SÃO PAULO – Não aconteceu a aguardada acareação entre o maestro John Neschling, diretor artístico do Teatro Municipal de São Paulo, e José Luiz Herência, ex-diretor administrativo da Fundação Theatro Municipal, e William Nacked, ex-diretor da organização social Instituto Brasileiro de Gestão Cultural (IBGC), proposta pera esta quarta-feira pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara dos Vereadores de São Paulo que investiga desvios nas contas do teatro.
Neschling não apareceu e os vereadores pedirão à Justiça que ele e sua mulher, a escritora Patrícia Mello, que também havia sido convocada, sejam conduzidos coercitivamente à próxima sessão da comissão. O pedido incluirá o confisco do passaporte do maestro e a suspensão de seus salários. Nacked apresentou habeas corpus e disse que mais cedo apresentou-se ao Ministério Público para um depoimento.
Em nota assinada pelo advogado de Neschling, Eduardo Carnelós, o maestro justificou a ausência dizendo que “que os mentirosos que o acusam continuarão a fazê-lo, mesmo contra todas as evidências apresentadas, e que, em tais circunstâncias, a acareação corria o risco de virar uma ‘briga de rua'”. No dia 17, o maestro depôs por 5 horas e meia à CPI, ocasião em que respondeu às perguntas dos vereadores sobre seu salário, contratos e como funcionavam as sugestões de artistas.
O único a prestar depoimento foi Herência, que admitiu estar envolvido em um esquema de corrupção do qual fazia parte Nacked e também Neschling. Segundo o ex-diretor administrativo do Theatro Municipal, o maestro indicava artistas, estabelecia valores e fechava contratos. O acordo previa que o regente tivesse ganhos no exterior, enquanto os dois outros participantes do esquema se beneficiariam dentro do país.
Em nova nota enviada à imprensa, Carnelós criticou a comissão por ignorar a petição que solicitava a suspensão da convocação de Neschling e pelas medidas de condução coercitiva, confisco de passaporte e suspensão de salário do maestro. “É lamentável assistir a tamanho abuso, como se a CPI pudesse cassar o direito que o maestro tem de proteger sua imagem, sua dignidade e sua honra, e como se pudesse puni-lo por isso, fazendo-o objeto da vontade dos investigadores, a serviço de finalidades políticas. O absurdo foi tão evidente, que Herencia foi tratado como herói, e suas mentiras tomadas como verdades. As acusações nem mesmo fazem sentido, e Neschling usará os instrumentos jurídicos disponíveis para arrostar o arbítrio que se pretende consumar contra ele.”