São Paulo – O aumento do otimismo do mercado permitiu que a Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, quebrasse um ciclo de três quedas seguidas para fechar com alta de 1,09%, aos 94.603,38 pontos nessa quarta-feira.
O mercado reagiu positivamente às declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre o Renda Cidadã e também em parte ao andamento nas negociações em torno de novos estímulos fiscais nos EUA, apesar das informações desencontradas de líderes políticos. Nesse cenário, o dólar também deu sinal de alívio e encerrou com queda de 0,37%, a R$ 5,6185.
O mercado reagiu bem à fala de Guedes, que apontou a criação de 249.388 vagas formais, no melhor agosto em dez anos. Além disso, os investidores também gostaram da informação de que o governo não irá usar a verba dos precatórios para bancar o Renda Cidadã, como havia sido sugerido na última segunda-feira (28), quando foi anunciado. “Precisamos de um programa social bem financiado, por receita permanente. Não pode ser financiado com puxadinho, ajuste”, disse o ministro.
No exterior, ajudou também a retomada das negociações entre governo e oposição por uma nova rodada de estímulos fiscais nos Estados Unidos, apesar do desencontro de informações.
De qualquer forma, a chance de um novo pacote de estímulos ajudou o mercado de Nova York. A Dow Jones fechou em alta de 1,20%, o S&P 500 subiu 0,82% e o Nasdaq teve ganho de 0,74%.
No mês
Apesar do ganho de ontem, o Ibovespa, principal índice de ações do mercado brasileiro, fechou o mês de setembro com perda de 4,80%, após retração de 3,44% em agosto. No trimestre, passou do positivo em julho (+8,27%) ao negativo em agosto e setembro, acumulando no intervalo de três meses leve perda de 0,48%, após salto de 30,18% no segundo trimestre. No ano, o índice cede agora 18,20%.
O dólar fechou setembro com valorização de 2,5%, segundo mês seguido de alta. Com isso, no ano, a moeda americana já sobe 40% e o real segue com o pior desempenho no mercado internacional, na frente da lira turca, onde o dólar tem alta de 30%.
Guedes diz que não vai usar “puxadinho” para o Renda Cidadã
Após a reação negativa do mercado financeiro à proposta de adiar o pagamento de dívidas judiciais (precatórios) e recorrer a dinheiro do Fundeb para financiar o Renda Cidadã, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse nessa quarta-feira que o programa social não pode ser financiado com um “puxadinho”. E reforçou compromisso com responsabilidade fiscal.
O ministro da Economia afirmou que o objetivo do governo, ao examinar o uso de dinheiro destinado ao pagamento de precatórios, é manter as despesas sob controle.
E afirmou que não vai usar recursos de precatórios para financiar o novo programa. Disse que fazia a declaração para “baixar o barulho”, em referência às críticas de agentes econômicos e políticos à proposta.
Guedes fez uma longa declaração de surpresa nessa quarta-feira, sem responder a perguntas de jornalistas. O ministro apareceu numa entrevista à imprensa de técnicos do ministério sobre o resultado da geração de empregos em agosto, claramente com a intenção de passar um recado.
“Nós temos que aterrissar esse auxílio emergencial em um programa social robusto, consistente e bem financiado. Financiado, como é uma despesa permanente, financiado por uma receita permanente. Não pode ser financiado com puxadinho, por um ajuste, não é assim que se financia o Renda Brasil. É com receitas permanentes”, disse o ministro, sempre chamando o programa de “Renda Brasil”, e não de “Renda Cidadã”, como outros integrantes do governo batizaram.
Indústria de precatórios
Apesar de sinalizar ser contra o uso de precatórios para financiar o Renda Cidadã, o ministro Paulo Guedes defendeu passar um pente-fino nessa despesa. Os precatórios são dívidas da União reconhecidas pela Justiça cujos credores aguardam o pagamento.
Para Guedes, “aparentemente há uma indústria de precatórios no Brasil”, porque essa despesa, segundo ele, saiu de R$ 10 bilhões no Governo Dilma Rousseff para R$ 54 bilhões na gestão Bolsonaro.
“É um crescimento galopante. Estamos examinando com foco em controle de despesa. Nós sabemos que precatórios são dívidas líquidas e certa, transitado em julgado. Ninguém vai botar em risco a liquidação do governo brasileiro. O governo vai pagar tudo. Agora, o governo tem que examinar quando tem despesas crescendo explosivamente. Não para financiar programas, porque aquilo não é uma fonte saudável, limpa, permanente, previsível. É natural que tenhamos que passar uma lupa em todos os gastos para evitar propostas de romper teto”.