BRASÍLIA – Num ato para marcar posição na transição de governo, o Itamaraty extinguiu a área dedicada ao combate à fome. A coordenação do Ministério das Relações Exteriores (MRE) ganhou notoriedade pouco antes do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, quando o responsável pelo setor enviou telegramas a todas as embaixadas e representações do Brasil no exterior para difundir a ideia de que havia risco de um golpe político no país.
Em março, o embaixador Milton Rondó Filho disparou os telegramas nos quais pedia para que cada posto designasse um diplomata para dialogar com as organizações da sociedade civil locais. As correspondências, reveladas pelo GLOBO, também conclamavam à resistência democrática. Os documentos foram anulados no mesmo dia.
Dada a repercussão negativa na época, o diplomata foi afastado da função. Com a mudança do governo, toda a coordenação que comandava foi extinta. Tudo foi feito discretamente, no bojo das mudanças feitas quando o ministro José Serra tomou posse assim que a ex-presidente foi afastada.
Na reforma administrativa, houve uma verdadeira redistribuição de competências dentro do ministério. O governo determinou o enxugamento da estrutura e a devolução de 46 cargos em comissão. No entanto, o órgão ressalta que a mudança não acabou com o tema.
?As funções realizadas anteriormente pela CGFOME foram atribuídas a outras unidades do MRE a fim de se manter a continuidade, sendo as operações de cooperação humanitária assumidas pela Agência Brasileira de Cooperação e as atividades de coordenação política assumidas pela Divisão de Temas Sociais (DTS)?, respondeu o Itamaraty, quando questionado pelo GLOBO.
Apesar de extinto o cargo, a sindicância contra Rondó continua no Itamaraty. O objetivo é verificar se a conduta do diplomata feriu o código de ética pública.