Cascavel – A quem arrisque dizer que todos os anos deveriam ocorrer eleições no Brasil. A semana começou com o anúncio de redução da alíquota do ICMS sobre o etanol em 11 estados e no Distrito Federal. Na semana passada, o preço médio do etanol já havia caído nos 26 estados e no Distrito Federal. No Paraná, o governo estadual baixou a alíquota de 18% para 12%. A medida atende a Emenda Constitucional 123, de 14 de julho de 2022, alterando o artigo 225 da Constituição, tendo em vista o estabelecimento de diferencial para fomentar a competitividade dos biocombustíveis.
E o que estava bom, ficou ainda melhor para os motoristas de veículos de passeio. Ontem, a Petrobras anunciou a redução do preço da gasolina já a partir desta quarta-feira. É a primeira queda desde dezembro último. Para as refinarias, o valor do litro passará de R$ 4,06 para R$ 3,86, ou seja, uma redução de R$ 0,20 por litro ou -4,93%. Esse alívio também será sentido no bolso do consumidor.
Em entrevista ao O Paraná, o diretor-geral do Paranapetro, Roberto Pellizzetti, disse que essa redução do etanol ocorre para “manter uma justiça fiscal e incentivar o uso de combustíveis verdes”. Segundo ele, o etanol correspondia a 2/3 do ICMS da gasolina e essa paridade vem sendo mantida. “Essa redução do valor do etanol vem um bom momento, até para manter essa competitividade”.
A boa notícia do dia, na ótica de Pellizzetti, é a redução do litro da gasolina em R$ 0,20. “Hoje [ontem] o barril do petróleo passou de três para dois dígitos, ficando entre US$ 98 e US$ 99 e esse reflexo é sentido imediatamente. Isso é importante, demorar mais para subir e mais rápido para baixar”. Em fevereiro, no ápice da guerra travada entre Rússia e Ucrânia, o preço do petróleo Brent chegou a US$ 140 o barril.
Preços mais justos
Para o motorista de aplicativo Ivan Nogueira, morador do bairro Presidente, em Cascavel, a notícia da redução tanto do litro do etanol como da gasolina não poderia ser melhor. “O combustível encarece muito o custo e reduz a nossa margem de retorno. Ainda bem que estão ocorrendo políticas voltadas a garantir preços mais justos, diante de um cenário econômico nada favorável no Brasil”, comenta.
Com base no aplicativo Menor Preço, do Governo do Paraná, o custo do litro da gasolina comum em Cascavel na segunda-feira era de R$ 5,75, contra R$ 5,52, já registrado ontem. Já para o etanol, o valor mais em conta era de R$ 4,27 o litro, tanto na segunda-feira como na terça-feira.
Diesel
Agora, quando o assunto é óleo diesel, as perspectivas não são tão animadoras. “O diesel não segue a mesma balada do etanol e da gasolina. Trata-se de um produto com consumo muito elevado no mundo inteiro, especialmente na Europa e nos Estados Unidos, onde há escassez e esse cenário leva a ter preços tão elevados e reflete no Brasil”, comenta o diretor da Paranapetro. Essa é a primeira vez na história que o litro do óleo diesel custa mais que o da gasolina. “O valor vai continuar no mesmo patamar, sem possibilidade de redução de custos”.
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R$ 5,5 mil para encher o tanque do caminhão a cada um dia e meio
Enquanto os motoristas de veículos movidos a gasolina e etanol estão rindo à toa, não se pode dizer o mesmo dos caminhoneiros e donos de transportadoras, que já não sabem mais o que fazer para driblar o elevado custo do litro do diesel. Pelo aplicativo Menor Preço, do Governo do Paraná, em Cascavel, o valor mais em conta encontrado ontem foi de R$ 6,88. Ou seja, para encher o tanque de um caminhão classificado como extrapesado, a transportadora ou motorista independente precisa desembolsar a bagatela de R$ 5.504,00. “Isso a cada um dia e meio”, comenta o presidente do Sintropar (Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas e Logística do Oeste do Paraná), Antonio Ruiz.
O setor de transportes está realmente preocupado com as atuais circunstâncias. “Estamos sendo surpreendidos com este anúncio da Petrobras, de reduções de preços do litro do etanol e da gasolina, o mesmo não ocorrendo com o óleo diesel, este sim, sem no mínimo uma projeção de quedas para os próximos meses”. Para Ruiz, que também trabalha com o ramo de transportes, o setor vem sofrendo com essa oscilação de valores nos últimos 12 meses. “O diesel consome hoje 65% do faturamento de um caminhão. Se colocar na ponta do lápis, é inviável trabalhar hoje nesta atividade”. Ele entende que essa situação torna desafiador colocar um caminhão para rodar e fazer entregas de mercadorias Brasil afora. “Nós, do Sintropar, temos orientado o motorista a fazer o dever de casa, revisar suas planilhas de frete e repassar esses reajustes aos clientes”.
Outro ponto que tem pesado no custo do óleo diesel é o fato de o Brasil não refinar o produto. “É preciso enviar o petróleo para fora, refinar e receber o diesel de volta”. No entendimento de Antonio Ruiz, o governo federal precisa colocar em prática algumas iniciativas para reduzir o valor desse importante insumo do transporte, com a finalidade de aliviar a já pesada carga atribuída às transportadoras e aos caminhoneiros. “O Custo-Brasil se torna mais caro, uma vez que o País é extremamente dependente do modal rodoviário”.