Cotidiano

Hong Kong vai às urnas para primeiras eleições após manifestações de 2014

Hong Kong Election-GU22T6LCQ.1.jpg Hong HONG KONG – Os cidadãos de Hong Kong votraram neste domingo durante as primeiras eleições ao Parlamento local desde as mobilizações pró-democracia que explodiram em 2014, abrindo caminho ao chamado “Movimento dos Guarda-Chuvas”, uma nova geração de jovens ativistas que pedem a ruptura com a China.

Estas eleições ao Conselho Legislativo (LegCo, Parlamento local) são realizadas num momento em que cresce na cidade semiautônoma a sensação de que Pequim está endurecendo seu controle em temas políticos, culturais e inclusive educacionais.

A votação deste domingo vai permitir medir o peso deste movimento entre os 3,7 milhões de eleitores convocados às urnas, que começaram a votar às 07h30 locais (20h30 de sábado, no horário de Brasília).

Embora as manifestações tenham conseguido bloquear durante dois meses bairros inteiros da antiga colônia britânica, o “Movimento dos Guarda-Chuvas” não conseguiu nenhuma concessão da China em matéria de reformas políticas.

O surgimento desta nova geração que defende a independência apagou as linhas políticas tradicionais e polarizou o debate.

Quando as autoridades da cidade decidiram proibir a candidatura de cinco defensores da ruptura com Pequim, com o argumento de que militar pela independência é ilegal, as contradições aumentaram.

O analista político Joseph Cheng considerou que haverá novos rostos na nova legislatura.

– Estas eleições se caracterizam especialmente por uma mudança intergeracional de líderes políticos – destacou.

Mas, para muitos honcongueses, a independência é uma quimera.

– É muito idealista e irrealista – estimou Wilson Vai, um eleitor de 21 anos, que apoia o setor pró-democracia, a oposição tradicional mais moderada.

DEMOCRACIA PARCIAL

No início de agosto, vários milhares de honcongueses participaram da primeira manifestação pública pela independência. Segundo algumas pesquisas, 17% dos cidadãos apoiariam a ruptura com a China.

Alguns candidatos da autodeterminação, termo utilizado para evitar usar a palavra “independência”, puderam se apresentar.

Destes, um ou dois têm chances de ser eleitos, o que constituiria uma vitória para um setor que defende um caminho que há pouco tempo era um tabu absoluto.

No entanto, o movimento ainda não alcança uma massa crítica e sua participação depende de um contexto eleitoral que está ajustado para proteger o “establishment”, favorável à China.

Na ex-colônia britânica, a democracia é apenas parcial e é quase impossível que os partidários da ruptura obtenham uma maioria.

O chefe do executivo de Hong Kong, Leung Chun-ying, que é considerado por seus opositores como um fantoche da China, disse que as eleições são democráticas.

– Os eleitores tomarão suas próprias decisões – disse aos jornalistas.

O LegCo conta com 70 membros designados por um sistema complexo que garante quase com segurança uma maioria de bloqueio favorável a Pequim. Apenas 35 de seus membros são eleitos por sufrágio direto.

A oposição, com 27 assentos de 70, dispõe atualmente de uma minoria de bloqueio, já que no Parlamento local as leis devem ser aprovadas por dois terços dos votos.

Os centros de votação fecham às 22h30 locais (11h30 de Brasília) e a contagem será realizada na noite de segunda-feira.