Política

MEU PRIMEIRO MANDATO: Beth Leal, vereadora firme e decidida

“A Câmera de Cascavel que estava há 20 anos sem representatividade feminina, tem agora, duas mulheres que têm posicionamento”

MEU PRIMEIRO MANDATO:  Beth Leal, vereadora firme e decidida

O Jornal O Paraná inicia nesta terça-feira (18), uma série de entrevistas com os vereadores de Cascavel que cumpriram em 2021 o primeiro ano de mandato. E, abrindo a série, conversamos com a vereadora Elizabet Leal Silva, ou “Beth Leal”, do Republicanos. Ela é professora de ensino superior, doutora e pós-doutora e, além do Direito e da política, como uma de suas paixões a comunicação. Em 2020 Beth disputou a primeira eleição e conseguiu se eleger com 1.211 votos, sendo a segunda vereadora eleita naquele pleito em Cascavel.

De família humilde, Beth cresceu em Diamante do Oeste, cerca de 80 km de Cascavel. Ainda jovem, veio para Cascavel com o sonho de cursar uma faculdade e começou a trabalhar na Rádio Colmeia, fixando raízes na Capital do Oeste. “Acabei me aproximando mais da população de Cascavel, me inteirando com os assuntos da cidade, conhecendo bem a nossa cidade, e como eu permaneci na rádio por cerca de 15 anos, concluí a faculdade, fui ministrar aulas na rede estadual, trabalhei na rede municipal aqui de Cascavel e não tinha mais o projeto de voltar para a casa dos meus pais; me formei em Direito, minha segunda graduação, complementei minha formação acadêmica com a realização do mestrado, doutorado e pós-doutorado.”

Segundo Beth, foi participando de projetos sociais que surgiu o interesse pela política, em utilizá-la como ferramenta para auxiliar a população. “Sempre fui envolvida com projetos sociais, sempre tive uma aproximação com as associações de bairros, por conta da comunicação, da rádio e isso me trouxe a possibilidade de conhecer melhor a realidade de Cascavel e, claro, me interessando pelos problemas dos nossos munícipes. Isso me deu a possibilidade de manter relacionamento com muitas pessoas, com vários prefeitos que passaram pela cidade, vários ex-vereadores também, e isso me aproximou mais dessa área política.”

A ideia inicial de sair candidata à vereadora era para ajudar o partido, contudo, junto com o desafio, surgiu a oportunidade de concretizar os trabalhos que já realizava. “E no fim, diante da possibilidade de fazer um trabalho, um pouco mais daqueles projetos, dos trabalhos que eu já realizava na comunidade, acabei aceitando o convite.” Apesar da disputa, Beth disse que não tinha uma grande expectativa de ser eleita já em sua primeira eleição. “Eu não tinha assim uma expectativa de eleição, porque foi a primeira vez que eu concorri a um pleito e sabia de toda essa questão de Cascavel já estar a 20 anos sem uma representação feminina.”

 

Aprendizado

De acordo com a vereadora, apesar do vasto conhecimento jurídico, ela enfrentou algumas dificuldades quando chegou à Câmara, uma delas foi o funcionamento do Poder Legislativo na prática, o que, segundo ela, é diferente da teoria. “A gente acaba verificando aquela história de que a teoria é uma coisa, e a prática é um pouco diferente. E claro, não foi fácil conhecer os meandros, como é que funciona essa questão do próprio processo legislativo na prática, porque não é só a questão da lei, mas tem toda a questão dos procedimentos, regimento interno que, claro, que são normas que precisam ser respeitadas, mas que, no dia a dia, por exemplo, do estudante do direito você não visualiza isso na prática. Então, foi um ano de muito aprendizado, desde essa questão, mesmo do que é propor uma emenda, com se formula, apresentar um projeto de lei, discutir esse projeto, a viabilidade desse projeto, os tramites internos, desde o protocolo, onde protocola, com protocola, tudo isso foi bastante difícil no início.”

Para Beth, esse primeiro ano de mandato foi de muito aprendizado. “Então para mim esse ano foi de muito aprendizado, eu creio que ainda tenho muito para aprender para dizer assim: olha eu sou uma vereadora que estou preparada definitivamente para exercer a legislatura. Então, esse ano eu avalio dessa forma, foi um ano produtivo porque aprendi muito, para o ano que vem as coisas já devem ser um diferentes, eu já sei como devo caminhar, qual antecedência que eu devo apresentar as minhas propostas, discutir os meus projetos para que isso possa acontecer com maior rapidez.”

 

Produção Legislativa

Segundo a parlamentar, nesse primeiro ano, o mandato focou na qualidade da produção legislativa. “Sempre trabalhei muito pela qualidade e acho que, nesse sentido, procurei apresentar projetos que, ao meu ver, são produtivos e com qualidade efetiva para a sociedade. Por exemplo, dentro daquilo que eu acredito, tivemos o projeto, que veio ao encontro de uma lei que já existia em Cascavel: o projeto Cascavel Cidade Restaurativa.”

Além disso, a vereadora disse que não deixou de atender a população e encaminhar as demandas que recebeu.

A vereadora disse que, além de encaminhar demandas, também trabalha na fiscalização. “Essa é uma função que, muitas vezes, os representantes do Executivo não gostam muito porque exige que nos digam o que está sendo feito e isso exige transparência na prestação do serviço. Então, o meu mandato procurou trazer esse olhar e mostrar para a população serviço e um trabalho que traga realmente uma qualidade naquilo que a gente está fazendo.”

 

Força Feminina

Há 20 anos a Câmara de Cascavel não elegia, diretamente, uma mulher para exercer o cargo de vereadora, houve algumas suplentes nesse período, mas nenhuma com a cadeira fixa. Isso mudou no pleito de 2020, quando duas mulheres foram eleitas. Além de Beth Leal, a vereadora Professora Liliam conseguiu conquistar uma vaga.

Segundo Beth, a eleição de duas mulheres para a Câmara de Cascavel é de extrema importância. “Eu acredito que a representatividade feminina em qualquer espaço é fundamental. Não pelo fato de ser mulher, mas o fato de estar no espaço e ter a possibilidade de falar em nome de outras mulheres, de outras pessoas que não têm essa mesma oportunidade e espaço para poder se manifestar. É fundamental. E a Câmera de Vereadores de Cascavel que estava aproximadamente 20 anos sem representatividade feminina, tem agora, duas mulheres que têm posicionamento e esclarecimento. Procuramos fazer um trabalho de parceria. E se fossemos falar em posição, seriamos oposição uma à outra, porque ela é de uma ala e eu sou de outra, mas o nosso entendimento é que as bandeiras são comuns, os interesses são comuns na defesa das mulheres, especialmente.”

Além da representatividade feminina na Câmara, Beth diz que o trabalho desenvolvido em parceria com a vereadora Professora Liliam busca atrair mais mulheres para a política. “A gente tem um diálogo muito aberto. Somos muito francas uma com a outra, em relação aquilo que vamos debater, aquilo que nós vamos trabalhar. Ao mesmo tempo, você estando ali como mulher, você acaba abrindo a possibilidade de que outras mulheres também se visualizem naquele espaço. E trabalhar com a professora Lilian é muito gratificante, porque é uma pessoa inteligente, ela tem o seu posicionamento e a gente sabe que ela conversa muito com a sua base, mas não é uma posição intransigente, ela é aberta ao diálogo, a gente já discordou em muitas questões, e naquilo que é comum a gente trabalha conjuntamente.”

 

O preconceito

Apesar da força feminina e do firme posicionamento das duas vereadoras, Beth disse que no início do mandato, elas acabaram enfrentando algumas situações desagradáveis por parte de vereadores. Segundo ela, foi necessário conversar com o Presidente da Câmara para que ele orientasse os vereadores sobre essas questões. “A gente notou que no começo, acho que por falta de não ter nenhuma mulher no convívio diário dos vereadores, aquelas piadinhas sem graça. […] Mas, mantendo a nossa postura dentro da convivência com os vereadores, mantendo o distanciamento necessário em relação às brincadeiras, às piadinhas de mau gosto, isso é uma coisa que foi sendo superada. E hoje inclusive, no grupo de vereadores, a gente não tem mais esse tipo de piada, de brincadeira ofensiva. Nós tivemos, sim, teve piadinhas, inclusive nós chegamos a conversar com o Presidente da Câmara e também com alguns vereadores sobre as piadinhas de mau gosto, piadas que desrespeitam a nossa condição de mulher, mas hoje já deu uma melhorada.”

Segundo Beth, no início, alguns vereadores até chegaram a querer dizer como elas deveriam votar. “Quando nós fazíamos algumas propostas, a gente notava certo descredito dos nossos pares do sexo masculino por acharem que não somos competentes, ou que realmente que a gente está ali simplesmente para dizer: ‘olha, tem duas mulheres na Câmara de Cascavel hoje’. Então essa dificuldade de se impor, mostrar que você realmente pensa. Já chegou alguns vereadores de se dirigirem a mim e dizer: Não, acho que aqui você deve pensar dessa forma, você tem que votar desse ou daquele jeito. Falei: espera. Perguntou primeiro como é que eu vou votar? Se eu já tenho opinião formada? Se eu já analisei a situação? Acho que no começo foi essa barreira.”

 

 

 

Foto: Paulo Eduardo