BRASÍLIA – Após uma semana de tensão no Senado e sob a expectativa da delação dos executivos da Odebrecht, o início da tramitação do projeto que define os crimes de abuso de autoridade foi adiado. O relator da proposta, senador Romero Jucá (PMDB-RR), havia dito a interlocutores que anunciaria esta semana o cronograma de debates do texto. Mas, agora, o peemedebista quer esperar para ver se o clima nos próximos dias estará mais ameno para, somente então, lidar com o tema.
O temor de Jucá é que qualquer movimento em relação ao projeto seja visto como uma provocação à Justiça e à Polícia Federal. Isto porque há a perspectiva de que a Odebrecht finalmente assine acordo de delação premiada nas próximas semanas.
Além disto, Jucá quer esperar a temperatura baixar no Senado. O clima ficou tenso desde que o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), reagiu duramente contra os responsáveis pela prisão de policiais legislativos, acusados de cometer ilegalidades ao realizarem varreduras para detectar escutas telefônicas nas residências de senadores.
? Não dá para tratar esse projeto em um clima de beligerância. O problema não é o que está escrito, é a forma política de colocar ? ressaltou Jucá a aliados.
Publicamente e também nos bastidores, Renan Calheiros continua a pressionar pela votação da medida. O tema causa polêmica, principalmente, devido ao timing escolhido pelo presidente do Senado para desengavetar o projeto.
O anúncio de que a medida sobre abuso de autoridade seria votada foi feito por Renan Calheiros pouco depois de o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ter pedido a prisão do presidente do Senado, do ex-presidente da República José Sarney (PMDB-AP), do então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e de Jucá, em junho deste ano.
O movimento de Renan foi vista como uma retaliação a Janot e gerou reação entre os investigadores da Lava-Jato. Para procuradores envolvidos na operação, a aprovação do projeto pode intimidar a atuação nas investigações e na segurança pública como um todo.