Cotidiano

Cooperativas empregam quase metade dos estrangeiros que vivem no Oeste do Paraná

Matelândia- 22-10-2020 - Abatedouro de aves da cooperativa lar em Matelândia - Foto : Jonathan Campos / AEN
Matelândia- 22-10-2020 - Abatedouro de aves da cooperativa lar em Matelândia - Foto : Jonathan Campos / AEN

Cascavel – As mortes de 10 trabalhadores registradas na explosão de unidades de grãos da C. Vale, em Palotina, no dia 27 de julho, entre os quais oito haitianos, levaram a equipe de reportagem do Jornal O Paraná a realizar um levantamento para saber quantos colaboradores estrangeiros prestam serviço, diariamente, nas principais cooperativas do oeste paranaense.
Com base na apuração feita junto às cooperativas por intermédio de informações repassadas pelos departamentos de comunicação de cada uma, conseguimos apurar que as cooperativas do Oeste empregam, atualmente, perto de 6 mil estrangeiros das mais variadas nacionalidades.
Há cerca de seis meses, o Jornal O Paraná deu como manchete a informação de que as cooperativas da região tinham mais de 10 mil postos de trabalho disponíveis para serem preenchidos à espera de trabalhadores para as mais diferentes áreas. E essa realidade, ainda está presente.
A pesquisa feita por O Paraná envolveu as cooperativas C. Vale, Coopavel, Cooperativa Agroindustrial Lar, Frimesa, Copagril e Copacol. O número de estrangeiros empregados nesses estabelecimentos, seja diretamente ou por meio de empresas ou sindicatos terceirizados, equivale à metade dos 12 mil estrangeiros residentes na região, de acordo com números obtidos junto à Polícia Federal.
Na C. Vale, onde ocorreu uma das maiores tragédias do setor cooperativista do Brasil, são 541 estrangeiros. Pouco, comparado ao número total de colaboradores, totalizando 13.600, tanto nos conglomerados industriais existentes no Brasil como no Paraguai.
Dentre os 541 estrangeiros, a maioria é de origem haitiana, totalizando 303 efetivos. Os países de origem dos demais são Colômbia, Cuba, Gana, Haiti, Paraguai, Senegal, Serra Leoa e Venezuela.
Já na Coopavel, esse número é bem maior. São 1.841 estrangeiros, de um total de 7.477 colaboradores. Entre as nacionalidades, constam haitianos, venezuelanos, paraguaios, cubanos, argentinos, colombianos, peruanos, dominicano e guineense.

“Torre de Babel”
Na Cooperativa Agroindustrial Lar, com sede em Medianeira, são 3.062 estrangeiros, uma verdadeira Torre de Babel (termo utilizado para definir a diversidade dos povos), compostos em sua maioria por venezuelanos (1.690). Os demais são argentinos (27), bolivianos (8), chileno (1), paraguaios (774), colombianos (15), peruanos (3), espanhol (1), norte-americano (1), haitianos (394), japonês (4), paquistanês (3), bengalês (13), angolano (3), senegalês (33), sírios (3), marroquinos (2), africanos (27), egípcio (1), guinense (4), surinamês (1) e cubano (48).
Na Frimesa, são 466 estrangeiros. Do total, 243 são paraguaios, 151 venezuelanos, 47 haitianos, 7 cubanos, 6 senegaleses, 3 colombianos, 3 argentinos, 2 sul-africanos, 1 angolano e 1 palestino. O total de colaboradores da Frimesa é 11.300.
Em relação à Copacol, até o fechamento dessa reportagem, a cooperativa ainda não tinha os números solicitados. Já a Copagril, não conta mais com frigorífico desde o fim de 2020, quando passou a ser gerida pela Lar. Hoje, os negócios da Copagril estão restritos a 22 lojas agropecuárias e unidades de recebimento de grãos; 6 supermercados; 4 postos de combustível; 2 fábricas de ração; 1 indústria de óleo; 1 unidade TRR – Transportador Revendedor Retalhista e 1 loja de maquinários agrícolas.

Agência do Trabalhador de Cascavel tem
25% das vagas preenchidas por estrangeiros

A Agência do Trabalhador, em Cascavel recebe uma média mensal de 260 estrangeiros atrás de oportunidade de emprego. “Geralmente são homens contratados para linha de produção de frigoríficos ou na construção civil. As mulheres são contratadas para a linha de produção, supermercados ou em setores de limpeza”, comenta Marlene Crivelari, a gerente da Agência do Trabalhador, em Cascavel.
Entre os documentos necessários para ser inserido no mercado de trabalho, constam a Carteira de Trabalho, documento de identificação dentro do prazo de validade ou, pelo menos, o protocolo emitido pela Polícia Federal, que estende a estadia do estrangeiro no País.
Os estrangeiros são atraídos para Cascavel e Oeste do Paraná principalmente pelo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), elevado. Entre os venezuelanos, a maioria é professor e profissionais da área petrolífera. Já os haitianos, são provenientes de áreas de produção e construção civil.
Do total de vagas disponibilizadas na Agência do Trabalhador de Cascavel, 25% é preenchida por estrangeiros, com base no relatório final de junho deste ano. Em 2022, a Agência do Trabalhador de Cascavel inseriu 867 estrangeiros no mercado de trabalho. As principais origens são da Venezuela, Haiti, Cuba e Paraguai. Neste ano, já foram atendidos trabalhadores da Argentina, Cabo Verde, Colômbia, Guiné-Bissau, Guiné, Marrocos, Paquistão, Peru, Portugal, República Dominicana, Senegal e Uruguai.
Sobre a questão salarial, a gerente da Agência do Trabalhador de Cascavel, Marlene Crivelari, explica que as vagas são abertas a todos e não há distinção entre estrangeiros e brasileiros. “O que é observado, no entanto, é a questão cultural, especialmente entre Haiti e Venezuela, os países que mais imigram habitantes”. Segundo ela, as famílias haitianas são, em sua maioria, patriarcaiss, ou seja, é muito comum ver homens à procura de trabalhos braçais, em fábricas e construção civil, enquanto as mulheres fazem o serviço doméstico. Já os venezuelanos, pertencem a famílias com grau de escolaridade maior, que dão preferência para trabalhos que envolvam atendimento, como mercado, especialmente por causa do idioma, que é mais semelhante.