Cotidiano

Polícia deflagra megaoperação para prender suspeitos de matar candidatos na Baixada

IMG_5337.JPGRIO ? A Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) deflagraram na manhã desta quinta-feira uma megaoperação com o objetivo de apreender armas e objetos usados nas execuções de candidatos e pessoas envolvidas em campanhas eleitorais, na Baixada Fluminense. A Justiça expediu 12 mandados de busca e apreensão em casas e galpões usados por suspeitos de participarem dos crimes em municípios da região, além de 12 pedidos de prisão temporária.

Dos 14 assassinatos ocorridos nos últimos 10 meses, três homicídios de candidatos e de uma pessoa envolvida em campanhas eleitorais, na Baixada Fluminense, têm como motivação principal a disputa pelos negócios entre milicianos que atuam no furto de combustível da Petrobras. Integrantes do bando que atua na máfia do óleo em Duque de Caxias apoiam financeiramente alguns políticos que se aliam ao grupo. O pré-candidato Sérgio da Conceição de Almeida Júnior, o Berem do Pilar, cuja morte ocorreu no dia de 2 de julho na porta de casa, no bairro do Pilar, porque a vítima entrou no mesmo ramo de negócios da organização criminosa: furto de combustível da Reduc.

Segundo a DHBF, Denivaldo da Silva, assassinado quatro dias depois de Berem do Pilar, seria sócio do pré-candidato a vereador no novo empreendimento. A polícia descobriu, inclusive, que nos dois crimes foi usada a mesma pistola. A forma de atuação foi semelhante, com armas dos mesmos calibres. As duas execuções foram filmadas e comprovaram as semelhanças.

O outro crime relacionado às execuções de Denivaldo e Berem é o homicídio de Leandro de Xerém. Além de morar no mesmo distrito da primeira vítima, Leandro da Silva, que tinha fama de andar com paramilitares no local, ligados à Denivaldo. Eles se apresentavam como “justiceiros”. A polícia acredita que, pela brutalidade dos assassinatos, o propósito dos criminosos era o de servir de recado para outros que viessem a se aventurar nos negócios ilícitos da máfia dos combustíveis.

Outros quatro crimes, segundo os investigadores, são de autoria de traficantes, porque as vítimas, líderes comunitários, não permitiam bocas de fumo nos bairros onde viviam. Nas contas do titular da DHBF, Giniton Lages, apenas um homicídio teria como única razão a rivalidade política, no caso, o crime contra o vereador Oswaldo da Costa Silva (PDT), morto em 18 de agosto. Outros dois teriam cunho passional.

? A milícia é silenciosa e está arraigada no poder público. Os milicianos aprenderam a lição com as prisões, no passado, de integrantes do grupo mais antigo da Zona Oeste do Rio ? disse Giniton, referindo-se aos irmãos, o ex-vereador Jerônimo Guimarães Filho e o ex-deputado estadual Natalino Guimarães Filho. ? Por isso, essa facção criminosa não coloca mais a cara dela de frente na política. Ela apoia e fica ao lado do poder ? explicou o delegado.

TERRENOS DAS VÍTIMAS

Alguns locais onde a polícia esteve, na manhã desta quinta-feira, eram terrenos que pertenciam às vítimas. Elas extraíam combustível de oleodutos que tinham como destino à Reduc. Segundo o diretor da Divisão de Homicídios, Rivaldo Barbosa, a motivação era a disputa entre as milícias pelo furto do combustível. No entanto, as vítimas dos homicídios ocorridos no município de Duque de Caxias tinham envolvimento com a política. A polícia encontrou três “bicas” oriundas de perfuração dos dutos da Petrobras, em dois terrenos, um de Leandro da Silva Lopes e outro de Denivaldo da Silva. Ambos assassinados em Duque de Caxias.

? É dinheiro público que está saindo dessas bicas em jatos ? disse Rivaldo referindo-se à pressão com que o material sai dos oleodutos, ligando ao caso da Lava-Jato.

Com os negócios diversificados, a milícia encontrou campo fértil na Baixada Fluminense. Além da cobrança de “taxas de proteção” e serviços como o do gatonet, de transporte alternativo e de fornecimento de gás, os milicianos exploram areais e vendem loteamentos.

Com a estratégia de não aparecerem na política, os milicianos financiam campanhas em troca de apoio e benefícios de políticos ao serem eleitos ou reeleitos. Com o fim das doações eleitorais por parte de empresas, o dinheiro ilícito é bem-vindo, pois não é declarado. Para não chamar atenção da fiscalização eleitoral, os candidatos que recorrem à essa prática, reduziram o número de cartazes e carros de som pelas cidades, mas usam as verbas “doadas” de outras formas. Na opinião da juíza Daniela Assumpção Barbosa, titular da 2ª Vara Criminal de Duque de Caxias, que foi responsável pela fiscalização eleitoral em 2014, há suspeitas de compra de voto na Baixada Fluminense com o dinheiro sujo oriundo da milícia:

? Os candidatos que usam desse meio ilícito estão gastando, mas ninguém vê propaganda nas ruas. Isso nos leva a crer que eles estão investindo em outras formas para convencer os eleitores a votarem neles, como a compra de votos. É um tipo de prática que só pode ser feita quando se aliam às organizações criminosas. O dinheiro vem de caixa 2. Além disso, eles lutam contra o tempo. As campanhas foram liberadas em setembro, quando, antes, começavam em julho ? explicou Daniela.