?Sucesso para mim é estar vivo.? A frase é do paraciclista argentino Rodrigo López, pronunciada com enorme dificuldade devido à paralisia cerebral adquirida aos cinco anos, por conta de um vírus até hoje não identificado. Traduz o sentimento de muitos em relação aos mais de 4.300 atletas que disputam a Paralimpíada.
Acompanhado de perto pela mãe, Liliana Martinez, Rodrigo, aos 37 anos, busca no Rio a terceira medalha paralímpica. As duas primeiras foram bronze: em Atenas, em 2004, no contrarrelógio na estrada, e em Londres, há quatro anos, nos 3.000m individuais, na pista. Em seu currículo, há, também, entre outras conquistas, quatro títulos mundiais na pista, dois deles no último ciclo paralímpico: em Aguas Calientes, no México, em 2014. Os outros dois foram em Los Angeles, há quatro anos, e em Montichiari, na Itália, em 2011. Paralimpíada MATÉRIAS PAPEL 10/09
Iniciado no ciclismo paradesportivo aos 15 anos, pelo pai e seu primeiro técnico, Juan Carlos López, o porta-bandeira argentino na cerimônia de abertura do Parapan de Toronto-2015, demora alguns segundos ao ser questionado sobre o significado da palavra ?fracasso?. E é aí que Rodrigo deixa escapar as ambições de quem não se sente apenas bem-sucedido por estar vivo, como havia respondido antes:
? É não se superar, não se realizar na vida.
Único paraciclista argentino a bater duas vezes o recorde mundial, o natural de Colón não subiu ao pódio em seu primeiro desafio, a perseguição individual 3.000m, no Velódromo.
Mas a saga de López pelo terceiro pódio está longe de acabar. Nos próximos dias, ele vai competir no ciclismo de estrada; estrada contrarrelógio e ciclismo de pista contrarrelógio.
Ao contrário do experiente López, o mineiro de Belo Horizonte, José Matias de Abreu, de 28 anos, da vela adaptada, está em sua primeira Paralimpíada. E tem uma definição diferente para ?sucesso?:
? É você ganhar os campeonatos e ter uma boa disciplina fora das competições. O fracasso é você não ir bem no esporte e ir mal socialmente. Talvez a pessoa possa ir mal no esporte e bem na vida social. Mas se for ruim nos dois meios, ela está na linha do fracasso ? compara o brasileiro, que foi vítima da osteogenesis imperfecta, também conhecida como ?doença dos ossos de vidro”, fez tratamento de 2002 a 2007 e não teve mais lesões. E entrou no paradesporto há 14 anos.
As medalhas do Brasil na Paralimpíada
Na Rio-2016, Matias vai competir na classe Sonar, como proeiro do barco em que também estarão o goiano Herivelton Ferreira e o paulistano Antonio Marcos do Carmo.
Vítima de poliomielite na infância, o camaronês Christian Gobé, de 39 anos, vai entrar em ação no arremesso de peso, na categoria F55.
? Sucesso significa muita coisa, como o esforço que você fez nos últimos quatro anos para estar aqui, nesta competição.
E ?fracasso??
? É quando as coisas não vão como você esperava ou precisava. Vivemos o esporte, temos o direito ao sucesso e ao fracasso, mas, se a vitória não vier, paciência, faz parte da jornada ? responde o camaronês.
Debutante em paralimpíadas, como Gobé, o ciclista peruano Israel Hilario, da categoria C2 (para amputados), atrela o sucesso à força para superar as dificuldades que a vida lhe impõe:
? É quando você, após um acidente, retorna à sociedade no mesmo nível de antes. Um caminhão me atropelou aos 17 anos, quando eu andava de bicicleta, mas o acidente não acabou com meu sonho de ser ciclista profissional ? relata a o atleta, que teve a perna esquerda amputada.
Campeão mundial em Notwil, na Suíça, ano passado, no ciclismo de estrada, Hilario vai em busca do pódio na mesma modalidade no Rio. E também no contrarrelógio.
? Há anos eu sonhava com isso, é uma grande vitória estar aqui ? comemora.
Na opinião do porta-bandeira peruano na cerimônia de abertura, quarta-feira, no Maracanã, fracasso é sinônimo de dor:
? É complicado, é quando você não trabalhou o suficiente, não alcança os resultados, dói o coração, é muito duro.
RIO COMO EXEMPLO
Encantado com tudo o que tem vivido na cidade até agora, o campeão mundial espera que seu país se inspire na Rio-2016 para receber, em 2019, em Lima, os Jogos Pan-Americanos e o Parapan:
? O Brasil é uma terra ótima, com pessoas amáveis. Ver atletas de todo o mundo é impressionante, é lindo sentir isso. E espero que as autoridades do meu país estejam acompanhando a capacidade de mobilização do brasileiro.
Hilario considera a cessibilidade um dos pontos positivos da primeira Paralimpíada da América do Sul.
? Estes Jogos estão dando grande acessibilidade a todos, não apenas aqueles que têm mais facilidade de locomoção, inclusive na Vila dos Atletas. Fico na torcida para que em 2019 isto se repita. Meu país está vivendo uma imersão no esporte, o que representa uma grande oportunidade de crescer como sociedade ? finaliza o quarto colocado no Parapan de Toronto-2015, que tem como filosofia de vida a frase ?deficiência não é falta de habilidade?.