Cotidiano

?Mestres navegantes? investiga a música das raízes do Pará

RIO – A produção contemporânea pop paraense tem tido enorme atenção nos últimos anos ? fruto de um sopro de renovação real, muitas vezes vindo de um diálogo com elementos tradicionais da música do estado. Parte dessas raízes são iluminadas nos discos ?Mestres navegantes ? Pará volume 2 ? Bragança e Cametá? (Natura Musical). São dez grupos da região, em 50 faixas que passeiam pela tradição de gêneros como ladainha, retumbão, pássaro junino e samba de cacete.

Projeto do músico, produtor e pesquisador Betão Aguiar, a série ?Mestres navegantes? inclui registros em vídeo e áudio de manifestações populares musicais pelo interior do Brasil. A primeira etapa, dedicada a São Luiz do Paraitinga (SP), foi lançada em 2011. Desde então, foram gravadas 442 músicas (19 discos), com 94 grupos e mestres de 35 cidades diferentes, 15 documentários de curta-metragem, 10 programas de rádio, além do registro fotográfico e um recém-lançado remix feito por Felipe Cordeiro e Klaus Sena (?Forró do remoído?, da Banda de Pife Carcará).

Agora, Betão volta ao Pará, que ele já investigara em 2014 ? num volume sobre o boi bumbá e o carimbó:

? Seria uma tristeza concluir essa etapa paraense sem ter gravado a Marujada de São Benedito de Bragança e os mestres de Cametá ? explica Betão.

O produtor destaca o caráter único das misturas que se deram na região, desembocando em ?tradições culturais que não encontramos em nenhum outro lugar do Brasil?:

? Ir para esses lugares foi uma escolha que se deu pela riqueza cultural centenária das cidades, com participação relevante em momentos importantes da história do país desde os tempos da colonização, da cabanagem, dos ciclos do café e da borracha ? avalia. ? São berços de muitas matrizes da identidade proveniente da miscigenação de portugueses, negros e indígenas.

Os discos trazem grupos como Bambaê do Rosário de Juaba, Grupo Engole Cobra e Pássaro Bragantino. Betão diz que os dois volumes paraenses não esgotaram o estado.

? Não foi possível ir aos festejos do Sairé e às reservas indígenas do Xingu. Mas quem sabe um dia conseguimos.