Cascavel O modal rodoviário, principal responsável pela integração de todo sistema de transporte do Brasil, é mais um setor que amarga as ingerências da União. Sem ou com pouca manutenção, ausência de fiscalização e investimentos somada ao excesso de peso das cargas, que vão muito além do permitido, demonstram um cenário cada vez mais drástico.
É o que mostra a 20ª edição da Pesquisa CNT (Confederação Nacional do Transporte), que avaliou 103.259 quilômetros, abrangendo toda a malha rodoviária federal e as principais rodovias estaduais pavimentadas do País. Isso representa um acréscimo de 2,5% com relação à extensão pesquisada no ano anterior.
Segundo o SNV (Sistema Nacional de Viação), utilizado como base para a pesquisa, as rodovias pavimentadas brasileiras compreendem 211.468 quilômetros de extensão ante os 1.351.979 quilômetros de rodovias não pavimentadas. Numa análise estadual, dos 6.244 quilômetros pesquisados no Paraná, que em um estado geral tem 54,5% de suas estradas em condições regulares (33,7%), ruins (17,4%) e péssimas (3,4%), que juntas representam 3.411 quilômetros. Apenas 11,2% apresentam ótimas condições de tráfego e 34% boas.
Características
Mais de 80% das rodovias que cortam o Estado são pistas simples de mão dupla, o que representa 5,1 mil quilômetros do total avaliado, contra os 869 quilômetros de pistas duplas. Quase 43% das estradas paranaenses estão desgastadas, e outros 28,3% com remendos, segundo a pesquisa.
Entre os três itens centrais da pesquisa, o pior desempenho do Paraná foi em relação à geometria da via. São mais de 4,7 mil quilômetros em condições regulares a péssimas, 76% do total avaliado. O pavimento, por sua vez, tem 2,4 mil quilômetros em ótimas condições. Já a sinalização divide-se entre bom (2.588 km) e regular (1.716 km).
O levantamento deu ao Estado outro índice nada positivo. Conforme a CNT, o trecho entre Cascavel e Barracão, que compreende as rodovias BR-163, PR-163, PR-182 e PR-582, ocupa a 9ª colocação no ranking das piores malhas viárias do País. No geral, a condição do trecho, que pertence à União, é regular, e tem carências principalmente na sinalização e condições do pavimento.
Acidentes de trânsito
O ritmo de crescimento da frota de veículos que circulam pelas rodovias brasileiras, que cresceu 110,4% nos últimos dez anos, está comprovadamente muito além da expansão da malha rodoviária pavimentada é mais um reflexo negativo do modelo de transporte, implicando no aumento do número de acidentes. Como a principal alternativa de locomoção, seja para curtas ou longas viagens, as ocorrências em rodovias chegaram a 121.348 em todo o País, 5,6 mil delas fatais. Os acidentes, conforme a CNT, acumularam um custo de R$ 11,1 bilhões aos cofres públicos somente em 2015, principalmente porque 60.165 quilômetros do total pesquisado estão em condições inadequadas de tráfego.
Descentralização das rodovias federais aos estados
Em média, a cada ano, a extensão das rodovias federais pavimentadas cresce aproximadamente 1,5%, o que resultou em uma ampliação em torno de 12% no acumulado dos últimos 10 anos, conforme a pesquisa. Entretanto, de 2015 a 2016, percebe-se uma redução da extensão de rodovias federais pavimentadas (2,7%).
Essa redução é resultado, segundo a CNT, da transferência de 4.500 quilômetros de rodovias federais para os estados e ao Distrito Federal por conta da MP 082/2002, que descentraliza até 18 mil quilômetros da malha rodoviária federal aos estados. Durante o período de vigência da MP, a União descentralizou 14.506,2 quilômetros de rodovias a Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Bahia, Paraná, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins, Pernambuco, Piauí, Espírito Santo, Amazonas, Paraíba, Roraima e Rondônia. O repasse totalizou um montante de R$ 1,89 bilhão.
Poluentes atmosféricos
Não bastasse o prejuízo causado à via por conta principalmente do excesso de carga e as falhas na manutenção, o setor transportador é responsável também por outro grave problema. Segundo dados do Balanço Energético Nacional, o segmento aumentou em 62,6% o consumo energético de 2004 a 2015, tornando o maior consumidor de óleo diesel do País e o segundo maior consumidor de energia, com participações de 77,8% e 32,2% respectivamente. Todos esses percentuais refletem diretamente no meio ambiente, como aponta o 2º Inventário Nacional de Emissões Atmosféricas por Veículos Automotores Rodoviários. Em relação aos poluentes atmosféricos, 40% foram provenientes de caminhões, 38% de automóveis, 10% de ônibus e micro-ônibus, e 12% de outros veículos.