O Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) Campos Gerais, instituição parceira do Instituto Água e Terra (IAT) no atendimento a animais silvestres, abriga mais de 50 psitacídeos (papagaio-verdadeiro e periquito-rico) apreendidos durante uma fiscalização na BR-373, em Ponta Grossa, nos Campos Gerais.
Ao todo, 104 aves chegaram na unidade no mês passado. Metade morreu e alguns indivíduos apresentaram sinais clínicos suspeitos de zoonoses. Após amostras coletadas e enviadas à análise laboratorial, ficou confirmada a salmonelose, doença conhecida como salmonella, que pode ser transmissível para outros animais e humanos.
O Cetas Ponta Grossa foi inaugurado neste ano, através de uma parceria entre o IAT, órgão vinculado à secretaria estadual do Desenvolvimento Sustentável e do Turismo (Sedest), e o Instituto Klimionte, que conta também com o apoio da prefeitura local.
A salmonella é uma bactéria que causa intoxicação alimentar e, em casos raros, pode provocar graves infecções e até mesmo a morte. Os principais sintomas são de uma doença transmitida por alimentos, como vômito, dores abdominais, febre e diarreia, que geralmente duram alguns dias e diminuem em uma semana.
De acordo com o médico veterinário responsável pelo Cetas, a salmonelose é altamente contagiosa e, para os psitacídeos, pode ser letal. Os sintomas observados nos animais que positivaram para a doença foram apatia, anorexia, asas caídas, perda de peso, deformidade de bico e de penas, com mortes.
“A doença das aves se deu, principalmente, pelo ambiente em que elas eram mantidas, encontradas pela Polícia Rodoviária, dentro de um porta-malas, em caixas e gaiolas. A suspeita é que tenham passado mais de oito horas naquela condição, sem água, comida, ventilação e higiene”, disse.
Os animais estão em tratamento e mantidos em local isolado. A manifestação da doença segue em monitoramento.
TRÁFICO – A chefe do Setor de Fauna do IAT, bióloga Paula Vidolin, ressalta que estes papagaios-verdadeiros e periquitos-ricos, assim como tantos outros animais, são alvos do tráfico de animais silvestres. De acordo com ela, existem riscos e consequências para a prática ilegal, perigosos para a fauna e para a saúde para a população.
O tráfico de animais silvestres, além de caracterizar maus-tratos e comprometer toda a biodiversidade, é uma fonte de disseminação de doenças devido às péssimas condições de confinamento, higiene e de cuidados sanitários apropriados com os animais.
“O risco é tanto para a saúde humana como para a saúde animal. É uma das fontes de dispersão de doenças e, em alguns casos, apenas gotículas de urina ou saliva já são o suficiente para transmissões. Inclusive os animais silvestres podem também ser infectados por doenças humanas, gerando um problema sanitário bastante grave”, explicou.
Para o secretário estadual do Desenvolvimento Sustentável e do Turismo, Márcio Nunes, o tráfico de animais e os maus-tratos só existem porque tem quem compre desse mercado clandestino. “Quem adquire um animal sem origem legal e de cativeiros não regularizados está estimulando os maus-tratos e fomentando esse crime, o que pode ocasionar a disseminação de doenças como a salmonella”, disse.
Ele lembra que uma das atenções do Governo do Estado é com a saúde única, ou seja, um trabalho de cuidados e prevenção de zoonoses causadas no meio ambiente e que interferem na saúde humana.
“Diversas doenças são causadas por essa relação direta entre o homem e os animais silvestres. Por isso, fizemos um intenso esforço para firmar parcerias com instituições e inaugurar Cetas e Cafs (Centros de Atendimentos a Animais Silvestres). Além disso, existe uma forte parceria com a Polícia Ambiental para acabar com os cativeiros irregulares”, destacou.
COMBATE – No Paraná, o controle e a fiscalização de animais silvestres são feitos pelo IAT e pela Polícia Militar Ambiental-Força Verde. As denúncias do tráfico e comercialização ilegal de animais podem ser feitas anonimamente, pelos canais de denúncias 181 (do Batalhão de Polícia Ambiental-Força Verde) ou o escritório regional do IAT mais próximo.
De acordo com o comandante do Batalhão Ambiental, tenente-coronel Júlio César Vieira da Rosa, a unidade atua de forma preventiva e ostensiva, através do patrulhamento e denúncias.
“Quando constatamos uma situação de tráfico de animais silvestres, a equipe policial apreende o animal e o encaminha para o IAT. As pessoas que cometem esse tipo de delito são encaminhadas para a assinatura do Termo Circunstanciado e para a aplicação do Auto de Infração Ambiental (AIT), respondendo criminalmente e administrativamente”, explicou.
Os crimes contra animais silvestres são descritos no artigo 24 do Decreto Federal nº 6.514/2008. É crime matar, perseguir, caçar, apanhar, coletar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente. As penas variam entre detenção de seis meses a um ano, além de multa.
(AEN)