Cotidiano

Apae pede socorro: com mais alunos e menos profissionais, diretoria vive tensão para conseguir “fechar contas”

Fachada da Apae de Cascavel
Feijoada Solidária será vendida para ajustar nas custas mensais da instituição

Cascavel – Não é de hoje que a diretoria da Apae (Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais) de Cascavel reclama da falta de apoio dos governos em todas as esferas para conseguir pagar as contas, mas este ano devido ao aumento do número de alunos, que passou de 460 para 515 alunos a situação complicou ainda mais. Com mais despesas e falta de profissionais, a diretoria da instituição pede socorro às autoridades.

O presidente da Apae, Nilson Silva, conversou com a reportagem do Jornal O Paraná e relatou detalhadamente os problemas que a associação vem enfrentando, tanto para conseguir pagar as contas mensais, fazer o transporte de alunos, quanto para manter os serviços oferecidos pela a entidade para os alunos e comunidade. Dos 215 funcionários, 140 são pagos pela a Apae.

Segundo Nilson, a associação tem atualmente uma folha de pagamento de cerca de R$ 600 mil ao mês e apenas 50% deste valor é garantido todos os meses, o restante eles precisam arrecadar em ações realizadas pela a entidade, com apoio da sociedade, doações e vendas. “A Apae é uma associação independente, mas que precisa de ajuda, porque temos voluntários que há anos trabalham aqui, mas que estão bastante cansados”, desabafou.

O presidente disse que na área da saúde eles precisam realizar cerca de 4,6 mil atendimentos por mês, mas que nos últimos meses chegaram a atingir apenas 3 mil atendimentos por causa da falta de profissionais, para conseguir receber um aporte financeiro do SUS. A Apae tem um convênio com a Secretaria Municipal de Saúde de Saúde que deveria ceder 12 funcionários, mas atualmente tem apenas 7 funcionários pelo o convênio, o que prejudica o atendimento.

Por causa desse déficit eles estão priorizando os atendimentos aos alunos que são matriculados como fonoaudiólogo, psicólogo, equoterapia e vários tipos de terapias. “Temos ainda uma dificuldade de manter os bons profissionais porque não conseguimos aumentos os salários, e por isso, acabamos as vezes mexendo nos turnos de trabalho”, explicou. Ainda sobre os profissionais o presidente disse que eles precisariam também de pelo menos mais 10 professores para conseguir manter os atendimentos, já que tem alunos que precisam de uma atenção mais individualizada.

Outra dificuldade é relativa ao transporte dos alunos, já que os ônibus que fazem esse serviço estão superlotados e existem crianças que precisam de uma privacidade. “Temos alunos com muitas dificuldades e deficiências e estamos tendo problemas com isso. Por exemplo, com alunos autistas que não gostam de serem tocados e são mais reservados”, falou. Nos próximos dias a associação vai receber dois novos ônibus, mas mesma assim, faltam ainda para o transporte diário, devido a grande quantidade de alunos.

Alimentação x uniformes

Nilson Silva relatou que cerca de 90% dos alunos que frequentam a Apae são de famílias pobres, e que todos os meses, elas ainda precisam de ajuda com as cestas básicas e que muitos deles, a principal refeição é feita dentro da associação, outro problema enfrentado pela diretoria, que além de ter que driblar o pagamento de contas, está tendo que comprar alimentos para complementar o cardápio.

Os alimentos são encaminhados pela a Secretaria Municipal de Educação, mas por causa do aumento de alunos, não está sendo suficiente. Outro problema com a pasta é relacionado com os uniformes escolares. “Eles nos pediram uma relação com os números dos alunos, mas recebemos apenas o que sobrou da rede”, falou Nilson, que completou ainda que depois de sete anos sem receber a verba por aluno do Fundeb, passaram a receber os valores no ano passado.

Sobre o aumento de alunos, o presidente falou ainda que cresceu inclusive a quantidade de alunos autistas, já que a associação atende os que tem grau médio a severo. “Como o Cetea (Clínica Escola dos Autistas) não está atendendo na sua plenitude, a Apae está tendo uma procura maior, passando de 38 para 86 alunos e eles precisam ter um atendimento mais individualizado, não como a lei prevê de um professor para até 8 alunos”, disse.

Obra parada

Além dos problemas diários, a Apae não está conseguindo terminar a obra de ampliação que iniciou em 2019. Segundo Nilson, sem dinheiro nem para o básico, é difícil terminar a ampliação em que são necessários ainda cerca de R$ 5 milhões. São 2.322 metros quadrados de obra para melhorar o serviço de saúde dentro das normas de acessibilidade. O centro prestará assistência nas áreas de fisioterapia, hidroterapia, pediasuit, integração sensorial, terapia ocupacional, odontólogo, psicólogo e fonoaudiólogo.

“Infelizmente estamos vivendo uma situação bastante complicada, porque a pandemia trouxe queda de arrecadação de doações e de verba e agora com o aumento de atendimentos estamos tendo dificuldades. Estamos entrando em agosto e não temos projeção de dinheiro para o décimo terceiro salário dos funcionários”, desabafou o presidente, que há 12 anos é voluntário da instituição. “Sempre lutei pelos alunos que já convivem com muitas limitações”, finalizou.

O que diz o poder público

Miroslau Bailak, secretário de Saúde confirmou a falta de profissionais, mas que segundo ele ocorreu porque os servidores pediram exoneração do serviço público, problema que ele enfrenta em toda a secretaria que está em processo de contratação de mais profissionais. “Temos um convênio, mas a Apae terá que aguardar até que eu consiga contratar e reorganizar os profissionais dentro dos serviços de saúde, para em seguida, conseguir encaminhar para a associação”, explicou o secretário.

Ela anunciou ainda que assim que os novos profissionais forem assumindo, ele vai passar a abrir mais unidades de saúde das 18h às 22h. Atualmente 3 atendem até mais tarde, mas a intenção é abrir mais 13 assim que os novos servidores forem assumindo as suas funções.

A Secretaria Municipal de Educação informou à reportagem que transfere os recursos do Fundeb às entidades conveniadas que possuem alunos considerados nesta distribuição de recurso, valor que é repassado conforme a quantidade alunos. No caso da Apae, há o financiamento pelo estado, de 50%, e os outros 50% são financiados pelo município.

Segundo eles, em 2021 o repasse do município foi de R$ R$ 1.137.966,30, dos quais a entidade fez a devolução de R$ 172 mil. Para este ano de 2022, o município repassará, até o fim do ano R$ 1.166.325,00, dos quais a Apae já devolveu R$ 31.883,38. Os recursos devem ser utilizados exclusivamente para a manutenção e desenvolvimento do ensino, podendo custear despesas com folha de pagamento e encargos sociais em até 80% e o restante dos recursos em materiais de consumo. Além destes recursos, o município ainda complementa a merenda, oferecendo uma quantidade até superior a qual a entidade está cadastrada para receber e oferece transporte escolar para os alunos, sendo atualmente 5 linhas que transportam alunos, existindo ainda aditivo tramitando no Setor de Compras para a implantação da sexta linha.

Em relação à merenda, o Município recebe de repasse do governo federal o equivalente a R$ 0,56 por aluno, em 10 parcelas no ano, o que para a quantidade de alunos atendidos pela a APAE não chegaria a R$ 3 mil no ano. Somente neste ano, até o dia 31 de julho, já foram repassados mais R$ 20 mil para a merenda. Já em transporte escolar, o município paga anualmente R$ 1.237.599,98 em transporte escolar para atender a demanda da Apae.