O começo da escolha por perpetuar a vida está na decisão por viver a vida como casal em vez de vivê-la solitariamente. Aqui, novamente, nos remetemos a Hellinger para destacar a importância dessa escolha: “A relação de casal é a vida realizada em plenitude. A criança, e mais tarde o adolescente, vai se desenvolvendo rumo à relação de casal; esta é a meta. Alguns vão crescendo em direção à relação de casal com grandes expectativas, expectativas justificadas já que a relação de casal, quando alcançada, é a época culminante da vida. Nela se desenvolve tudo” (Hellinger, B. Lograr el amor en la pareja, p.27).
“A relação de casal é a vida realizada em plenitude”, escreve Hellinger. Ela tem essa força de plenitude porque, unicamente por meio dela, a vida humana é capaz de se perpetuar. Sem a consumação do amor entre um homem e uma mulher, a vida simplesmente se extinguiria. Por sinal, a propósito da consumação do amor, Hellinger escreve: “A consumação do amor não está nas mãos do indivíduo, já que esta consumação do amor entre o homem e a mulher tem uma dimensão cósmica. Não se trata de um assunto particular, e sim que, neste ato, homem e mulher formam parte de um movimento cósmico que os ultrapassa em muito. A consumação tem êxito quando ambos se encontram englobados neste movimento” (Hellinger, B. Lograr el amor en la pareja, p.194).
O fato de a relação de casal ser a plenitude da vida implica que há um percurso a ser feito. O pleno está sempre no ponto derradeiro de um percurso. Onde está o começo desse percurso? É importante ter presente que todo desenvolvimento humano implica ultrapassar “umbrais”: à semelhança do que acontece quando passamos o umbral de uma porta, algo fica para trás e algo novo se descortina. Na vida, não tem como retornar ao que era. O novo, por sua vez, aparece na sua forma de possibilidade e de desafio. Qual é o primeiro umbral que ultrapassamos? Nossa vida começa no ventre da mãe. Nele nos desenvolvemos até um determinado estágio após o qual não “suportamos” mais este lugar e, literalmente, nos expulsamos do ventre materno. Depois que passamos esse umbral não tem mais como voltar. No entanto, novos umbrais nos esperam para serem ultrapassados.
O nascimento é o parâmetro do que acontece nas passagens seguintes: a partir de certo ponto, uma força interna nos move para seguir adiante, e, quando damos o passo, não há mais como retornar. Assim, passamos do umbral da infância para o da juventude. O umbral seguinte, da vida adulta, nos introduz na relação de casal: o matrimônio e a paternidade.
A entrada no umbral da paternidade-maternidade nos abre para um mundo de possibilidades, e de desafios. Por um lado, a possibilidade de esgotarmos o inteiro de nosso ser, de nos completar, de concluir tudo o que nos é possível ser. Por outro lado, os desafios do intercâmbio da própria vida com a vida de nosso parceiro e dos filhos. Voltaremos a tratar disso nas próximas postagens.
JOSÉ LUIZ AMES E ROSANA MARCELINO são terapeutas sistêmicos e conduzem a Amparar.
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