Cotidiano

Obama: Trump deve se impor sobre a Rússia

OBAMA-GERMANY_BERLIM ? Em sua última viagem à Europa como presidente, o líder americano Barack Obama destacou nesta quinta-feira a importância da Otan, no momento em que os países membros temem o futuro da aliança após a eleição de Donald Trump. Obama se reuniu em Berlim com a chanceler alemã, Angela Merkel, a quem muitos consideram a nova porta-voz dos valores democráticos mundiais desde a eleição de Trump. O presidente exortou o republicano a se impor sobre a Rússia quando valores e normas internacionais estiverem em risco.

? Nossa aliança com nossos parceiros da Otan tem sido uma pedra angular da política externa dos EUA por quase 70 anos ? afirmou o presidente.

Obama aproveitou a coletiva para defender o acordo climático, um tema que também levanta dúvidas em um futuro governo Trump.

? Ambas as nações ficaram orgulhosas de aderir ao acordo climático de Paris, que o mundo deveria trabalhar para implementar rapidamente ? disse.

Questionado sobre a Rússia, Obama disse que há provas do envolvimento russo em ciberataques, mas afirmou que os Estados Unidos têm interesse em trabalhar junto com o país.

? A Rússia é uma superpotência militar, tem influência na região e ao redor do mundo. É nosso interesse em trabalhar com a Rússia ? afirmou.

Em tom bem-humorado, Obama agradeceu a parceria de Merkel durante esses oito anos em que esteve à frente da Casa Branca.

? Essa é a minha sexta visita à Alemanha. E não será a última ? brincou.

Obama citou ainda os esforços da coalizão internacional para destruir o Estado Islâmico, e acusou o regime de Bashar al-Assad e a Rússia de perpetrar ataques indiscriminados contra civis no país.

O presidente lembrou o 27º aniversário da queda do muro de Berlim e relembrou os compromissos dos Estados com a democracia e com a dignidade de todas as pessoas de todo o mundo.

Merkel, por sua vez, disse que sem Obama o acordo climático não teria acontecido e prometeu continuar a cooperar com o novo governo nos EUA e ajudar nos esforços contra o Estado Islâmico.

Na quarta-feira, Obama jantou com Merkel, a quem definiu como sua ?parceira internacional mais próxima nos últimos oito anos?.

Muitos analistas e veículos de comunicação veem neste encontro uma forma de passar o bastão, levando em conta que alguns de seus partidários consideram que Merkel poderia se tornar a nova líder do mundo livre após a eleição de Trump.

ENCONTRO COM OUTROS LÍDERES

Na sexta-feira, os dois chefes de Estado participarão de um encontro com líderes de Reino Unido, França, Itália e Espanha. Para encerrar esta última viagem internacional como presidente dos Estados Unidos, Obama seguirá para o Peru, onde participará da cúpula do Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec).

Em seu discurso, em Atenas, Obama pediu uma correção no rumo da globalização para evitar o auge das desigualdades.

Após a vitória de Trump, a viagem de Obama se tornou uma tentativa de tranquilizar a opinião mundial ante a chegada do polêmico bilionário à Presidência dos Estados Unidos.

? O caminho mundial da globalização precisa de uma correção de rumo ? disse o presidente. ? Quando vemos as pessoas, as elites mundiais, ricas multinacionais, vivendo na aparência com regras do jogo distintas, sonegando impostos, manipulando os vácuos legais (…), tudo isto alimenta um profundo sentimento de injustiça.

Durante sua viagem, Obama abordou, em várias ocasiões, a frustração que levou as pessoas a fazerem escolhas extremas, como Trump nos Estados Unidos ou o Brexit no Reino Unido.

Na terça-feira, o presidente americano já tinha advertido para o auge de ?uma espécie de nacionalismo tosco ou de identidade étnica ou de tribalismo, que se constrói ao redor de um ?nós? e um ?eles??.

Os países europeus, especialmente os do leste, mais próximos da Rússia, temem que Donald Trump ponha em dúvida o compromisso dos Estados Unidos com a Otan, que lhes assegura proteção militar.

Durante a campanha, Trump também comemorou a decisão do Reino Unido de deixar a União Europeia (UE) e criticou duramente os tratados de livre comércio.

Apesar disso, Obama insistiu na Grécia em que a unidade da Europa e da Otan, que é ?absolutamente vita? para os interesses americanos, continuariam sendo a pedra angular da política externa do seu país.