Com mais de 37.454 pessoas que contraíram a covid-19, das quais 36.350 são consideradas recuperadas, a Secretaria de Saúde de Cascavel estuda a implementação de um ambulatório exclusivo para tratamento de pacientes pós-covid-19 que ficaram com sequelas. O projeto chegou a ser anunciado pelo prefeito Leonaldo Paranhos há semanas, mas não saiu do papel.
O secretário da Saúde, Miroslau Bailak, admite ser expressiva a quantidade de pessoas que ficaram com sequelas graves e que precisam de atendimento especial. Os casos mais graves, explica, são tratados pelo Paid (Programa de Assistência e Internamento Domiciliar), mas há milhares sem assistência hoje. “A gente tem observado com muita frequência sequelas sérias de pacientes que passaram pela doença. Notamos que as pessoas desenvolveram problemas hematológicos, dermatológicos, mas, principalmente, problemas pneumológicos, cardiológicos e problemas musculares, além de neurológicos e psiquiátricos. Já estamos fazendo atendimento pós-covid pelo Paid, mas são aqueles casos mais graves. Temos neste momento 97 pacientes sendo atendidos pelo Paid em pós-covid, que utilizam oxigênio domiciliar. É um número muito grande, por isso precisamos de um ambulatório”, acrescenta.
O impasse ocorre sobre o local de instalação do ambulatório. O local “ideal” seria na ainda não inaugurada Unidade da Família FAG/Santo Inácio, na zona oeste de Cascavel. “Foi pensamento da secretaria utilizar aquela unidade básica que atende a população do Santa Cruz e está pronta, mas não podemos colocar em funcionamento porque a Lei Federal 173 impede a contratação de pessoal. Ou seja, não tem sentido deixar uma unidade pronta parada, às moscas, por isso, pensávamos em abrir ali, temporariamente, um ambulatório pós-covid”, resume.
Contudo, a decisão da secretaria esbarra em uma parcela da população do Bairro Santa Cruz, que exige que a unidade inicie o atendimento geral.
De acordo com um dos líderes locais e ex-presidente da Associação de Moradores do Bairro Santa Cruz Nilson Machado, os moradores não querem que a estrutura seja usada para ambulatório, mas que o posto de saúde seja inaugurado logo e que atenda a população em geral. “O povo está esperando a inauguração do novo posto de Saúde do Santa Cruz para o atendimento da população do bairro e não pós-covid. Não queremos outra coisa a não ser esse posto”, afirma.
Miroslau admite que essa situação gerou incômodo em alguns grupos políticos, contudo, neste momento, a abertura do ambulatório para o atendimento pós-covid seria o melhor a se fazer. “Eu sei que existem alguns grupos contrários, mas, nesse momento, não se pode ser contrário a uma coisa boa que a gente vai fazer para pacientes pós-covid”.
A ideia, segundo ele, seria usar a estrutura até janeiro, para não deixá-la parada. Nesse caso, os serviços seriam tocados por médicos do Cisop (Consórcio Intermunicipal de Saúde do Oeste do Paraná), que já teria até concordado com a iniciativa. “Não precisaremos de novos profissionais porque conseguimos custeio da Secretaria de Saúde do Paraná, e o serviço será feito pelo Cisop”.
De acordo com Airton Simonetti, diretor do Cisop, parte do público que já sofreu infecção por covid-19 vai precisar desse tipo de atendimento e, por isso, o consórcio colocou à disposição do município de Cascavel a estrutura técnica. “A gente sabe que existe um público que, depois do contágio, apresenta algum tipo de sequela e Cascavel está procurando atender de maneira mais especifica esse público. O Cisop foi sondado pelo Município e colocamos a estrutura à disposição.”