Policial

Operação Ostentação: grupo falsificava escrituras e até “matava” clientes

Ex-cartorários e piloto presos moravam em mansões e tinham carros de luxo; fraudes chega a R$ 10 milhões

Buscas também foram realizadas em um condomínio de luxo em Cascavel - Foto: Polícia Civil 
Buscas também foram realizadas em um condomínio de luxo em Cascavel - Foto: Polícia Civil 

Reportagem: Patrícia Cabral, com Celso Romankiv

Cascavel – Operação Ostentação. O nome escolhido pela Polícia Civil remete ao estilo de vida luxuosa que os suspeitos de um esquema de fraude e falsificação levavam em Cascavel e região. A operação foi deflagrada na manhã dessa quinta-feira (1º) em três municípios: Cascavel, Santa Tereza do Oeste e Lindoeste.

Os policiais cumpriram cinco mandados de prisão preventiva (quatro homens e uma mulher) e nove mandados de busca e apreensão, em nove endereços. Nas buscas, os policiais estiveram em um condomínio de luxo na Região do Lago, em Cascavel, e em cartórios de Santa Tereza do Oeste e em Lindoeste.

Dentre os envolvidos estão três ex-cartorários e um piloto de corrida de carros. “As fraudes chegam a R$ 10 milhões. Eles emitiam documentos para estelionatários como escrituras de terrenos, casas e apartamentos sem o conhecimento dos verdadeiros proprietários”, resume o delegado Rogerson Salgado, responsável pela operação. Outro “serviço” oferecido era a emissão de certidões de óbitos para criminosos escaparem da Justiça e ganhar vida nova.

Os investigados moram em residências em condomínios de luxo e possuíam carros avaliados em R$ 600 mil.

Segundo o delegado responsável pela Deccor (Divisão de Combate à Corrupção), Rogerson Salgado, seria difícil manter o patrimônio ostentado com a remuneração que recebiam. “Essa vida cheia de conforto e ostentação não condizia com os salários que eles recebiam [nos cartórios], de aproximadamente R$ 2 mil ao mês, fortalecendo ainda mais as suspeitas de fraudes”.

A investigação

O delegado contou que eles passaram a ser monitorados pelo setor de inteligência da Polícia Civil depois do pedido da 7ª Promotoria de Justiça de Cascavel que já investigava transferências fraudulentas de veículos e imóveis, lavagem de dinheiro e certidões de óbito falsas para criminosos, além das denúncias feitas por pessoas lesadas pelas ações dos suspeitos.

Foram identificadas situações de imóveis vendidos e escriturados sem que os proprietários tivessem efetuado a venda.

Já sobre as certidões, o esquema funcionava assim: o advogado apresentava à Justiça uma certidão de óbito do criminoso para que fossem encerradas as ações contra ele. Esse sujeito ganhava então vida nova, sem responder pelos crimes que havia cometido.

Foram apreendidos um carro esportivo de luxo Corvette, avaliado em R$ 600 mil, documentos, joias, celulares e vários computadores.

De acordo com o delegado, alguns lugares na cidade eram usados para lavagem do dinheiro, e, por isso, uma garagem de carros que foi fechada e mais de 40 veículos recolhidos, além de uma casa de carnes nobres. “Eles estão à disposição da Justiça, presos temporariamente por três dias na carceragem da Cadeia Pública de Cascavel, e vão responder por falsidade ideológica, associação criminosa e estelionato”, acrescenta o delegado.

Os suspeitos

O delegado Rogerson Salgado não informou o nome dos investigados que foram presos ontem. A reportagem apurou que um dos presos na operação havia assumido como cartorário interino no cartório em Santa Tereza depois que a antiga proprietária se aposentou. Ele e uma funcionária assinavam os documentos emitidos supostamente fraudulentos e foram afastados em março deste ano, quando teve início a investigação das irregularidades.

Os dois tinham ligação direta com outro preso, que é piloto e residia em um condomínio de luxo na Região do Lago, em Cascavel. Embora não possuísse registro como funcionário no cartório de Santa Tereza, estava sempre lá. Segundo a polícia, ele também participava das fraudes.

Outro detido trabalhava no Cartório de Registro de Lindoeste. O titular do cartório de Lindoeste, o cascavelense Paulo Mion, informou que o funcionário preso, Everton Luis Nonemacher, trabalhava no local como escrevente substituto havia cerca de dois anos e tinha certa convivência com o piloto preso, que disputa o Campeonato Brasileiro de Marcas.

Durante a entrevista, Mion contou que policiais estavam no cartório tirando cópia de alguns documentos e ele assegurou que nada de irregular havia sido cometido naquele cartório.