar das obras de templos da Igreja Universal.
Um ano depois da prisão, Crivella foi morar na África, onde morou por oito anos comomissionário da Igreja Universal.